Com apoio de Lula, chanceler do Suriname desbanca candidato pró-Trump e é eleito secretário-geral da OEA

Pela primeira vez na história, um membro da comunidade caribenha assumirá o comando da Organização dos Estados Americanos (OEA). O Suriname, um dos menores países da América do Sul, com uma população de apenas 600.000 habitantes, conseguiu que seu ministro das Relações Exteriores, Albert Ramchand Ramdin, fosse eleito para suceder Luis Almagro como o novo Secretário Geral da OEA. Sem ser conhecido por muitas pessoas na região, Ramdin superou o ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Rubén Ramírez Lezcano, próximo a Donald Trump. Albert Ramdin comandará a entidade até 2030. Candidato paraguaio, considerado como ‘pró-Trump’, desistiu da disputa.
O paraguaio Ramírez Lezcano – e, em última análise, o governo do presidente Santiago Peña, que apostou em sua candidatura – perdeu a confiança de seus aliados sul-americanos, incluindo Brasil, Uruguai, Chile e Colômbia. Um dos motivos apontados foi o fato de ele ter cortejado Trump e seu governo — tendo como opositores Luiz Inácio Lula da Silva, Gabriel Boric e, acima de tudo, Gustavo Petro. Ao contrário do eleito Ramdin, do Suriname, Ramírez Lezcano ofereceu um alinhamento com a Casa Branca. Dos 34 países com direito a voto na OEA, o surinamês teve o apoio da Comunidade do Caribe (Caricom), Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Uruguai, Costa Rica, Equador e República Dominicana. No final, ele foi eleito por aclamação nesta segunda-feira (10/03). (La Nación / Centro Latino Americano de Análise Estratégica / El Tiempo)
O Itamaraty divulgou a seguinte nota sobre a eleição da OEA:
“O Brasil felicita o Chanceler surinamês Albert Ramdin por sua eleição, por aclamação, ao cargo de Secretário-Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), para um mandato de cinco anos. Ramdin sucederá, a partir de 25 de maio próximo, o atual Secretário-Geral da OEA, Luis Almagro. Trata-se do primeiro representante de um país do Caribe a ocupar o cargo. O governo brasileiro confia que, por sua experiência e trajetória, o Embaixador Ramdin atuará de maneira decisiva para o fortalecimento da OEA e das relações hemisféricas. Ao desejar-lhe todos os êxitos, o Brasil reitera seu firme compromisso em contribuir com o novo Secretário-Geral para a implementação dos mandatos da OEA, e para que a Organização seja um espaço de diálogo, cooperação e busca de consensos. O Brasil valoriza a OEA como importante plataforma para enfrentar desafios comuns nas áreas da democracia, dos direitos humanos, do desenvolvimento integral e da segurança multidimensional. O governo brasileiro confia que, sob a liderança do novo Secretário-Geral, seja fortalecido o papel da OEA em prol de uma região estável, democrática, justa e próspera, que reflita os interesses de toda a região.“
EDUARDO BOLSONARO / EUA
O Financial Times traz entrevista exclusiva com Eduardo Bolsonaro com enfoque na atuação do filho de Bolsonaro sobre o governo Trump em busca de apoio a seu pai.
O filho do ex-presidente de extrema-direita do Brasil, Jair Bolsonaro, está fazendo lobby junto ao governo Trump sobre a “perseguição” a seu pai, acusado de liderar um plano de golpe, e argumentou que o juiz que lidera o caso se encaixa nos critérios para as sanções dos EUA. Eduardo Bolsonaro, deputado federal, disse que as autoridades americanas e os legisladores pró-Trump foram receptivos aos seus argumentos de que Luiz Inácio Lula da Silva – um presidente de esquerda democraticamente eleito – estava “esmagando” a oposição conservadora e arrastando o país para o autoritarismo. O principal ministro do STF acusou Jair Bolsonaro no mês passado de liderar uma conspiração para retomar o poder depois que ele perdeu a eleição presidencial de 2022 para Lula.
Os investigadores alegaram que os conspiradores, incluindo oficiais militares seniores, pretendiam matar Lula, seu vice-presidente Geraldo Alckmin e o juiz da Suprema Corte Alexandre de Moraes. É provável que a Suprema Corte julgue o caso a partir do próximo mês.
“Jair Bolsonaro já é um homem condenado”, disse Eduardo ao Financial Times em uma entrevista em vídeo. “É muito provável que eles tentem matá-lo na cadeia ou que ele nunca saia da cadeia. A única coisa que posso fazer é ir para o exterior e gritar para o mundo sobre o que está acontecendo no Brasil… o país está sendo mergulhado na ditadura.” Afirmou que não estava pedindo a intervenção direta dos EUA no caso de seu pai, apenas “a restauração da democracia e da liberdade”.
Eduardo Bolsonaro disse que não estava pessoalmente fazendo lobby para que o governo Trump aplicasse sanções a de Moraes, mas acrescentou: “Falando como congressista com imunidade parlamentar, Alexandre de Moraes mais do que cumpriu as condições para sanções [do Tesouro dos EUA]. Não sou eu que vou fazer com que ele seja sancionado, é o seu próprio comportamento”.
Além das acusações, cita que Bolsonaro não pôde aceitar um convite para a posse de Trump porque Moraes o obrigou a entregar seu passaporte, considerando-o um risco de fuga.
LULA / ALIMENTOS
O Centro Latino-Americano de Análise Estratégia traz artigo de Jeferson Miola, membro do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), com o título “Brasil: escassez de alimentos ameaça o governo antes das eleições”. Afirma que a perda de popularidade do governo Lula se deve em grande parte [1] ao mal-estar estrutural da população, agravado pela anabolização do extremismo pelas grandes empresas de tecnologia; mas também [2] à quebra de confiança e credibilidade do governo, agravada pelo efeito PIX; e, além disso, e relacionado a isso, [3] como resultado do alto preço dos alimentos. A inflação dos alimentos atinge duramente a maioria da população, que sobrevive com enormes dificuldades devido à sua baixíssima renda: 38% da população brasileira ganha até um salário mínimo, 32% entre um e dois salários mínimos e 20,5 milhões de famílias [53,9 milhões de pessoas] recebem em média 671,21 reais por mês do Bolsa Família.
COP 30
O governo brasileiro definiu hoje a Conferência do Clima das Nações Unidas (COP30), marcada para novembro em Belém, como um momento de mudança ou de catástrofe. Em uma carta aberta divulgada nesta segunda-feira, o presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, faz um alerta, apontando os desafios do esperado fórum.
O texto de 11 páginas foi distribuído aos 197 países signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). Segundo Corrêa do Lago, é mais do que uma carta dirigida apenas aos governos. “É também um documento para os parlamentos nacionais, para os tribunais e para a sociedade civil como um todo”, afirma. Sem citar especificamente nenhum país, mas em uma clara crítica aos Estados Unidos por sua saída do Acordo de Paris, o embaixador elogia a ação conjunta. (Prensa Latina)
Na imagem, Albert Ramchand Ramdin, ministro das Relações Exteriores do Suriname, eleito nesta segunda-feira secretário-geral da OEA / Reprodução

Jornalista, ex-Folha, Reuters e Valor Econômico. Participei da cobertura de posses presidenciais, votações no Congresso, reuniões ministeriais, além da cobertura de greves de trabalhadores e de pacotes econômicos. A maior parte do trabalho foi no noticiário em tempo real. No Fórum 21, produzo o Focus 21, escrevo e edito os textos dos analistas.