NOVA MOSTRA FATOFLIX: Economia Pé no Chão

NOVA MOSTRA FATOFLIX: Economia Pé no Chão


Sob curadoria do economista Ladislau Dowbor, nova mostra traz a economia sob o novo prisma: voltada para a felicidade das pessoas.
Clique aqui e assista!

Começa neste sábado, dia 15 de março, a nova mostra da Fatoflix “Economia Pé no Chão”, com curadoria do economista, intelectual e professor Ladislau Dowbor, um entusiasta de primeira hora da Fatoflix. Ela acaba de lançar “Os Desafios da Revolução Digital” (Elefante, 2025) sobre a nova ordem econômica que emerge a partir das novas tecnologias, onde defende que o termo “capitalismo” já não serve para descrever o atual sistema.

Para a nossa mostra, Dowbor selecionou documentários que tratam dos principais desafios em curso: a crise climática, a desigualdade social e a farra das grandes corporações econômicas, apontando caminhos. Além disso, ele disponibilizou dois vídeos curtos (muito didáticos) de 15 minutos para que as pessoas entendam como funciona a economia; e dois cursos online: o Pedagogia da Economia e o Pão Nosso de Cada Dia, ministrados para o Instituto Paulo Freire, à disposição para serem usados para a formação individual ou coletiva.

A visão de Dowbor é sistêmica, sua compreensão dos processos econômicos está correlacionada aos processos sociais, históricos e geopolíticos. Professor desde muito jovem, ele tem o dom da palavra e uma admirável capacidade de tornar o complexo algo inteligível e com sentido para as pessoas. Isso tudo se soma a uma sensibilidade social e um humanismo que marcam seus mais de 50 livros (todos disponíveis em dowbor.org) e a luta de uma vida inteira dedicada à justiça social, à democracia e à liberdade. Afinal, como ele gosta de questionar, “pra que serve a economia?”

Fatoflix agradece imensamente a Dowbor, à Produtora Brasileira e ao IDEC pela concessão dos filmes da nossa Mostra.

Confira seu texto de abertura desta mostra:


ECONOMIA PÉ NO CHÃO

POR LADISLAU DOWBOR

Organizamos uma mostra de filmes, curtas, documentários sobre a economia. A primeira reação das pessoas é que é um assunto chato e complicado. Na realidade, entender como funciona ajuda imensamente na organização das nossas vidas. E não é complexo, basta um pouco de bom senso. Por exemplo, “Entenda a Economia em 15 Minutos” permite às pessoas entender o básico, o ciclo econômico, e mais de meio milhão de pessoas já assistiram. Não precisa ser economista: se trata do nosso dinheiro, dos juros que enfrentamos, dos preços que pagamos. Entender a economia em geral é tão importante como fazermos as contas na nossa casa. E vale a pena.

Um exemplo: no Brasil, 70 milhões de adultos estão inadimplentes, não conseguem pagar os juros das suas dívidas, e se afundam em mais dívida. Na televisão lhes explicam que deveriam ser mais responsáveis. Na realidade, os juros que as famílias pagam são em média acima de 50% ao ano, quando na Europa, por exemplo, estão na faixa de 4% ao ano. Não à toa as pessoas estão atoladas, e quem deveria ser responsável são os banqueiros, por terem se tornado agiotas. A agiotagem (usura) foi proibida na Constituição de 1988, definindo como crime cobrar mais de 12% ao ano. Os banqueiros conseguiram tirar o artigo da Constituição, e continuam a praticá-la. Não é você que deixa de pagar os juros que é criminoso, são os que os cobram. Em vez de respeitar a lei, tiraram a lei, e o crime se tornou legal. E nos atolam em dívidas, sobre dívidas.

