Programas – de 24 a 31 de janeiro

*Nem uma palavra, nem uma imagem do isolamento, da perseguição aos palestinos, de bombardeio, mortes e feridos pelas forças militares do estado de Israel na cobertura da mídia corporativa ‘ocidental’ (des)informando sobre ações na Cisjordânia após o cessar-fogo em Gaza. Vergonha.
*”Mas será que isso significa o fim da violência ou é mais um intervalo em meio ao genocídio do povo palestino?”, indaga Ualid Rabah, presidente da FEPAL, a Federação Árabe Palestina do Brasil, em entrevista à Revista Diálogos do Sul Global. Ele destaca, com razão: “Não adianta falar em cessar-fogo sem o fim da ocupação. É preciso garantir o reconhecimento do Estado Palestino e a liberdade do povo palestino”.
*Dia 20 de março, domingo de carnaval, todos nós estaremos torcendo para Ainda Estou Aqui ganhar o Oscar pelas suas indicações ao prêmio maior e mais popular da indústria cinematográfica. Se não receber um deles, que receba dois prêmios. Se não receber dois, que receba estes três Oscars: Melhor Filme do Ano, Melhor Filme em Língua Estrangeira e, sem dúvida, o prêmio de Melhor Atriz, para Fernanda Torres.
*De tanto e de tudo que vem sendo publicado sobre o belo filme de Walter Salles, com o roteiro de Murilo Hauser e Heitor Lorega e trilha sonora e musical perfeitas, uma pequena e singela frase do ator mineiro Selton Mello (que faz Rubens Paiva), em entrevista na TV, diz tudo sobre a comoção que o terremoto do filme está provocando entre nós todos: “Estava na hora de limparmos o lixo que ficou debaixo do tapete”. Selton se referia ao esquecimento fácil e frívolo do que foi a ditadura civil-militar vivida neste país a partir de 1964.
*Para lembrar: a trilha sonora de Ainda Estou Aqui conta com sucessos de época. Entre eles, “A Festa do Santo Reis”, com Tim Maia; “Falsa Baiana”, de Gal Costa; com destaque de “É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo”, de Erasmo Carlos; “Fora da Ordem”, de Caetano Veloso; “As Curvas da Estrada de Santos”, com Roberto Carlos; “Take Me Back to Piaui”, com Juca Chaves; e “Baby”, de Os Mutantes.
*A corajosa bispa Mariann Edgar Budde, da Catedral Nacional de Washington, diante da repercussão mundial de sua recente fala, com calma e civilidade, olho no olho e se dirigindo a Donald Trump, sentado diante dela, pedindo clemência aos imigrantes: “Não sinto que haja necessidade de me desculpar por um pedido de misericórdia. Decidi pedir a ele o mais gentilmente possível que tivesse misericórdia”, afirmou.
*Leitura para o momento atual: o livro clássico de Sinclair Lewis, Não Vai Acontecer Aqui (It Can’t Happen Here), com tradução de Cássio de Arantes Leite, cenário da época da Grande Depressão e do ascenso de Hitler ao poder. O tema é mais do que oportuno: um presidente eleito nos EUA com o voto dos que sentiam medo, ódio e anunciavam soluções patrióticas, de repente, em um autogolpe, se vê instalado um regime totalitário. (Ed. Alafaguara, 2017/Cia. das Letras).
*”Existe sempre um lugar, na Praça Loreto, para você, Elon”, bradava o grupo do coletivo de estudantes italianos Cambiare Rotta, em protesto contra Elon Musk, na Itália. Ilustrando seu protesto da semana passada, um boneco do empresário sul-africano foi pendurado de cabeça para baixo no mesmo local em que foi suspenso, em 1945, o corpo do ditador fascista Benito Mussolini, com os pés para cima.
*Leitura indispensável: Multilateralismo na Mira – a Direita Radical no Brasil e na América Latina, do pesquisador ítalo-brasileiro, jornalista e especialista em comunicação, Giancarlo Summa. Em entrevista publicada no jornal Tiempo Argentino, Summa destaca: “O único direito que os conservadoristas sociais agressivos reivindicam é a propriedade; e o que importa para eles é a liberdade econômica. Eu analisei 30 mil tweets de Milei, um exemplo de manual, e as palavras que mais aparecem são ‘liberdade do caralho’. Mas que liberdade? A de fazer qualquer coisa sem o controle do estado”. (Ed. Hucitec/PUC-RJ, 2024).
*Outra leitura necessária é o livro de autoria do jornalista Marco Aurélio Weissheimer, falecido semana passada, deixando saudade entre os muitos amigos e um lastro jornalístico cultural/político importante. O título do seu livro é Bolsa Família: Avanços, Limites e Possibilidades do Programa que Está Transformando a Vida de Milhões de Famílias no Brasil. O trabalho é uma profunda análise do resultado dessa iniciativa na sociedade brasileira, que perdura até hoje. (Ed. Fundação Perseu Abramo, 2006).
