MiniCurso Fatoflix: Mostra Direitos Humanos e Memória – Heróis brasileiros que a ditadura assassinou

MiniCurso Fatoflix: Mostra Direitos Humanos e Memória – Heróis brasileiros que a ditadura assassinou

IARA IAVELBERG – COMO A DITADURA SILENCIOU A VERDADE DOS FATOS
OSVALDÃO – SONHOS E REALIDADE NA GUERRILHA DO ARAGUAIA
CARLOS MARIGHELLA – DA POLÍTICA À LUTA ARMADA

Por Tatiana Carlotti

O ano de 2024 termina com uma promessa: a de vermos os golpistas de 8 de Janeiro atrás das grades. 37 indivíduos planejaram e executaram, sem sucesso, um golpe militar que incluiria o assassinato do presidente Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro do STF, Alexandre de Morais.

Prender as viúvas da ditadura como o general Augusto Heleno, o clã Bolsonaro e os entusiastas do arbítrio, para além do simbolismo e de seu impacto didático, significa conter uma ameaça.

Uma ameaça concreta que será, efetivamente, enfraquecida quando o campo progressista e democrático realizar a missão histórica de fazer com que a totalidade dos 210 milhões de brasileiros repudiem, com veemência, as ditaduras.

Isso depende de uma ampla divulgação da verdade dos fatos, foram mais de 21 anos de violência, seguidos de décadas de pressão e silenciamento. E do combate de uma verdadeira ditadura econômica que também mata, desabriga, deprime e traumatiza as pessoas.

Oito anos já se passaram desde que os entusiastas do A-5 saíram de suas barulhentas kombis, nas passeatas do “Fora Dilma”, para desvirtuar uma multidão de descontentes, alijados dos fatos, que vimos avançar contra os prédios públicos na Praça dos Três Poderes.

Foi contra as duas ditaduras, a militar e a da desigualdade econômica, que uma leva de jovens, impulsionados pelo espírito revolucionário de seu tempo, pegaram em armas em defesa da justiça social, das liberdades individuais e coletivas e, sobretudo, da vida de colegas, familiares e amigos que estavam sendo massacrados pelo estado de terror naquele momento.

O Minicurso Fatoflix desta semana, no escopo da Mostra Diretos Humanos e Memória, traz a história, os sonhos, a ética, a coragem de três heróis brasileiros que não se dobraram nem às elites, nem aos ditadores.

Trajetórias de vida que devem ser divulgadas e debatidas em salas de aula, em sessões com os amigos, em cursos de formação política e na formação de cada um de nós. São filmes que, para além dessas histórias, nos permitem observar:

  1. Como a ditadura militar silenciou, por décadas, a verdade dos fatos.
  2. Os sonhos e a realidade da mais famosa guerrilha no período, a Guerrilha do Araguaia.
  3. Os motivos que levaram uma grande liderança política a se transformar em um dos maiores combatentes da luta armada.

Nos atuais tempos de fortalecimento da democracia, a memória e a verdade histórica são a nossa melhor munição contra o fascismo.

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MINICURSO FATOFLIX – MOSTRA DIREITOS HUMANOS E MEMÓRIA

1 – COMO A DITADURA SILENCIOU A VERDADE DOS FATOS

    Em busca de Iara
    Flávio Frederico, 2014
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    Este filme-documentário de Flávio Frederico conta a trajetória da psicóloga e professora Iara Iavelberg, ícone da luta armada contra a ditadura militar. Nascida numa rica família judia de São Paulo, Iara rompeu com as convenções de seu tempo ao se separar aos 19 anos de idade e entrar para a militância política e para a luta armada.

    Ela atuou na Organização Revolucionária Marxista Política Operária (Polop), na Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e no Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8). Teve como companheiro Carlos Lamarca, comandante da VPR, que conheceu em abril de 1969, dois meses após ele desertar do Exército. A paixão foi fulminante e o casal se tornou um dos mais procurados pela ditadura, com fotos espalhadas por todo o país. Leia as cartas de Lamarca a Iara no site Documentos Revelados.

    O filme, com roteiro de sua sobrinha Mariana Pamplona, além de acompanhar as escolhas de Iara e de resgatar o seu papel na luta armada, desmonta a versão oficial da ditadura sobre sua morte. Segundo a versão oficial, Iara teria se matado, aos 27 anos, em agosto de 1971, em Salvador.

