Ladislau Dowbor vence o Prêmio Brasil de Economia 2025

Com obra sobre a revolução digital, economista disseca mais uma vez os mecanismos usados pelos detentores do poder contra a democracia e os direitos do povo
O economista Ladislau Dowbor foi o grande destaque da 31ª edição do Prêmio Brasil de Economia (PBE) 2025*, promovido pelo Conselho Federal de Economia (Cofecon). Ele conquistou o 1º lugar na categoria Livro de Economia com a obra “Os Desafios da Revolução Digital” (Editora Elefante, 2025) durante a cerimônia de premiação realizada em Porto Alegre, na última quarta-feira (08/10).
Em nota, ao comentar o prêmio, o Conselho Regional de Economia (Corecon) de São Paulo destacou o impacto de sua trajetória intelectual e o seu papel na formação de novas gerações de economistas e formulação de políticas públicas mais justas e inclusivas. “Sua obra reafirma que compreender a economia é também compreender as novas dinâmicas do poder e da informação — e que o conhecimento segue sendo uma das ferramentas mais poderosas para construir um futuro mais equitativo e sustentável”, disse a entidade.
Neste livro, mais uma vez, Dowbor destrincha os mecanismos do poder no mundo contemporâneo, como fez em “O Capital Improdutivo” (Autonomia Literária, 2019), ao esmiuçar o sistema financeiro global. Agora, o intelectual se volta para os impactos da tecnologia e da concentração de poder das plataformas digitais.
Novos mecanismos de controle
Dowbor defende que vivemos sob um novo modo de produção, cujos mecanismos não cabem mais nos conceitos tradicionais de análise. Daí as várias denominações que surgem: “capitalismo corporativo”, “capitalismo extrativo”, “capitalismo real”, “neofeudalismo”, “capitalismo de vigilância”, “capitalismo cognitivo”, “capitalismo sem capital”, enumera.
“Os que comandam não são mais os capitães da indústria, e sim os que controlam os algoritmos, as plataformas de comunicação e o próprio dinheiro imaterial, no quadro da financeirização”, aponta, ao mencionar que nem mesmo o amplamente difundido “neocapitalismo” dá mais conta do que vivemos hoje.
Ele denomina esta nova fase de “revolução digital”, um processo atrelado a um modo de produção rentista e a uma nova divisão de classes. “A indústria não desapareceu, assim como a agricultura sobreviveu à Revolução Industrial. Mas o eixo estruturante se deslocou e as várias dimensões da atual revolução, devido às suas características tecnológicas, tendem a gerar um novo sistema”, explica.
Controle das plataformas
Este novo sistema é dissecado em quatro capítulos: “Um novo modo de produção”, “O conhecimento como principal fator de produção”, “O rentismo como mecanismo de exploração” e “Os novos enfrentamentos”.
Dowbor explicita, com verve didática e crítica afiada, como as plataformas tecnológicas, imbricadas nas altas esferas do poder global, detêm “um controle político que destrói democracias e, portanto, a capacidade das populações de reverter o processo de exploração”.
O resultado, aponta, é o aprofundamento radical da desigualdade, de maneira cada vez mais acelerada e com pouca base produtiva: “é um sistema essencialmente extrativo à custa de uma destruição cada vez mais catastrófica do planeta”.
“Os Desafios da Revolução Digital” é mais uma grande contribuição do economista em sua investigação sobre os descaminhos do poder e as nossas possibilidades de resistência a seus ataques. Uma bússola para nos localizarmos em meio ao caos dessas transformações.
O livro está disponível na íntegra em dowbor.org e pode ser adquirido fisicamente, para ser devidamente rabiscado e manuseado, no site da Editora Elefante.
*Promovido anualmente pelo Cofecon, o Prêmio Brasil de Economia pretende incentivar a pesquisa e a produção de conhecimento na área econômica, reconhecendo os melhores estudos realizados por economistas e pesquisadores em todo o país.

Tatiana Carlotti é repórter do Fórum 21 desde 2022. Também trabalha em Ópera Mundi e atuou por oito anos nos veículos progressistas Carta Maior (2014-2021) e Blog Zé Dirceu (2006-2013). Tem doutorado em Semiótica (USP) e mestrado em Crítica Literária (PUC-SP).
