Abin Paralela: PF indicia Bolsonaro, seu filho Carlos e mais 33 por arapongagem

ABIN PARALELA
A Polícia Federal concluiu nesta terça-feira (17) o inquérito que investiga a existência de uma rede ilegal de espionagem estruturada durante o governo Bolsonaro e pediu o indiciamento de 35 pessoas. Entre elas estão o próprio ex-presidente, seu filho Carlos, o deputado Alexandre Ramagem — ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) — e o atual diretor da agência, Luiz Fernando Corrêa. O caso, conhecido como “Abin paralela”, foi enviado ao Supremo Tribunal Federal, que agora deve repassá-lo à Procuradoria-Geral da República para eventual denúncia.
Segundo as investigações, Bolsonaro teria presidido um sistema clandestino que operava a partir do Palácio do Planalto e usava a estrutura da Abin para monitorar ilegalmente ministros do STF, políticos, jornalistas e servidores públicos. Entre os alvos estavam Arthur Lira, Rodrigo Maia, João Doria, Alexandre de Moraes e até o analista ambiental Hugo Loss, ligado a ações de proteção da Amazônia e colaborador próximo de Bruno Pereira, assassinado em 2022 junto ao jornalista Dom Phillips. A PF aponta que os dados coletados por meio do software israelense FirstMile — capaz de rastrear celulares em tempo real — eram usados por um núcleo digital para disseminar ataques nas redes sociais, em especial pelo chamado “Gabinete do Ódio”.
A operação de espionagem, segundo o relatório, dividia-se em três núcleos: Presidência, propaganda e execução técnica. O objetivo seria blindar aliados políticos, fragilizar investigações, atacar o sistema eleitoral e viabilizar a permanência de Bolsonaro no poder. O esquema também estaria vinculado ao plano de golpe militar investigado separadamente pelo STF. A atual direção da Abin foi indiciada por tentativa de obstrução das apurações. Bolsonaro e Ramagem ainda não se pronunciaram. Carlos Bolsonaro, por sua vez, atribuiu o caso a uma perseguição política e questionou: “Alguém tinha dúvida de que a PF de Lula faria isso comigo?” (CNN Brasil, Prensa Latina, CartaCapital, The Guardian).
AJUSTE EM DISPUTA
A Câmara dos Deputados aprovou nesta segunda-feira (16), por 346 votos a 97, o regime de urgência para o projeto que contesta o decreto do governo sobre a reestruturação do IOF. A medida do Executivo, publicada no dia 11, revisou as alíquotas do imposto como parte de ações para recompor a arrecadação federal, com estimativa de gerar até R$ 7 bilhões em receitas em 2025. O governo buscou diálogo com a presidência da Câmara e líderes partidários, com os ministros Rui Costa e Gleisi Hoffmann participando de reuniões com o presidente da Casa, Hugo Motta, que reconheceu a insatisfação de parte do Congresso e apontou a expectativa por medidas de contenção de despesas, enquanto o Executivo sinalizou abertura para discutir alternativas (CNN Brasil).
PAZ E SOLIDARIEDADE
Teve início na segunda-feira (16), na Bahia, a Reunião Regional de Paz promovida pelo Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), com participação de movimentos sociais, partidos, entidades e delegações internacionais. O encontro reforça a defesa da autodeterminação dos povos e denuncia bloqueios e intervenções militares. Representantes destacaram a urgência da solidariedade internacional frente ao avanço da violência e do imperialismo. Um documento com propostas será aprovado ao final do evento, nesta terça-feira (17) (Prensa Latina).
ABRIR À CHINA
As gigantes chinesas Huawei e ByteDance anunciaram planos para investir fortemente em inteligência artificial e infraestrutura de nuvem no Brasil, aprofundando a presença digital da China na América Latina. A Huawei deve firmar acordo com a estatal Dataprev para uso de data centers e articula parceria com a Edge UOL, com foco em segurança cibernética e operações de IA, enquanto a ByteDance estuda instalar um megacentro de dados no Ceará, com capacidade de 300 megawatts alimentado por energia renovável. O governo Lula tem reforçado a posição de não alinhamento estratégico, buscando equilibrar as relações com China e Estados Unidos, sendo que, enquanto Washington alerta sobre riscos de espionagem por empresas chinesas, o Brasil aposta no acesso à tecnologia e no fortalecimento da indústria nacional. Segundo Márcio Elias, do Ministério da Indústria e Comércio, a prioridade é trazer a expertise chinesa em IA para modernizar o setor produtivo, posição reforçada por Lula durante visita oficial à China em maio (South China Morning Post).
ROMPER COM ISRAEL
Pré-candidatos à presidência do PT divulgaram nesta segunda-feira (10) um manifesto pedindo que Lula rompa imediatamente as relações diplomáticas e comerciais com Israel. O texto, assinado por nomes como Rui Falcão, Edinho Silva e Valter Pomar, denuncia o massacre de mais de 55 mil palestinos e critica a continuidade de acordos militares com o governo Netanyahu. O documento menciona crimes de guerra, como o bloqueio a Gaza e a interceptação de um navio humanitário com um brasileiro a bordo. Os signatários também apoiam a nota do CNDH que defende o rompimento das relações (Prensa Latina).
