Sede de vingança contra Gaza
A pressão da Europa e dos Estados Unidos se intensificou, na última semana, concretizando o que ambos vinham ameaçando há meses embora em aberrante contradição com declarações públicas que nunca convenceram. Parece que, enfim, o governo do estado de Israel deverá deixar de receber armamento ou ser financiado por parte de vários governos ‘ocidentais’ (Brasil inclusive), para prosseguir, utilizando-se dessas armas, o massacre de milhares de crianças, idosos, doentes e feridos da população palestina. Além da destruição total das infraestruturas civis mais básicas na região.
O objetivo é implantar o estado do ‘’Israel Grande’’ na Palestina da Faixa de Gaza, na Palestina da Cisjordânia ocupada ilegalmente, no Líbano, onde são fortes os interesses internos e as ligações históricas, sociais e econômicas dos europeus, em especial dos franceses. E com incursões recentes em território sírio para onde multidões de libaneses fogem dos bombardeios de aviões e mísseis israel/estadunidenses.
Para divulgar a tragédia de Gaza relatada pelos próprios combatentes das Forças de Defesa de Israel, as FDI, em pleno campo de lutas e atrocidades, a Al Jazeera, emissora estatal de notícias do Oriente Médio com sede em Doha, no Catar, produziu um documentário de uma hora e 21 minutos minutos intitulado Investigando Crimes de Guerra em Gaza. O filme é uma homenagem pública e dedicada aos seus jornalistas e técnicos que morreram atingidos pelos israelenses desde o começo da guerra.
Dirigido e coproduzido pelo premiado produtor inglês Richard Sanders e pela Unidade Investigativa da Al Jazeera, esse vídeo começou a circular no Youbube mundo afora, este mês de outubro, nos países que pressionam com a pretendida suspensão do comércio de produtos israelenses exportados e importados. E onde as populações se manifestam com frequência cada vez maior, nas ruas, contra a devastação promovida pelo governo de Benjamin Netanyahu.
Mais do que uma guerra, trata-se de uma vingança mortal o que ocorre na Faixa de Gaza, comprovada com imagens impressionantes recolhidas na pesquisa elaborada pela I-Unit, a Unidade Investigativa da emissora do Catar. Foram selecionados milhares de vídeos e de fotos postados em redes sociais por diversos grupos de militares israelenses em campo de luta e em várias ocasiões de ataques a civis.
Em maio deste ano, a Al Jazeera foi proibida de operar em Israel sob a desculpa de ser um ‘’canal terrorista’’. Os equipamentos foram confiscados e seus sites foram bloqueados. Mas, como diz a romancista palestina Susan Abulhawa: ‘’Vivemos em uma era de tecnologia, e esse é o primeiro genocídio transmitido ao vivo na História. O Ocidente não pode se esconder, não pode alegar ignorância. Ninguém pode dizer que não sabia. Se as pessoas são ignorantes, são deliberadamente ignorantes’’.
E é isso o que aí está. Apesar da censura. Como é sublinhado no filme, daqui por diante, ‘’ninguém poderá dizer que não sabia’’.
O que se vê na sucessão de imagens e de situações de extrema crueldade e violência são forças militares israelenses longe de constituir um exército disciplinado do ponto de vista institucional. Os soldados matam alvos marcados pela Inteligência Artificial, muitos deles localizados através dos números de seus celulares. Médicos, enfermeiros, jornalistas, voluntários, adolescentes, mulheres, idosos e idosas, paraplégicos.
’’Não restará qualquer lembrança deles’’, em geral dizem entre si os militares, rindo, dançando e festejando o assassinato das vítimas, com a alegria da missão cumprida. Cantam suas músicas, dão risadas e brincam com os despojos de mulheres mortas ou das que conseguiram fugir, e vestem suas roupas íntimas sobre os próprios uniformes.
As legendas em português desse vídeo foram produzidas pela Fepal, a Federação Palestina Árabe do Brasil, entidade com sessenta mil afiliados nesse país, e em Investigando Crimes de Guerra em Gaza é contextualizado o sofrimento da população palestina esbulhada desde a primeira nakba (a catástofre) de 1948, quando foi entregue por colonos britânicos aos sionistas e expulsas de suas terras. Seguiram-se a nakba de 1967 e a de 1973.
Como resume um comandante das FDI – em imagens devidamente identificadas com seus nomes e qualificações militares – ‘’os soldados são viciados em explosões’’. Ele se refere aos colegas, filmado no cenário de ruínas das casas invadidas, destruídas e pilhadas pelos companheiros de farda.
Um documentário para estômagos fortes. Mas necessário e até obrigatório (Clique aqui para assistir ao documentário).
*Em alguns países, o título de Investigando Crimes de Guerra em Gaza pode ser Gaza ou Sete de Outubro
Jornalista.