Barreiras econômicas desestimulam a fertilidade na América Latina

Barreiras econômicas desestimulam a fertilidade na América Latina

Milhões de jovens ao redor do mundo querem ter filhos, mas não o fazem devido a fatores como o alto custo de vida e o contexto geopolítico global incerto, informa estudo das Nações Unidas.

POR CORRESPONDENTE IPS*

PANAMÁ – Em países como Argentina, Brasil, Colômbia e México, as taxas de fecundidade estão caindo, mais por falta de condições econômicas e sociais favoráveis ​​do que por uma “mudança cultural”, alerta um relatório do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) publicado nesta terça-feira, dia 10.

“A desigualdade e a exclusão persistentes limitam o exercício dos direitos reprodutivos, o acesso a serviços de saúde de qualidade e as oportunidades de construir planos de vida conforme os desejos pessoais ou familiares”, disse Susana Sottoli, Diretora Regional do UNFPA para a América Latina e o Caribe.

Milhões de jovens ao redor do mundo querem ter filhos, mas não o fazem devido a fatores como o alto custo de vida e o contexto geopolítico global incerto, informa estudo da ONU.

Natalia Kanem, diretora-executiva do UNFPA, afirmou ao apresentar o relatório que “os números mostram que vastas parcelas da população querem constituir família, mas não conseguem. A verdadeira crise é a falta de opções, não de desejo, e a resposta está em atender às demandas expressas pela população”.

O estudo, baseado em uma pesquisa conjunta do UNFPA e da empresa britânica de pesquisa de mercado YouGov em 14 países que abrangem mais de um terço da população mundial, revela que uma em cada cinco pessoas não terá o número de filhos que gostaria.

Os principais fatores para essa decisão incluem o alto custo de vida, a insegurança no emprego, a falta de moradia adequada, a ausência de um parceiro estável e a incerteza quanto ao futuro.

O relatório constata que mais da metade dos entrevistados indicam que as restrições financeiras são uma barreira para ter a quantidade de filhos que desejam, e 11% afirma que as desigualdades na distribuição das tarefas de cuidado dificultam sua capacidade de ter filhos.

Um em cada três adultos entrevistados ou seus parceiros passaram por uma gravidez indesejada, e uma em cada cinco pessoas relatam ter sido pressionadas a ter filhos quando não queriam.

Na América Latina e no Caribe, a análise de dados revelou grande diversidade demográfica, tanto dentro das nações quanto entre elas. Alguns países ainda têm populações jovens e podem aproveitar as oportunidades proporcionadas por terem mais pessoas em idade ativa do que dependentes.

Em outros, com o envelhecimento da população, é necessário investir em sistemas de assistência e criar condições para que os jovens alcancem seu pleno potencial. Nesse contexto, 28% dos entrevistados no Brasil e 21% no México não alcançam o número desejado de filhos.

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Gravidez indesejada

O Brasil também apresenta altos índices de gravidez indesejada. Quase 40% dos adultos entrevistados ou seus parceiros já passaram por pelo menos uma. No México, esse número chega a cerca de 22% dos entrevistados.

Mais de 21% das mulheres entrevistadas no Brasil e 19% das mulheres no México sentiram pressão externa para engravidar, refletindo como as normas culturais e sociais continuam a reforçar os papéis tradicionais de gênero.

As mais afetadas são mulheres, meninas e adolescentes em situação de pobreza em áreas rurais, indígenas e afrodescendentes, que enfrentam maiores dificuldades para exercer sua liberdade reprodutiva.

Esse conceito vai além da tomada de decisões individuais sobre o próprio corpo, destaca o relatório do UNFPA, uma vez que exercer a liberdade reprodutiva exige que o contexto permita e facilite que essas decisões se tornem realidade.

“Portanto, a chave é que os Estados forneçam as condições e opções necessárias para que todas as pessoas possam realizar seus direitos reprodutivos ao longo de seu ciclo de vida”, observa Sottoli.

O relatório alerta contra respostas simplistas ou coercitivas às taxas de fertilidade em declínio, como bônus de nascimento, retrocessos nos direitos sexuais e reprodutivos ou campanhas que incentivam casais a ter mais filhos para atingir as metas de fertilidade.

Essas políticas, alerta o UNFPA, são amplamente ineficazes e podem violar os direitos humanos.

Em vez disso, o Fundo insta os governos a abordarem todas as barreiras. Isso inclui investir em moradia acessível, trabalho decente, licença parental para ambos os pais e toda a gama de serviços de saúde reprodutiva e informações confiáveis. Promover a igualdade de gênero é fundamental.

Ela acredita que é importante garantir os direitos das mulheres em particular: licença-maternidade remunerada, sistemas de assistência sensíveis ao gênero, cuidados de fertilidade acessíveis e normas sociais transformadoras que promovam casais comprometidos com a distribuição igualitária de funções de cuidado.

Publicado originalmente na Inter Press Service.


Foto de capa:

A jovem mãe Yadira Zambrano com seu bebê de um mês em Manabí, Equador. Na América Latina e no Caribe, assim como em outras regiões do mundo, barreiras econômicas, sociais e culturais desencorajam jovens casais de terem o número de filhos que realmente desejam. Imagem: Chute / UNICEF

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