Dica Fatoflix: Repare Bem e Ainda Estou Aqui

Dica Fatoflix: Repare Bem e Ainda Estou Aqui

Dois grandes filmes, separados por mais de uma década, que emocionam, envolvem, esclarecem e prestam uma contribuição inestimável à democracia e aos direitos humanos no Brasil. Se você já viu Ainda Estou Aqui (caso não, corra logo) não pode deixar de assistir também ao documentário Repare bem, que conta a história do jovem militante Eduardo Leite “Bacuri”, assassinado barbaramente pela mesma ditadura que matou Rubens Paiva. O filme está lhe esperando gratuitamente na Fatoflix. Não perca.

POR TATIANA CARLOTTI

Ainda Estou Aqui, o premiado filme de Walter Salles, conquistou um feito inédito: o de levar mais de três milhões de brasileiros a refletirem sobre a ditadura militar no Brasil (1964-1985), o que é um feito em tempos de ataque à democracia pela extrema-direita.

O filme traz a saga de Eunice Paiva, esposa do ex-deputado Rubens Paiva assassinado pelo Estado ditatorial; e inova na abordagem das violações aos direitos humanos. Salles sai da sala de tortura e entra na casa desta família para mostrar como a violência de uma ditadura transforma a vida das pessoas.

O aconchego e a felicidade familiar construída na primeira parte do filme captura, de imediato, o coração do público. Essa felicidade, porém, é substituída pelo pavor e a dor, após o sequestro do ex-deputado em janeiro de 1971.

Embora não foque na luta armada, o terror de Estado é onipresente e a tortura é posta sob a forma de sugestão. Eunice ouve gritos de sua cela e imagina o que aconteceu com o marido, as janelas da casa se fecham, o medo grassa na sala de jantar invadida pelos agentes da ditadura.

Fernanda Torres faz de sua Eunice a expressão da resiliência dos familiares dos presos e assassinados políticos no Brasil. A arte da contenção, que a premiaria com o Globo de Ouro, no entanto, ganha o ápice na interpretação monumental – sem nenhuma fala, só com o olhar! – de Fernanda Montenegro na última cena do filme.

Sucesso de público e de arrecadação, Ainda Estou Aqui angariou mais de 70 milhões de reais e se tornou o mais recente e contundente exemplo de como a 7ª. Arte pode conscientizar as pessoas e, inclusive, influenciar os rumos políticos e ideológicos de um país.

O discurso do presidente Lula no evento em 8 de Janeiro, data que marca a intentona golpista dos bolsonaristas, começa com uma menção ao filme:

Hoje é dia de dizermos em alto e bom som: Ainda estamos aqui. Estamos aqui para dizer que estamos vivos, e que a democracia está viva, ao contrário do que planejavam os golpistas do 8 de janeiro de 2023.

Estamos aqui – mulheres e homens de diferentes origens, crenças, partidos e ideologias – unidos por uma causa em comum. Estamos aqui para dizer: Ditadura nunca mais. Democracia sempre.

Estamos aqui para lembrar que, se estamos aqui, é porque a democracia venceu. Caso contrário, muitos de nós talvez estivessem presos, exilados ou mortos, como aconteceu no passado e não permitiremos que aconteça outra vez.

Um posicionamento que encontra, diante do ambiente emocionado com o filme e embalado pela premiação, o apoio necessário para reforçar novas iniciativas e ações do governo.

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Repare Bem está na Mostra Direitos Humanos e Memória da Fatoflix

Clique aqui e confira a mostra

Como Ainda Estou Aqui, uma série de filmes disponibilizadas na Mostra Direitos Humanos e Memória aborda a ditadura militar, dando foco a trajetórias familiares, como a da família Crispim.

Em Repare Bem, documentário da cineasta Maria de Medeiros, é possível conhecer a saga de Denise Crispim, companheira de Eduardo Leite, mais conhecido como “Bacuri”, de sua filha Eduarda Crispim Leite e sua mãe, Encarnación Lopez Perez.

Denise é filha de Encarnación e do ex-sargento do Exército, José Maria Crispim, que atuava com a família na VPR. Bacuri e o irmão de Denise, Joelson, foram assassinados pelo Estado brasileiro. Ela estava grávida de seis meses de Eduarda quando foi presa e torturada.

Repare Bem conta a história dessa família com foco em três gerações de mulheres – Encarnación, Denise e Eduarda –, alternando depoimentos e imagens de época que trazem os sonhos, a luta, a clandestinidade, o exílio, as heranças e necessidade de reparação.

O filme é de 2012, ano em que se instituía no país, sob o governo Dilma Rousseff, a Comissão Nacional da Verdade.

Não deixem de conferir Repare Bem e aproveitar o sucesso de Ainda Estou Aqui para indicar os filmes da Mostra de Direitos Humanos e Memória. Pelo bem da Democracia e para isolar e derrotar politicamente a extrema-direita.

A hora é agora.

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