‘Braços Cruzados, Máquinas Paradas’, um registro histórico da luta operária sob a ditadura

POR TATIANA CARLOTTI
Em 1978, o Brasil amargava 14 anos de repressão militar. A ditadura havia sufocado sindicatos, perseguido lideranças combativas e colocado em postos chaves os dirigentes pelegos, alinhados à repressão.
As últimas grandes greves, ocorridas uma década antes, tinham sido brutalmente reprimidas, e o clima político no país, marcado pelo AI-5, impunha um cerco de medo e paralisia ao movimento operário.
É neste cenário que aconteceram as eleições para presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, o maior da América Latina, com 400 mil associados, disputado por três chapas.
Presidido desde 1965 pelo pelego Joaquim dos Santos Andrade, conhecido como Joaquinzão, a eleição se transformou em um grito contra a ditadura militar e as práticas de assistencialismo e de delação de operários combativos às empresas e órgãos da repressão.
A Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo articulou comissões de fábrica e inter-fábricas na disputa do sindicato, atuando contra a ditadura e em defesa da categoria.
Lançado em 1979, em plena ditadura, “Braços Cruzados, Máquinas Paradas”, de Roberto Gervitz e Sérgio Toledo, é um registro histórico daquele período de forte resistência do sindicalismo brasileiro.
Trabalhadores que jamais haviam participado de uma paralisação, muitos recém-chegados ao mundo do trabalho, enfrentaram com coragem o autoritarismo vigente, reacendendo a resistência no coração da indústria brasileira.

O filme conta essa história, mostrando as articulações sindicais e as mobilizações operárias nas fábricas, tornando-se o primeiro longa-metragem a tratar das greves metalúrgicas de São Paulo após o AI-5.
Seu impacto vai além da denúncia, ele registra o início de uma virada histórica que culminaria, décadas depois, na eleição do primeiro presidente operário da América Latina.
Vencedor do Prêmio Especial do Júri no Festival Internacional de Leipzig (Alemanha Oriental, 1979), “Braços Cruzados, Máquinas Paradas” é o testemunho da força da classe trabalhadora em nosso país.
Um documentário histórico à disposição de tod@s na Fatoflix.

Repórter do Fórum 21 desde 2022, com passagem por Carta Maior (2014-2021) e Blog Zé Dirceu (2006-2013). Tem doutorado em Semiótica (USP) e mestrado em Crítica Literária (PUC-SP).