Minicurso Fatoflix – Direitos Humanos e Memória: A verdade histórica vem à tona

Minicurso Fatoflix – Direitos Humanos e Memória: A verdade histórica vem à tona

– A ELITE QUE FINANCIOU A DITADURA
– ADVOGADOS QUE SALVARAM VIDAS
– A IMPACTANTE DESCOBERTA DA VALA DE PERUS


POR TATIANA CARLOTTI

A FATOFLIX encerra 2024, seu ano de estreia, superando as expectativas. Entre 15 de agosto e 15 de outubro, nossa plataforma registrava 536 pessoas cadastradas. Agora, em meados de dezembro, somos mais de 6 mil usuários usufruindo e disseminando o seu conteúdo de qualidade.

Como explica o jornalista Carlos Tibúrcio, à frente desse projeto, “a Fatoflix é uma contribuição relevante para o campo democrático progressista brasileiro. É uma plataforma de streaming como as outras (Netflix, GloboPlay, a Prime), mas gratuita e dedicada à formação cultural, política e à defesa da democracia e das conquistas sociais, um embrião de resistência ao streaming milionário da extrema-direita”.

“Todos os filmes e documentários que a curadoria da Fatoflix seleciona e coloca à disposição na plataforma têm esse objetivo”, frisou durante uma entrevista a Alexandre Santos, do Canal Arte Agora. O resultado desse esforço é um acervo de primeira linha e inteiramente gratuito, que se encontra à disposição para o bom combate de ideias na sociedade civil.

Já realizamos quatro mostras: “Cidades e Cidadania”, “Comunicação e Cinema”, “Geopolítica em Foco” e a mais recente “Direitos Humanos e Memória”. Todos os filmes e documentários acompanhados, além do trailer, por vídeos de um minuto, destacando questões decisivas, que justificam porque devem ser assistidos, os FatoGuias.

Além dessas orientações, Fatoflix também apresenta uma série de MiniCursos (confira todos), para que formadores de opinião, professores, militantes e entidades e movimentos sociais possam organizar ações de formação política, montar Cineclubes Digitais, desenvolvendo debates nas comunidades e outras iniciativas.

Neste último minicurso do ano, em meio à urgente necessidade de fortaleceremos as bases da democracia, os filmes da mostra sobre a memória e a verdade históricas são uma base sólida contra a desinformação e mentiras da extrema-direita.

Abaixo, três produções de tirar o fôlego que nos permitem debater:

  1. Como as elites econômicas financiaram e se beneficiaram do estado de terror e da tortura durante a ditadura militar.
  2. A resistência aguerrida dos advogados que enfrentaram o arbítrio e salvaram vidas nos tribunais da repressão.
  3. A descoberta das ossadas na Vala Clandestina de Perus e a luta dos familiares dos mortos e desaparecidos políticos contra o silenciamento dos fatos.


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MINICURSO FATOFLIX – MOSTRA DIREITOS HUMANOS E MEMÓRIA

  1. A ELITE QUE FINANCIOU A DITADURA

Cidadão Boilesen
Chaim Litewski, 2009
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O documentário de Chaim Litewski é um dos mais contundentes e corajosos documentos à disposição da sociedade civil sobre o envolvimento da elite empresarial brasileira no financiamento da tortura e da repressão à luta armada durante a ditadura militar no Brasil.

O longa conta a atuação do empresário dinamarquês Hanning Albert Boilesen, então presidente do Grupo Ultra (responsável pela Ultragaz), cujo sadismo é mencionado em vários depoimentos, incluindo sua presença voluntária nas salas de tortura e até a invenção de um aparelho de tortura, a pianola.

Através da trajetória do sádico dinamarquês e após 16 anos de investigações, Litewski escancara a estreita ligação política e econômica entre civis e militares no combate à luta armada, mostrando como se dava o financiamento dos órgãos de tortura pelos empresários brasileiros, com foco na criação da Operação Bandeirantes (Oban) em 1969, em São Paulo.