*E mais uma sugestão de leitura para as novas gerações em tempo de resgate de memórias da ditadura civil-militar de 1964: Tirando o Capuz, do jornalista Álvaro Caldas. (Ed. Editora Garamond, 1981).
*Um dos livros mais vendidos na França, La Nakba Ne Sera Jamais Legitime (Editions Acratie), de Pierre Stambul, sindicalista e ativista político e um dos porta-vozes da UJFP (União Judia Francesa pela Paz), explica a história da Palestina e desmistifica notícias falsas e fábulas baseadas na Bíblia. Há também análise da evolução do antijudaísmo cristão, da escalada do sionismo, dos métodos terroristas usados desde o início da ocupação da Palestina, da colonização, do racismo, apartheid, dos crimes de guerra contra a humanidade na região.
*Segundo Stambul, um dos clichês da mídia ocidental é este: “Gaza é uma ditadura implacável onde toda a população é aterrorizada pelo Hamas”. Com frequência, ele viaja à Palestina. Lá, tem amigos e se identifica sempre como judeu. Seus parentes foram assassinados durante o Holocausto. (CAPJPO-Europalestine).
*Exposição para ser visitada no Rio de Janeiro: Rua da Relação 40, do dia 26, às 10 horas, até 04 de fevereiro. No pátio interno do Museu da República e organizada pelo Coletivo RJ Memória, Verdade, Justiça e Reparação, é uma mostra de “testemunho material da violência de estado”. Apoios do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, Arquivo Nacional, Campanha Ocupa Dops, Museu da República e Secretaria Estadual de Cultura e Economia Criativa do RJ. Construído no início do século XX, o edifício abrigou instituições policiais que antecederam o Dops. Durante a mostra serão realizadas duas mesas de debate: dia 29/01, às 15h, sobre a história do prédio, e dia 4/02, mesmo horário, onde será discutida a luta pela construção de um Museu dos Direitos Humanos no local.
*Anunciado como um livro “explosivo e super atual”, O Triunfo da Persuasão, de Alexandre Busko Valim, aborda Brasil, Estados Unidos e o cinema da política de boa vizinhança durante a Segunda Guerra Mundial. O autor explora a máquina de propaganda que os EUA criaram para manter a América Latina em sua esfera de influência. “Uma vasta programação de filmes de ficção e documentários foi montada para formar uma opinião pública favorável aos interesses estadunidenses”, diz o livro. Valim é professor de História do Cinema na Universidade Federal de Santa Catarina e autor de Imagens Vigiadas: Cinema e Guerra Fria no Brasil, 1945-1954 (EDUEM/Fundação Araucária, 2010).
*Vitória, filme protagonizado por Fernanda Montenegro e dirigido pelo seu genro, Andrucha Waddington, já está programado. O longa retrata a história, excelente e real, de uma mulher corajosa que, diante da sua sensação de insegurança, decide filmar da janela do apartamento onde mora, em Copacabana, o tráfico de drogas. O caso acabou chamando a atenção do jornalista Flávio Godoy e ganhou forte repercussão. Estreia dia 13 de março.
*A obra semi-documental Iracema – Uma transa amazônica, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna, será exibida na Berlinale 2025, o Festival Internacional de Cinema de Berlim, que já tem data: de 13 a 23 de fevereiro. Essa versão de Iracema foi restaurada na Alemanha e será mostrada na seção Forum Special do festival.
*Continuamos aqui, pelo menos até agora, o registro das dezenas de produções da excepcional e inédita safra de filmes brasileiros que serão entregues ao público em 2025. É o nosso cinema a todo vapor, apesar das dificuldades financeiras e de serem exibidos como merecem. Um pacote que abrange excepcional diversidade e os mais variados temas: ficção, docs, dramas, musicais, comédias, gêneros e localidades.
*Os títulos: Ainda não é amanhã, Centro Ilusão, Suçuarana, Nada, Salomé, Os enforcados, Ato noturno, A natureza das coisas invisíveis, O deserto de Akin, A melhor mãe do mundo, Mãe fora da caixa e Mamãe saiu de férias. Além da comédia O rei da feira, Barba ensopada de sangue, Um dia antes de todos os outros, Manas, Onda nova, Eros, Enterre seus mortos.
*De Luiz Eduardo Soares, autor de Elite da Tropa e Cabeça de Porco, o seu novo livro, lançado em dezembro último, é anunciado como uma elegia à “liberdade da imaginação”. O sugestivo título, Crânio de vidro do selvagem digital, apresenta a nossa história recente a partir de uma perspectiva “decolonial, multidisciplinar e corajosa”, como diz Letícia Núñez Almeida, professora da Universidad de la República del Uruguay. Nesse novo trabalho, o autor, antropólogo e cientista político, envereda pelo campo da ficção, em uma “narrativa marcada pela liberdade criativa e pela experimentação literária”. (Braza Editora).

Jornalista.