Programas – de 28 de julho a 5 de julho
*Meio milhão de pessoas estão morrendo de fome na Faixa de Gaza neste momento. Não comem há dias. Muitas crianças e inúmeros idosos entre eles. Segundo a ONU, estão em “regime de alerta vermelho de insegurança alimentar”, eufemismo para famélico, esfomeado.
*Um dos programas prioritários desta semana: acompanhar o desenrolar do retorno de Julian Assange para Canberra, na Austrália. Sobre o acordo firmado entre a justiça estadunidense e a sua defesa, a jornalista independente Caitlin Johnstone escreveu no seu blog um texto que não deve nem pode ser ignorado. O título: Liberdade não significa justiça para Assange nem fim de perseguição a jornalistas. A Luta Continua. Ela ressalta: “Justiça seria desculpas formais a Assange e a sua família por parte dos conselhos editoriais de todos os principais meios de comunicação que fabricaram consenso para a sua perseguição cruel – incluindo e especialmente o The Guardian – e a completa destruição das reputações de todos os jornalistas prostitutos que ajudaram a difamá-lo ao longo dos anos”. Texto no Viomundo e na revista eletrônica Diálogos do Sul em parceria com Opera Mundi (link aqui).
*Do jornalista Moisés Mendes: “Assange livre é um constrangimento para a farsa das liberdades defendidas pelos jornalões com o mesmo molde do discurso bolsonarista. Procurem nos editoriais de Folha, Globo e Estadão, paladinos da liberdade de imprensa (para grampear Dilma), uma linha, uma só, sobre a libertação de Julian Assange”.
*Do coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra/MST, João Pedro Stedile sobre a liberdade do jornalista australiano de 52 anos: “Foi um presente a todos militantes brasileiros que lutaram por sua liberdade e contra toda forma de imperialismo”.
*Da advogada Stella Assange, companheira do australiano, em seu depoimento no documentário Ithaka – A Luta de Assange, exibido nos cinemas em agosto de 2023; e seria oportuno reprisá-lo agora: “O que este caso significa para a liberdade de imprensa? Que jornalismo é crime? É controlar a democracia? O que está em jogo é a liberdade de imprensa em todo o mundo. A extradição de Assange é o colapso do poder do jornalismo”.
*Segundo o WikiLeaks, Julian Assange passou mais de cinco anos na prisão de segurança de Belmarsh em uma cela de 2×3 metros e isolado 23 horas por dia.
*Outro programa dessa semana é acompanhar a retaliação do governo russo reagindo à censura dos meios de radiodifusão originários da Rússia no Velho Continente: Voice of Europe, Izvestia, RIA Novosti e Rossiyskaya Gazeta. Em contrapartida, 81 meios de comunicação europeus foram cortados do território russo pelo governo do país. Entre eles, os portugueses RTP, Publico, Expresso e Observador. Os meios europeus divulgam sistematicamente informações falsas sobre o desenrolar da operação especial na Ucrânia, denuncia Moscou.
*Após passar por Santa Catarina, o grupo da Comissão do Conselho Nacional de Direitos Humanos coordenado pelo Conselheiro Carlos Nicodemos, presidente da Comissão de Litigância estratégica do CNDH, passou a última semana no Rio de Janeiro investigando denúncias sobre o crescimento exponencial de discursos de ódio e manifestações neonazistas, nos últimos anos, período do governo J. Bolsonaro. No Sul, onde esteve antes de chegar ao Rio, o grupo ouviu relatos de professores perseguidos por pais de alunos, diretores de escolas, prefeitos e políticos de partidos à direita e suas ações violentas de racismo e homofobia. Hoje, às 10 horas, na ABI/Associação Brasileira de Imprensa, que solicitou a investigação, será realizada uma Roda de Conversa com Comunicadores Sociais encerrando o trabalho da Comissão no estado.
*A Arte da Crítica é o título do livro de autoria de Luiz Zanin Oricchio, um dos principais críticos de cinema do Brasil, recém-lançado. A partir de sua experiência de mais 30 anos como crítico, e da cobertura de festivais no país e lá fora, Zanin procura responder, com seu estilo leve, porém elaborado, certas questões centrais sobre o tema: o que é a crítica de cinema? Qual é a sua finalidade? Qual o estilo de texto de uma crítica? O que é preciso para ser um crítico? (EditoraLetramento).
*Outro lançamento precioso: a edição bilíngue, russo-portuguesa, de Maiakovski, Eu! É o primeiro livro do poeta precedido de alguns poemas anteriores às primeiras publicações do seu trabalho, em 1913. Tradução e Notas de Astier Basílio (Editora Arribaçã, de Cajazeiras, Pernambuco).
*O Grupo Autêntica marca presença na terceira edição da Feira do Livro, promovida pela Quatro Cinco Um e pela Maré Produções Culturais, atésete de julho, na Praça Charles Miller, defronte do estádio do Pacaembu, São Paulo. Na tenda 49 da editora estão sendo realizados encontros com escritores e sessões de autógrafos.