Em 2009, o filme ganhou o prêmio de melhor documentário do Festival É tudo Verdade. Não à toa, Litewski reúne um vasto material iconográfico, documentos até então inéditos e secretos e dezenas de depoimentos, tanto das vítimas da repressão como de seus algozes.

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Participam, entre outros, Dom Paulo Evaristo Arns, Jacob Gorender, Celso Amorim, Fernando Henrique Cardoso, vários militantes e ex-presos políticos, além de figuras como o ex-secretário de Segurança Pública de São Paulo, Erasmo Dias; o ex-governador Paulo Egydio Martins; o torturador Brilhante Ustra.

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2. OS ADVOGADOS QUE SALVARAM VIDAS

Os Advogados contra a Ditadura: por uma questão de justiça
Silvio Tendler, 2014
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Em 1969, eu estudava direito na PUC-RIO. Estava na aula de introdução à Ciência do Direito quando li uma pequena notícia no jornal que dizia ´Presos os advogados de presos políticos´. Saí da sala, abandonei o direito e decidi ser cineasta. Com este filme, homenageio a todos os advogados brasileiros que permaneceram por todos esses anos, lutando por justiça e liberdade”.

Com esta introdução, Silvio Tendler apresenta um documentário impactante sobre a verdadeira guerra travada pelos advogados brasileiros que, durante o golpe de 1964, viram-se historicamente convocados a defender os direitos e as garantias dos presos políticos.

O documentário ouve esses advogados que contam como atuaram nas brechas do regime militar em um contexto de pressões e ameaças, de ilegalidades e violações aos direitos humanos permanentes e de destruição das garantias e direitos no país.

Realizado em parceria com o projeto Marcas da Memória, da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, o documentário está ancorado em vários estudos, como os livros “Advogados e a Ditadura de 1964 – A defesa dos perseguidos políticos no Brasil” (PUC, 2010), de Fernando Sá, Oswaldo Munteal e Paulo Emílio Martins; e “Advocacia em Tempos Difíceis”, de Paula Spieler e Rafael Mafei Rabelo Queiroz, disponível online com longas entrevistas e a trajetória destes verdadeiros heróis do Judiciário brasileiro.

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3. A IMPACTANTE DESCOBERTA DA VALA DE PERUS

Cena de Vala Comum de João Godoy

Vala Comum
João Godoy, 1994
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O documentário de João Godoy é eletrizante. Ele registra, no calor da hora, o processo de descoberta, em setembro de 1990, das 1.049 ossadas encontradas na vala comum do cemitério Dom Bosco, no bairro de Perus, na capital paulista.

Com as ossadas e a posterior confirmação da identidade dos restos mortais de presos políticos, a descoberta trazia a público a ação dos militares para desaparecer com os corpos dos militantes assassinados nos órgãos oficiais de tortura. 

O cemitério, onde as ossadas foram encontradas, foi criado durante a gestão Paulo Maluf, ainda durante a ditadura militar, o que evidencia a normalização das violações cometidas. Foram anos de silenciamento até a cova ser aberta nos anos 1990, graças à pressão dos familiares e a um convênio firmado pela então prefeita Luiza Erundina (São Paulo) com a Unicamp.

Com sensibilidade e em meio às descobertas daquele momento, Godoy conta a história dos crimes por trás da Vala de Perus, entremeando imagens de época com depoimentos dos familiares dos mortos e desaparecidos políticos. O filme, aliás, é um elogio à coragem, resiliência e luta permanente desses familiares em busca da verdade e do direito de enterrarem seus entes queridos.

Foi vencedor de vários prêmios entre 1994 e 1995 (Festival de Brasília, Cine Ceará, Festival de Cuiabá, Festival de Bilbao – Espanha, entre tantos outros).

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Foto de capa: Reprodução: cena de Cidadão Boilesen, de Chaim Litewski.

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