Entender como funciona o dinheiro, neste sentido, é fundamental. O dinheiro sobre os quais os banqueiros cobram esses juros não é deles, é dos nossos depósitos. E para desorientar as pessoas, apresentam os juros ao mês, em vez de ao ano. Somos o único país a utilizar juros ao mês, e as pessoas não sabem calcular o juro composto real, ao ano, para poder comparar. Recebi no meu SMS, do Santander, do qual não sou cliente, uma mensagem invasiva, que transcrevo: “Ladislau, se você está no sufoco, a sua taxa de juros baixou para 5,9% a.m.” Mas só até o dia 31, portanto uma “oportunidade”. Não pedi essa mensagem, e meu celular é particular, pago por ele. Mas calculei que 5,9% ao mês equivale a um juro de 100%. Por isso apresentam “ao mês”.  Na França juros acima de 8% ao ano são simplesmente proibidos.

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A economia pode parecer complicada porque é um ciclo, um movimento, não uma coisa estática. O dinheiro que conseguimos se transforma em consumo, e as empresas ganham vendendo mais, e geram mais emprego, o que gera mais dinheiro nas famílias. O imposto que pagamos gera recursos públicos, que financiam o asfalto na rua, as infraestruturas em geral, e as políticas sociais, como saúde, educação, segurança e semelhantes. Entender o ciclo ajuda imensamente a entender a economia em geral. Em vez de você se sentir culpado porque não entende o mercado financeiro, vai passar a entender quem são os culpados. E vai poder brigar pelo que é seu.

A economia faz parte essencial da nossa vida, e é impressionante que não tenhamos uma só aula sobre como funciona, em todo o ciclo escolar. Isso gera um grau de desinformação que permite essas imensas falcatruas. Muito além do dinheiro, os vídeos apresentam soluções práticas. Por exemplo, em grande parte do mundo as terras em volta das cidades são dotadas de um “cinturão verde” hortifrutigranjeiro, que gera alimento fresco, empregos, pequena indústria de transformação e acondicionamento, e uma economia local vibrante, além de alimento fresco nas nossas mesas. Isso é estimulado e organizado na Europa, na China e em tantos países. Aqui, em grande parte, como os terrenos em volta das cidades se valorizam, as imobiliárias as compram, e esperam a sua valorização: não usam nem deixam usar. Enriquecem sem produzir, inclusive travando a produção. São coisas práticas que precisamos entender, e quando mais pessoas entenderem, teremos a pressão política necessária.

O essencial é que o desconhecimento dos mais elementares dados da economia permite que a grande mídia comercial nos alimente com narrativas econômicas, que fale mal do governo (sempre gera audiência), enquanto cala sobre os gigantescos drenos econômicos que são os juros dos bancos, os dividendos das corporações, os crediários do grande comércio, a desinformação e manipulação dos marqueteiros. Aliás, essa grande mídia comercial vive precisamente da publicidade e da desinformação.

Quando vemos um filme na TV, “gentilmente oferecido” por uma empresa, esquecem de dizer que esta publicidade que interrompe o filme tem um custo, que está incluído no preço dos produtos que compramos. Essa gentil oferta sai dos nossos bolsos.  A última coisa que as elites deste país querem, é que as pessoas entendam como estão sendo depenadas. Você já viu alguma escola explicar como funciona o dinheiro, o crédito, o emprego? Daí a ideia de uma “Pedagogia da Economia”. Aproveite, veja os vídeos, e torne-se um multiplicador.

Temos igualmente de entender as profundas transformações que geram as novas tecnologias, a conectividade online, a apropriação discreta das nossas informações pessoais, o dreno financeiro do país através do dinheiro virtual, as oportunidades e ameaças da Inteligência Artificial. O mundo está mudando de maneira acelerada, estamos cada vez mais presos às teclas e telinhas, mais do que às máquinas e à terra. São mudanças estruturais, e vale a pena acompanhar através de documentários em vídeo, que constituem apresentações densas, e bem preparadas.

O esforço da Fatoflix vem neste sentido disponibilizando uma quantidade de filmes, vídeos, curtas de diversos tipos que têm como denominador comum de nos levar não para contos de fada, mas para o funcionamento real da sociedade. Nesta era da multimídia, trata-se de um aporte fundamental, e são ferramentas que nos enriquecem a todos. Aqui, nessa mostra, focamos em material que esclarece como funciona a economia, mas evidentemente a Fatoflix traz material nos mais variados setores. São ferramentas para todos nós, para professores, para movimentos sociais, para curiosos.


OS FILMES DA MOSTRA

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