CORTEJO ESTRATÉGICO
A aproximação entre o G7 e países do BRICS, como Brasil, Índia e África do Sul, expressa uma tentativa de frear a perda de protagonismo diante do avanço do Sul Global. Para os analistas Diego Pautasso (UFRGS) e Guilherme Conceição (Instituto San Tiago Dantas), a crise do G7 é evidente e a presença de lideranças emergentes nas reuniões do grupo representa mais uma estratégia de contenção do que um gesto autêntico de inclusão. O objetivo seria neutralizar iniciativas como a expansão dos BRICS e o fortalecimento de bancos alternativos ao FMI e ao Banco Mundial, em um cenário em que a economia dos BRICS já supera a do próprio G7.
Convidado para a cúpula no Canadá, Lula busca demonstrar que o Brasil mantém diálogo com o Ocidente, apesar da aproximação com China e Rússia, enquanto defende reforma da governança global, multipolaridade e transição energética justa. Para Conceição, o Brasil deve manter uma linha diplomática autônoma voltada às demandas estruturais do Sul Global, com a presença de Lula sendo vista como sinal de recuperação do protagonismo brasileiro, mas também como parte de uma movimentação defensiva do G7 frente à nova ordem multipolar.
No domingo (15), em Bruxelas, o chanceler indiano Subrahmanyam Jaishankar afirmou que cresce no Sul Global a percepção de que a ordem internacional é injusta. “Há sentimentos muito fortes sobre as desigualdades da ordem internacional, e queremos transformá-la”, declarou (Pátria Latina via Sputnik, BBC News Brasil, RT).
À FRANCESA
Donald Trump deixou abruptamente a Cúpula do G7 em Kananaskis, na segunda-feira (16), antes do encerramento oficial. Emmanuel Macron sugeriu que a saída se devia a negociações sobre um cessar-fogo entre Israel e Irã, mas foi desmentido por Trump, que o criticou publicamente. O presidente dos EUA também cancelou reuniões com os líderes do Brasil, Ucrânia e México, sem apresentar justificativas (Agência EFE).
G20 E A TRANSIÇÃO ENERGÉTICA GLOBAL
Estudo liderado por Sven Teske e Saori Miyake revela que os países do G20 têm capacidade tecnológica e territorial para gerar energia renovável suficiente para abastecer todo o planeta até 2050. Com 85% do PIB mundial e 87% das emissões de CO₂, o grupo possui a responsabilidade central de liderar a transição energética, o que exige abandonar progressivamente os combustíveis fósseis e apoiar financeiramente regiões como a África.
Segundo a análise, apenas 3% do potencial solar e eólico africano bastaria para suprir toda a demanda elétrica futura do continente. No entanto, esse avanço depende de financiamento internacional, planejamento de longo prazo e marcos regulatórios. A presidência sul-africana do G20 em 2025 surge como oportunidade-chave para exigir justiça climática e investimentos em energias limpas baseados na dívida histórica dos países mais emissores (The Conversation).
ALARME GLOBAL CONTRA O FASCISMO
Mais de 400 intelectuais, incluindo 31 ganhadores do Prêmio Nobel, assinaram uma carta aberta alertando para o ressurgimento do fascismo no século XXI. O manifesto denuncia o avanço de lideranças autoritárias que, sob o pretexto de mandatos populares, minam o Estado de Direito, atacam a imprensa, a ciência e os direitos civis. Entre os signatários estão Steven Pinker, Daron Acemoglu e Maristella Svampa. O texto aponta que tais figuras se alimentam da desigualdade e do abandono social, fabricam “fatos alternativos” e instrumentalizam o medo para controlar a sociedade. Mesmo imperfeitas, as democracias são defendidas como espaços essenciais para o desenvolvimento humano e devem ser preservadas com firmeza (La Nación).
ARGENTINA NO CAMINHO INVERSO
Já Javier Milei, três dias após visitar Jerusalém, telefonou a Benjamin Netanyahu para elogiar a ofensiva militar israelense contra o Irã, reafirmando apoio à estratégia de Tel Aviv. Em nota, condenou os mísseis iranianos, mas silenciou sobre o ataque inicial de Israel, evidenciando seu alinhamento com governos ultraconservadores. Ao lado de Viktor Orbán, o argentino se destaca como um dos principais aliados internacionais de Netanyahu. Na visita a Israel, anunciou a transferência da embaixada argentina para Jerusalém e recebeu o prêmio Gênesis, optando por uma política externa de confronto, militarização e ruptura com o multilateralismo (La Nación).
FRENTES PROGRESSISTAS COM CRISTINA
Organizações de direitos humanos e movimentos feministas convocaram uma grande manifestação para esta quarta-feira (18) em Buenos Aires, em apoio a Cristina Kirchner, denunciando a condenação da ex-presidenta como perseguição política. No cenário internacional, a campanha “Cristina Libre”, inspirada no movimento “Lula Livre”, também ganha força. Gregorio Dalbón, um dos advogados de Cristina, promete levar o caso à Comissão Interamericana de Direitos Humanos e à Corte de Haia, chamando o julgamento de “ilegal e arbitrário”. Para o movimento feminista, a perseguição tenta calar mulheres na política. A militante Lucía Cavallero destaca o machismo do Judiciário, já que todos os juízes eram homens: “Cristina é a mulher mais importante da política argentina. Não vamos aceitar que a calem”, completou (Página/12, Tiempo Argentino, Perfil).
