Cúpula da CELAC encerra com críticas ao protecionismo e apelo por maior integração regional

INTEGRAÇÃO REGIONAL EFETIVA
A 9ª Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), realizada em Honduras, terminou nesta quarta-feira (9) com críticas indiretas à política comercial agressiva dos EUA e pedidos por maior unidade regional frente às guerras comerciais globais. O evento reuniu líderes e representantes de 33 países, aprovando a Declaração de Tegucigalpa por “consenso suficiente”, apesar da oposição de Argentina e Paraguai, que questionaram a legitimidade desse conceito. O documento condena medidas comerciais coercitivas, em clara alusão às tarifas impostas recentemente por Donald Trump, reafirma a CELAC como zona de paz, defende maior articulação multilateral e manifesta apoio à estabilização do Haiti.
Em discurso, o presidente Lula alertou sobre o risco da América Latina voltar a ser área de influência das grandes potências em um contexto de polarização internacional, rejeitou explicitamente o bloqueio norte-americano a Cuba e afirmou que “guerras comerciais não têm vencedores”, destacando que a integração econômica regional é o melhor caminho para proteger os países latino-americanos contra medidas unilaterais. Já a presidente mexicana Claudia Sheinbaum propôs uma cúpula específica sobre bem-estar econômico baseada em respeito à soberania dos países e integração regional mais profunda, além de elogiar os migrantes latino-americanos, definindo-os como “heróis” que sustentam a economia dos EUA.
Já Miguel Díaz-Canel, presidente cubano, denunciou a agenda agressiva norte-americana sobre comércio e migração, destacando o uso indevido da base de Guantánamo para detenção de migrantes irregulares. Anfitriã do evento, a presidente Xiomara Castro responsabilizou o modelo neoliberal dos anos 90, patrocinado por Washington, pelo colapso econômico regional, dívida externa crescente e privatização dos serviços públicos. Nicolás Maduro criticou a lei migratória estadunidense que criminaliza estrangeiros e pediu unidade da CELAC em defesa dos migrantes. Em carta aos líderes da região, o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica fez um apelo emocional pela integração regional efetiva, através de diálogo permanente e ações coordenadas em fóruns internacionais, reforçando que “não é inteligente repetir os fracassos do passado”.
A cúpula também foi marcada pelo forte aceno da China. Em mensagem enviada aos países participantes, o presidente Xi Jinping afirmou que as relações sino-latino-americanas entraram numa fase mais profunda, marcada por igualdade, abertura e benefícios mútuos, e convidou a região a fortalecer os laços com Pequim como alternativa em meio à instabilidade gerada pelas tensões comerciais globais. A declaração final gerou controvérsia, com o governo argentino de Javier Milei acusando Honduras de violar normas ao aprovar o documento sem consenso total, classificando como “ilegítimo” o conceito de “consenso suficiente”, posição compartilhada pelo Paraguai. A Argentina criticou ainda o espaço dado a “regimes autoritários” dentro da CELAC e pediu a suspensão desses países até o restabelecimento da democracia (La Política Online, El Tiempo, Prensa Latina, La Diaria, La Jornada, Proceso, La Nación, SinEmbargo, UyPress, Granma, Nodal, Estrategia.la, UyPress, El Mercurio).
‘GLOBALIZAÇÃO SEM OS EUA’
A decisão do Donald Trump de suspender temporariamente as tarifas de importação para todos os países, com exceção da China, abriu uma trégua parcial na guerra comercial em curso. A medida, válida por 90 dias, exclui Pequim, que teve suas taxas elevadas para 145%. No caso do Brasil, a tarifa de 10% anunciada anteriormente foi mantida, e seguem vigentes os 25% sobre aço e alumínio, impactando diretamente as exportações brasileiras — só em 2024, o país vendeu 3,9 milhões de toneladas de aço aos EUA.
Diante do cenário, o Brasil tem adotado uma estratégia de contenção. O governo prioriza o diálogo com Washington, buscando reverter as tarifas sem acionar medidas de retaliação. Segundo a secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres, a diretriz é “negociar, negociar, negociar”. O presidente Lula reforça o tom diplomático, enquanto o vice-presidente Geraldo Alckmin aposta na conclusão do acordo Mercosul-União Europeia como forma de diversificar os parceiros.
Em contrapartida, a China vê a crise como uma oportunidade geopolítica. Ao acusar os EUA de violarem normas internacionais, Pequim se apresenta como defensora do multilateralismo e do direito ao desenvolvimento do Sul Global. O presidente Xi Jinping intensifica laços com países afetados — como Brasil, Argentina e Vietnã — e com a Europa, que também sofre pressões tarifárias. Analistas já falam em uma possível “globalização sem os EUA”, com a China preenchendo o vácuo deixado por Washington nas relações comerciais mundiais. (BBC, The Independent, Vox).
‘CONSELHO DE ÉTICA’
O Conselho de Ética da Câmara aprovou por 13 votos a 5 a cassação do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), acusado de agredir com chutes um militante do MBL nas dependências da Casa. A medida ainda precisa ser confirmada pelo Plenário e pode ser contestada na CCJ, que terá cinco dias para analisar o recurso da defesa.
A votação gerou protestos de parlamentares do PSOL, que alegaram existir um acordo informal para cassar o deputado e criticaram o presidente da Câmara por não convocar a ordem do dia no horário regimental. Em protesto contra a decisão, Glauber Braga anunciou greve de fome e prometeu permanecer nas dependências da Câmara até que o processo seja concluído. Sua esposa, a deputada Sâmia Bomfim, denunciou nas redes sociais o que chamou de “perseguição”, comparando o caso a outros em que o mesmo relator votou pela absolvição. (Sputnik)
‘ANÁLISE HUMANITÁRIA’
O líder da oposição na Câmara, Luciano Zucco, solicitou ao STF uma “análise humanitária” urgente para os presos pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. O pedido, dirigido ao ministro Alexandre de Moraes, sugere a extensão de medidas alternativas à prisão para todos os detidos em situação similar à da cabeleireira que cumpre prisão domiciliar após escrever com batom na estátua do STF. A iniciativa ocorre após o ministro Cristiano Zanin negar um habeas corpus coletivo apresentado por Zucco. A oposição também pressiona pela aprovação de um projeto de anistia, considerado inconstitucional por ministros da Corte, que classificam os atos como terrorismo e atentado à ordem constitucional — condutas que não permitem perdão institucional. Caso o projeto avance, partidos de esquerda planejam uma ação direta de inconstitucionalidade para barrá-lo. (Prensa Latina)
GILVAN DA FEDERAL
A AGU solicitou que a PF e a PGR investiguem o deputado Gilvan da Federal (PL-ES) por declarações em que desejou a morte do presidente Lula durante sessão da Comissão de Segurança Pública. O órgão considera que houve crime de ameaça e incitação à violência, questionando os limites da imunidade parlamentar. “Quero mais é que ele morra mesmo e que os seguranças pessoais andem desarmados”, afirmou o parlamentar enquanto criticava o processo que investiga Bolsonaro por tentativa de golpe.
Na mesma sessão, a comissão aprovou, por 15 votos a 8, projeto de lei que proíbe o uso de armas por seguranças de Lula e ministros. O autor da proposta afirma que a medida está alinhada com a ideologia do presidente, que não vê nas armas algo benéfico para a sociedade. O texto ainda precisa passar por outras comissões, mas líderes governistas acreditam que é inconstitucional e não deve avançar. (Sputnik)
*Imagem em destaque: Ricardo Stuckert/PR