    A versão foi contestada desde o início por seus familiares, que iniciaram uma batalha judicial solicitando a exumação do corpo de Iara. E a mentira foi desmontada por uma investigação, liderada pelo professor da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em medicina legal, Daniel Muñoz.

    Veja Também:  Em busca da Justiça e da Verdade

    Ele concluiu que o tiro mortal de Iara foi disparado de uma longa distância, descartando a hipótese de suicídio. Em 2003, após anos de negativas, mais de trinta anos depois, os restos mortais de Iara puderam ser removidos da ala de suicidas do cemitério judaico e foram enterrados perto do túmulo de seus pais.

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    2 – SONHOS E REALIDADE NA GUERRILHA DO ARAGUAIA

    Osvaldão
    Ana Petta, André Michiles, Fabio Bardella e Vandré Fernandes, 2014
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    Com direção de Ana Petta, André Michiles, Fabio Bardella e Vandré Fernandes, Osvaldão conta a trajetória do militante comunista Osvaldo Orlando da Costa, comandante da Guerrilha do Araguaia, ocorrida no final dos anos 60 e meados dos 70, ao longo do rio Araguaia, no Norte do Brasil.

    Campeão carioca de boxe na juventude, Osvaldão se tornou membro do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e viajou pelo mundo, realizando seus estudos na Universidade de Praga, na Tchecoslováquia. Após o Golpe de 64, obrigado a cair na clandestinidade, foi o primeiro a chegar na região do Araguaia, em 1966, onde se estabeleceu como garimpeiro, caçador e mariscador.

    Generoso e corajoso, Osvaldão ganhou o afeto e a admiração da população local, que tinham nele um defensor e um herói. Não demorou e lendas e mitos surgiram em torno de sua figura. Ele foi assassinato pelo Exército brasileiro em 1974 e chegou a ter um filho com a ribeirinha Maria Viana. Aos quatro anos, a criança foi sequestrada, levando à morte da mãe uma semana depois, por enfarte.

    O documentário conta com narração de Criollo, Leci Brandão, Antonio Pitanga e Flávio Renegado e reúne depoimentos dos que conviveram com Osvaldão, incluindo companheiros de luta, amigos e os moradores do Araguaia, além de arquivos de época. Um documentário que permite a compreensão do que foi a Guerrilha do Araguaia e, também, a brutalidade da repressão contra os militantes e a população local.

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    3 – DA POLÍTICA À LUTA ARMADA

    Marighella: retrato falado do guerrilheiro
    Silvio Tendler, 2001
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    O terceiro e último filme deste minicurso traz a história de um dos maiores líderes políticos do Brasil: o político comunista baiano Carlos Marighella, que passou a vida lutando no campo da política institucional, mas que frente à ausência de saídas, viu-se obrigado a pegar em armas contra o arbítrio.

    Foram 33 anos de militância no Partido Comunista Brasileiro, o PCB, antes de fundar a Ação Nacional Libertadora (ANL), principal braço armado contra a ditadura militar, em 1968. Ele tinha apenas 57 anos, quando foi executado em 4 de novembro de 1969, em um fusca na altura do número 800, na Alameda Casa Branca, em São Paulo.

    Neste filme, Silvio Tendler conta a história deste herói nacional, com arquivos de época, depoimentos e a partir do legado de Marighella em seus vários textos. O resultado é um retrato do líder comunista em várias facetas: a de professor, poeta e intelectual, a de político e deputado comunista, a de romântico e guerrilheiro e, sobretudo, a do homem Carlos Marighella.

    Marighella escreveu a vida inteira sobre suas ideias políticas, em “Por que resisti à prisão?”, ele escreve sobre o golpe de 64:

    “A abrilada surgiu como um movimento anticomunista e antimarxista, a pretexto de combater uma fantástica ditadura que estaria para ser implantada pelos comunistas no país. Por uma ironia da história, os comunistas, agora acusados de subversão, defendiam a democracia burguesa, interessados que são na permanência de um clima de liberdade e na conquista da legalidade para o Partido Comunista (…)

    O golpe que destruiu as liberdades no Brasil sobreveio a 1º de abril. Não foi desencadeado pelos comunistas e, sim, pelos “gorilas”, que implantaram a ditadura – ou seja, o fim da ordem constitucional burguesa estabelecida em 1946”. 

    Seus escritos principais estão reunidos em Carlos Marighella: Chamamento ao povo brasileiro (UBU, 2019), organizado pelo professor Vladimir Safatle. Uma obra fundamental.

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