*Uma leitura sugerida pelo professor da PUC/SP e ex-Procurador do estado de São Paulo, Pedro Serrano, durante a sua excelente aula sobre O crescimento da extrema Direita: o volume O Estado Dual, de Ernst Fraen Keal, em tradução de Pedro Davoglio, lançado no Brasil em janeiro passado. Um dos temas principais da dissertação de Serrano e do livro mencionado é a análise da nova forma de autoritarismo que surge “por dentro da lei” e o conceito de “inimigo interno” (Editora Contracorrente).
*Exposição Cantos, Cores e Telas – Tecnomacumba, de Rita Benneditto pelo traço de Fernando Mendonça, reinaugurando o Museu da História e da Cultura Afro-brasileira/MUHCAB, na região portuária do Rio de Janeiro. Tecnomacumba é o título do álbum de Rita Benneditto. E Fernando Mendonça cria algumas das suas obras ao vivo, no palco, simultaneamente às apresentações da cantora.
*Programa importante: o 8ª Encontro Nacional de Comunicadores e Ativistas Digitais para jornalistas, comunicadores populares, acadêmicos e estudantes. Regulação das plataformas será um dos principais e urgentes assuntos a debater assim como o fortalecimento das mídias alternativas e comunitárias, os jovens nesse contexto e comunicação e desafios da inteligência artificial. De 5 a 7 de julho, no auditório do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Imperdível.
*Quais e quantas combinações são possíveis entre o marxismo e a ciência política? No volume Marxismo e política: modos de usar, o cientista político Luis Felipe Miguel debate a importância do marxismo na análise da política. Na apresentação da Editora Boitempo escreve Andreia Galvão: “A obra busca introduzir e enfatizar a utilidade desse marco teórico para a produção de uma ciência política capaz de entender o mundo social e orientar a ação nele. Ao longo dos nove capítulos, o autor cruza diferentes temas da tradição marxista com o campo da ciência política como as classes sociais, o Estado, o gênero, alienação e fetichismo e muitos outros. O autor é da Unicamp e é professor titular do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília onde coordena o Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades.
*Mais uma pauta de costumes que brota de repente, na Câmara dos Deputados, tirada do bolso com o objetivo de provocar: o projeto que diminui a idade legal para o trabalho infantil, no país, de 16 para 14 anos. Lembra a jornalista Patrícia Faerman no GGN: “Após o polêmico projeto de punir mulheres por aborto como homicídio, inclusive crianças e vítimas de estupro, a Câmara traz em sua agenda de votações outra polêmica: a de permitir que adolescentes de 14 anos de idade trabalhem. Os deputados querem descriminalizar o trabalho infantil, como é definido hoje pela Constituição brasileira o trabalho de crianças e adolescentes até os 16 anos de idade. Em países mais desenvolvidos, a idade mínima para o emprego é de 17 anos”.
*No Clube de Leitura do site Fronteiras+ está disponível A vida mentirosa dos adultos, de Elena Ferrante, pseudônimo da escritora italiana cuja identidade é mantida em segredo. Ferrante é autora de oito romances e de alguns livros de não ficção com cerca de 12 milhões de exemplares vendidos. Está traduzida para mais de cinquenta países.
*Estreando esta semana nos cinemas, o primeiro longa-metragem de Alex Carvalho, Salamandra. No filme, Marina é Catherine, uma francesa que chega ao Brasil. Hospedada em Recife, onde mora sua irmã (Anna Mouglalis), ela conhece o jovem Gil (Maicon). O colonialismo é retratado no livro que inspirou o filme, de Jean-Christophe Rufin, La Salamandre. Rodado em Olinda e em Recife.
*Leitura recomendada e destaque nas prateleiras das livrarias do Rio de janeiro, o volume 8/1, A Rebelião dos Manés – Ou Esquerda e Direita nos Espelhos de Brasília, de Pedro Fiori Arantes, Fernando Frias e Maria Luisa Meneses.
*Na análise do livro, o professor aposentado do Departamento de Sociologia da Unicamp, Laymert Garcia dos Santos, escreve no blog do Instituto Humanitas Unisinos: “Os manésse sentem heróis de uma guerra contra o establishment, acreditam piamente na pantomima canalha de Bolsonaro contra “o sistema”, desejam intensamente uma ruptura constitucional em favor de uma regressão colonial. E nem mesmo seu abandono pelo líder máximo e pelas “forças da ordem” os fará acordar para o fato de terem sido usados e abusados o tempo todo. São pobres coitados fazendo selfies na beira do abismo, imaginando que a batalha estava ganha com a ocupação e depredação consentidas das instalações dos Três Poderes da República” (Editora Hedra).
*A escritora mineira de Divinópolis, Adélia Prado, de 88 anos, venceu a edição deste ano do prêmio Camões, o mais importante da língua portuguesa. Uma das mais sensíveis poetas da língua portuguesa no Brasil, Adélia estreou com Bagagem e O Coração Disparado. Os volumes O Pelicano e Vida Doida acompanharam outros dos seus livros em prosa e para crianças. No ano passado Adélia foi Prêmio Jabuti.
Jornalista.