Programas – de 7 a 14 de fevereiro

Programas – de 7 a 14 de fevereiro

*O programa é não esquecer. “Eles tentam nos enterrar, mas não sabem que somos sementes.” Verso de uma poesia em forma de oração cantada por uma menina palestina ao retornar ao nordeste da Faixa de Gaza e filmada entre os escombros da mesquita e das casas destruídas em Beit Hanoun. Ela exprime o orgulho de pertencer a um povo marcado por provações. “Estamos semeando sementes”, canta a garota.

*Na mesma cidade de Beit Hanoun, as forças de ocupação israelenses abriram fogo contra a equipe Mubasher da Al Jazeera. Violaram o cessar-fogo mais uma vez, provavelmente sentindo-se mais fortes ao ouvir o atual presidente dos EUA declarar que não pode garantir o cessar-fogo em Gaza.

*Detalhe: em suas perorações à imprensa, o presidente dublê de corretor de imóveis mais uma vez confundiu Moçambique com Palestina em uma de suas falas tonitruantes ao citar um programa de 50 milhões de dólares para distribuição de preservativos.

*Cineasta Walter Salles, autor de Ainda estou Aqui, ao jornal Le Monde, na semana de lançamento e do estrondoso sucesso de bilheteria do filme, em Paris. O diretor lembrou a época durante a qual o filme se desenrola: “Por seu tamanho e pelos interesses econômicos americanos em seu solo, o Brasil era observado de perto por Washington durante a Guerra Fria. Sofremos um golpe de Estado – o primeiro, em 1964, e o segundo, um golpe dentro do golpe, em 68”.

*“O Brasil optou pela anistia”, registrou Walter no site Opera Mundi. “Ao contrário do Chile, Argentina, Uruguai. Ora, a anistia traz a amnésia. E abre uma avenida à realidade alterada dos populistas. Fico feliz com a contribuição de Ainda estou Aqui questionando essa política de anistia. O papel da cultura é gerar memória e lutar contra o esquecimento”.

*Em tempo: a advogada Ana Maria Lima de Oliveira, nova presidente da Comissão de Anistia do Brasil, espera que o STF retome o mais cedo possível o debate sobre a Lei de Anistia no Brasil. O país também aguarda. E ela destaca: “É necessário educação para evitar a repetição. Que seja promovida memória, verdade e justiça”.

*Programa é ouvir o senador independente norte-americano Bernie Sanders, em entrevista esta semana: “Que a imprensa independente relate a verdade sem medo de retaliação de Trump. Se os principais meios de comunicação sucumbirem à intimidação desse governo, a Primeira Emenda estará em sério perigo”. A Primeira Emenda garante a liberdade de expressão, de imprensa, de reunião e de petição.

*A novidade é o Dicionário Enciclopédico de Polarização Política e Emoções, editado pelo Centro de Estudos Políticos e Constitucionais, o CEPC, do governo da Espanha, em colaboração com a Associação Latino-Americana de Pesquisadores em Campanhas Eleitorais. Trata-se da primeira obra tratando de forma abrangente o fenômeno da divisão política, lembrando que o termo “polarização” foi escolhido em 2023 como a palavra do ano pela sua crescente presença nos meios de comunicação e pela evolução do seu significado além da área política para ser utilizado com frequência nas conversas cotidianas. A professora Mara Telles colaborou escrevendo o verbete Polarização Temática, com João Cardoso, doutorando em Ciência Política em Chapel Hill, EUA. Cem autores tratam de conceitos-chave nesse trabalho como as teorias da conspiração, polarização afetiva, estereótipos partidários, discurso de ódio, neuropolítica, nativismo, violência política e pós-verdade. São conceitos sobre fenômenos que explicam a crescente divisão política e social que as democracias começam a enfrentar. A elaboração desse dicionário é o resultado de um esforço coletivo de 71 autores(as) de dez países.

*A Universidade de Michigan suspendeu um grupo de estudantes conhecido como SUE – Students United for Freedom and Equality (Estudantes Unidos pela Liberdade e Igualdade) por dois anos após acusar os seus integrantes de violarem o código de conduta da universidade ao manifestar apoio aos palestinos de Gaza.

*Liu Lijun, estudante chinês, um dos organizadores das manifestações pró-Palestina na UCLA, de Los Angeles, está com seu visto de permanência nos EUA cancelado. Já uma manifestação em Toulouse, sábado passado, com cerca de 500 pessoas, denunciava a dissolução do Coletivo Palestina Vencerá, da cidade francesa. E o jornalista Musa Shawar sofreu uma fratura no nariz após ser agredido pelas forças de ocupação israelenses enquanto cobria como profissional a invasão na casa do prisioneiro libertado Imad Abu Ramouz, em Hebron.

*Tragédia: Ghina Dababesh, de três anos, filha do prisioneiro palestino Ahmed Dababesh, foi assassinada pelas forças israelenses, junto com sua mãe, no bairro de Sheikh Radwan, em Gaza. Seu pai, Ahmed, tinha sido libertado poucos dias antes.

*Os sinais de tortura severa nos prisioneiros palestinos libertados eram visíveis tanto naqueles que desembarcaram na Cisjordânia quanto nos que foram levados para o hospital europeu no sul de Gaza. Zakaria Zubeidi, um dos seis palestinos que escaparam da prisão de segurança máxima de Gilboa, em Israel, em 2021, e libertados no sábado, é quem relata o sofrimento dos detidos palestinos nas prisões israelenses.

