Após 25 anos, Mercosul e UE fecham acordo de livre-comércio
POR TATIANA CARLOTTI
Foram mais de duas décadas de negociações para que os blocos de livre-comércio Mercosul e União Europeia pudessem criar “uma das maiores áreas de livre-comércio do mundo”, englobando 31 países (27 europeus e 4 sul-americanos), comemorou o presidente Lula, em seu discurso, nesta sexta-feira (6.12), durante a Cúpula do Mercosul em Montevidéu, no Uruguai.
“Esta Cúpula tem um significado especial. Ela marca a conclusão das negociações do Acordo Mercosul-União Europeia, no qual nossos países investiram enorme capital político e diplomático, por quase três décadas. Estamos criando uma das maiores áreas de livre comércio do mundo, reunindo mais de 700 milhões de pessoas. Nossas economias, juntas, representam um PIB de 22 trilhões de dólares”, apontou.
Segundo a presidenta da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, “o acordo não é apenas uma oportunidade econômica, mas uma necessidade política” (El Diário). Ela acalmou os produtores franceses, afirmando que o pacto terá um impacto positivo para milhares de empresas do setor que exportam para os países do bloco (La Nación).
A resistência, porém, permanece, a França lidera a oposição, enquanto a Alemanha e a Espanha pressionaram pela aceleração do acordo que agora será debatido no Parlamento Europeu (La Nación). O humor se reflete na imprensa, Le Monde estampa “França: acordo só envolve a Comissão Europeia”, enquanto o alemão Süddeutsche Zeitung diz “Acordo não é perfeito, mas também tem bons efeitos”.
Além de Lula e de Ursula von der Leyen, participaram da Cúpula os presidentes Luis Arce (Bolívia), Javier Milei (Argentina), Santiago Peña (Paraguai), o presidente cessante do Uruguai, Luis Lacalle e o eleito Yamandú Orsi.
CONFUSÃO À VISTA
Com várias críticas ao Mercosul, a Argentina de Javier Milei assumiu a presidência do bloco sul-americano nesta sexta-feira. “Quando nos consolidamos em um bloco comum, isso não só não nos fez crescer, como nos prejudicou. Enquanto cidades como o Chile e o Peru se abriram para o mundo e concluíram acordos comerciais com atores do comércio mundial, nós nos fechamos em nós mesmos, levando mais de 20 anos para concluir um acordo como o que estamos celebrando hoje, que ainda está longe de ser uma realidade”, afirmou o argentino em seu discurso.
E complementou: “Ou aceitamos que o Mercosul não funciona e o dissolvemos, o que não é a vontade do governo argentino, ou o adaptamos para que seja funcional às necessidades atuais de seus membros” (La Diaria). A delegação argentina chegou a propor a redução de orçamento do Instituto Social e do Instituto de Políticas Públicas e Direitos Humanos do Mercosul.
Em seu discurso, Lula respondeu à proposta: “esses órgãos não podem ter suas atividades estranguladas sob o pretexto de economizar recursos (…) A igualdade de gênero e a justiça social não são despesas, mas investimentos no capital humano dos nossos países”. Ele também lembrou aos argentinos que o modelo de integração defendido pelo Mercosul “visa reduzir a desigualdade dentro dos nossos países”, defender o Estado de direito e “fomentar o diálogo e a cooperação” (La Diaria).
CONDECORAÇÃO DE MUJICA
La Vanguardia traz as imagens da homenagem a “Pepe” Mujica realizada ontem (5.12) pelo presidente Lula, em Rincón del Cerro, no Uruguai. Afirmando que o ex-presidente uruguaio é a “pessoa mais extraordinária que já conheceu” e o “companheiro que escolheu”, Lula concedeu ao ex-presidente uruguaio o Grande Colar da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, a máxima condecoração brasileira.
“Não sou um homem de prêmios ou medalhas. Sou um homem do povo que fez o que podia pelo meu povo e nada mais, mas este é um amigo de muitos anos”, respondeu Mujica, emocionado.
VIOLÊNCIA POLICIAL
A Agência EFE traz imagens do protesto contra a violência policial ocorrido na noite desta quinta-feira (6), na frente do Theatro Municipal de São Paulo. Uma série de imagens de crimes policiais vieram a público na última semana: no domingo (1°), circulou a imagem de um policial militar arremessando um jovem em um córrego; na segunda-feira (2), o país assistia à execução de um jovem que tentava roubar pacotes de sabão em um mercado e isto em meio aos casos contínuos de assassinato de civis pela polícia do governo Tarcísio, inclusive de uma criança de 4 anos, baleada em meio a um tiroteio no litoral paulista.
Os manifestantes exigem a destituição do secretário regional de Segurança Pública, Guilherme Derrite, que vem defendendo a ação policial, “apesar dos abusos e violações evidentes”, diz a reportagem.
CASSINO FINANCEIRO
O Banco Central do Brasil intensificará sua campanha para aumentar as taxas de juros com um grande aumento de 75 pontos-base em 11 de dezembro, para 12% dos atuais 11,25%, afirmam “os analistas” ouvidos pela Reuters. A justificativa da pressão pela alta dos juros no Brasil seria “a recente cautela do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA)” frente ao risco de “uma retomada dos preços ao consumidor em 2025”, afirma a reportagem.
BRASILEIROS EM PORTUGAL
Cai o número de vistos concedidos a brasileiros para estudarem em Portugal. Segundo dados dos consulados portugueses, apenas 9,24% do total de vistos concedidos em 2024 a brasileiros é para estudos. Dois anos antes, vistos para estudantes representavam 35,48% do global (Publico).
Foto de capa: Cúpula de Presidentes dos Estados Partes do MERCOSUL e dos Estados Associados. Edifício MERCOSUL – Montevidéu, Uruguai. Foto: Ricardo Stuckert / PR
Repórter do Fórum 21 desde 2022, com passagem por Carta Maior (2014-2021) e Blog Zé Dirceu (2006-2013). Tem doutorado em Semiótica (USP) e mestrado em Crítica Literária (PUC-SP).