*Motivado pela crescente tensão geopolítica e econômica atual, o livro A Nova China – Para Além do Capitalismo e do Socialismo, lançado em português em outubro passado, deve ocupar a atenção dos leitores durante as férias de verão. A autora, a renomada economista Keyu Jina, se propõe a desvendar o “enigma chinês” desde o seu mercado consumidor ao desenvolvimento de grandes empresas, da atuação do estado à inserção na economia global; e mostra como a China criou um novo paradigma econômico mundial. Keyu tem estado no olho da mídia internacional, foi entrevistada pela televisão brasileira, é nascida na China, formada nos Estados Unidos e leciona na Inglaterra. Vale ouvi-la (Da Edpro).

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*Boa notícia: até o próximo dia 12, sessões a dez reais em todas as salas do país, festejando a Semana do Cinema. Inclusive os indicados ao Oscar: ConclaveMaria CallasBaby Girl e Covil de Ladrões 2.

*Cerca de 25 palestinos, entre eles uma criança de três anos e um garoto de 14, foram assassinados pelo exército de Israel, no último fim de semana, durante a invasão do campo de refugiados de Jénine, norte da Cisjordânia. E Walid Lahlouh, de 70 anos, foi abatido pelos esquadrões da morte das forças militares de Tel-Aviv em um dos 14 campos para refugiados montados na região ocupada.

*História e Desenvolvimento – Contribuição da Historiografia Para a Teoria e Prática do Desenvolvimento Brasileiro, nova edição do trabalho do historiador marxista Caio Prado Junior, de 1968, com o prefácio original de Florestan Fernandes e textos de Fernando Novais, Paulo Sérgio Pinheiro e Leda Paulani. É a primeira obra de uma série que será publicada pela Editora Boitempo ao longo dos próximos anos com a coordenação de Luiz Bernardo Pericás.

*Lançado no Brasil, ano passado, o livro póstumo de Pierre Bourdieu com tradução de Thomaz Kawauche. Retorno à Reflexividade aborda a necessidade de uma ciência social reflexiva. Leitura recomendada pelos especialistas para aqueles que buscam uma ciência crítica, consciente de seus limites e capaz de contribuir para a transformação social (Fundação Ed. Unesp).

*Mais uma anotação de Jeffrey Sachs, um dos mais renomados economistas em atividade. “A história é escrita pelos ricos, e por isso os pobres são culpados por tudo. Precisamos defender os interesses daqueles que não conhecemos e que nunca conheceremos”. Sachs é autor do clássico The End of Poverty. As seis edições em português, com o título O Fim da Pobreza, são da Companhia das Letras desde 2005.

*O festival independente Regards Satélites – traduzindo: “Olhares Satélites” – no bairro de Saint-Denis, em Paris, destaca nessa sua terceira edição o cinema periférico brasileiro. Até o dia 9/02 estão sendo exibidas produções brasileiras entre as quais A Cidade é uma Só?, de Adirley Queirós. O ponto de partida do roteiro desse filme é Ceilândia, no Distrito Federal, no início da década de 1970, com a população retirada à força daquele local com a promessa de urbanização do bairro. Que não se cumpriu.

*O Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e o Grupo Prerrogativas homenageiam o desembargador Rogério Favreto, destacando sua trajetória no Judiciário, o compromisso com a defesa dos direitos e sua conduta ao conceder um habeas corpus, em 2018, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, então preso em Curitiba. O evento será dia 18 próximo, às 18h, na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Com a transmissão ao vivo nos canais do YouTube do Barão de Itararé e da Fespsp. Coordenando a cerimônia, o advogado e fundador da agência Carta Maior, Joaquim Palhares, com a participação do jurista e escritor Pedro Serrano e do sociólogo e jornalista Laurindo Lalo Leal Filho.

*Crise climática. O planeta em alerta, os impactos causados pelas chuvas no Brasil, as queimadas nos Estados Unidos e outros eventos climáticos extremos que assolaram o mundo ao longo de janeiro evidenciam a mencionada e indiscutível crise – mesmo para os ignorantes, negativistas ou para os irresponsáveis e de má-fé. Para entender como chegamos até aqui, a sugestão é a leitura da novela gráfica O Mundo sem Fim, de Christophe Blain e Jean-Marc Jancovici. Foi o livro mais vendido da França em 2022 (Ed. Grupo Autêntica).

*Mais uma sugestão: ler Aspirantes a Fascistas, de Federico Finchelstein, professor de História na New School for Social Research e na Eugene Lang College, em Nova York. Mostra como os “quase-fascistas” modernos estão avançando do populismo rumo à ditadura, e os sinais cruciais que podem ajudar a interromper esse caminho antes que seja tarde. Tradução de Rodrigo Seabra (Ed. Vestígio).

*E mais uma sugestão para leitura de verão: Uma Teoria do Poder Global, de autoria de José Luis Fiori, lançado em outubro do ano passado, partindo da “crise do desenvolvimento latino-americano” e da “crise da hegemonia americana” da década dos anos 1970. “Distante de interpretações convencionais, Fiori mergulha no estudo do ‘sistema interestatal capitalista’ e de suas raízes e conexões eurasianas milenares, bem como de sua expansão e conquista colonial da América e da África”, observam seus editores. (Ed. Vozes).

*Anúncio de produto não recomendado, aquisição mais do que arriscada: corretor de imóveis, agente imobiliário e dublê de agente de turismo procura novos clientes divulgando a venda de toda a extensão da aprazível praia da Faixa de Gaza, das belas areias admiradas pelos que conhecem a região como uma das mais bonitas do Mediterrâneo. Na sua orla, apartamentos para ostentar, em resorts de alto luxo. O bônus da operação: o direito de participar da extração do petróleo existente no fundo das águas territoriais da Palestina, defronte da praia de Gaza.

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