Discurso de Lula no Brics inclui mudança climática, crítica às guerras e defesa da taxação dos ‘super-ricos’

Discurso de Lula no Brics inclui mudança climática, crítica às guerras e defesa da taxação dos ‘super-ricos’

Na imagem, o momento que Lula discursou na Cúpula do Brics, por teleconferência / Presidência

O presidente Lula discursou por teleconferência na sessão plenária da 16ª Cúpula do Brics, que acontece em Kazan, na Rússia. Lula abriu seu discurso mencionando a proposta brasileira de Aliança Global contra a Fome e à Miséria, apresentada pela presidência do Brasil no G20, em novembro. Convidou os parceiros do Brics a aderirem à aliança e também e a um regime global de tributação dos superricos. O presidente defendeu ainda a discussão de uma moeda alternativa ao dólar no comércio internacional, de modo a favorecer as transações comerciais entre os países emergentes. Lula citou fala do presidente da Turquia na ONU, que classificou o território de Gaza, atacado por Israel há um ano, como o maior cemitério de mulheres e crianças do mundo. “Essa insensatez agora se alastra para a Cisjordânia e para o Líbano”, afirmou. O presidente fez um apelo para que o mundo reaja para promover negociações de paz entre Ucrânia e Rússia, diálogo “crucial” se evitar, ainda, uma escalada de conflitos na região e no mundo. “No momento em que enfrentamos duas guerras com potencial de se tornarem globais, é fundamental resgatar nossa capacidade de trabalhar junto em prol de objetivos comuns. Por isso, o lema da presidência brasileira (no Brics, a partir de 2025) será: fortalecer a cooperação do Sul Global para uma governança mais inclusiva e sustentável.” (G1 e Viomundo)

Na Reuters, a ênfase da cobertura do discurso de Lula foi a moeda. Segundo texto, o presidente disse que é hora de as nações do Brics criarem novos métodos de pagamento entre elas, acrescentando que o Novo Banco de Desenvolvimento do grupo foi projetado como uma alternativa ao que ele chamou de instituições falidas de Bretton Woods. “Não se trata de substituir nossas moedas, mas precisamos trabalhar para que a ordem multipolar que almejamos se reflita no sistema financeiro internacional”, disse Lula. “Essa discussão precisa ser encarada com seriedade, cautela e solidez técnica, mas não pode mais ser adiada.” O presidente brasileiro acrescentou que as iniciativas do Brics se afastam de um contexto em que as economias emergentes e em desenvolvimento financiam o mundo desenvolvido, e também ressaltou a relevância do bloco no crescimento econômico global. Reiterou seus apelos por negociações de paz entre a Rússia e a Ucrânia e chamou a guerra de Israel em Gaza de uma “insensatez que agora se espalha para a Cisjordânia e o Líbano”.

Na Tass, destaque para o Oriente Médio. Os conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio podem engolir o mundo inteiro, por isso é necessário trabalhar para resolvê-los, disse Lula na reunião ampliada da Cúpula do BRICS. “Neste momento, há dois conflitos em andamento que podem engolfar o mundo inteiro. Portanto, precisamos trabalhar juntos para solucioná-los”, disse. Anteriormente, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, declarou durante uma reunião com o enviado especial do presidente brasileiro, Celso Amorim, em Nova York, que a China, o Brasil e outros países do Sul Global estabeleceriam uma plataforma “Amigos da Paz” para promover uma solução pacífica para a crise na Ucrânia. Em maio, após consultas, Wang Yi e Celso Amorim emitiram uma declaração conjunta de seis pontos, que enfatizava que o diálogo e as negociações são a única maneira de resolver a crise ucraniana. A China e o Brasil propuseram a realização de uma conferência internacional de paz “em um momento apropriado”, com participação igualitária de todas as partes para discutir planos de paz. Em setembro, o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Ryabkov, declarou que Moscou acolheu a iniciativa de paz sino-brasileira.

Os líderes dos países do Brics elogiaram muito os esforços da Rússia como presidente da associação na declaração de Kazan. “Elogiamos a presidência do Brics pela Rússia em 2024 e expressamos nossa gratidão ao governo e ao povo da Federação Russa pela realização da XV Cúpula do BRICS na cidade de Kazan”, diz o documento. Os líderes também estenderam “total apoio” ao Brasil, que assumirá a presidência rotativa do grupo no próximo ano, e à realização da 17ª Cúpula do BRICS no país sul-americano. A 16ª Cúpula do BRICS, que é o principal evento da presidência da Rússia na associação, está sendo realizada em Kazan de 22 a 24 de outubro. O grupo BRICS foi fundado em 2006 por Brasil, Rússia, Índia e China, e a África do Sul se juntou a ele em 2011. Em 1º de janeiro de 2024, o Egito, a Etiópia, o Irã, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos se tornaram seus membros de pleno direito. A cúpula de Kazan foi a primeira a contar com a presença dos novos membros da associação. (Tass)

Quaisquer efeitos colaterais ou escalada da crise na Ucrânia devem ser evitados, disse o líder chinês Xi Jinping na Cúpula do BRICS em Kazan. “À medida que a crise da Ucrânia se arrasta <…>, devemos aderir firmemente a três princípios, a saber, evitar quaisquer efeitos colaterais da expansão das hostilidades, evitar a escalada ou ações que aumentariam as tensões”, enfatizou Xi.  Juntamente com o Brasil e os países interessados do Sul Global, a China está formando um grupo que “atrairia mais votos dos defensores da paz”, acrescentou o líder chinês. (Tass)

Veja Também:  Da revolta militar ao autogolpe: entre 1945 e 2000, houve 109 golpes de Estado na América Latina 

A Reuters preferiu um texto crítico à criação da moeda do grupo Brics. A ideia de o grupo BRICS de desafiar o dólar americano é como “estar desligado da realidade”, enquanto a China e a Índia permanecerem tão divididas e se recusarem a cooperar no comércio, disse à Reuters o ex-economista do Goldman Sachs que criou o acrônimo BRIC. O presidente russo, Vladimir Putin, está usando a cúpula dos líderes do BRICS para mostrar que as tentativas ocidentais de isolar a Rússia por causa da guerra na Ucrânia falharam e que a Rússia está criando laços com as potências emergentes da Ásia. O então economista-chefe do Goldman Sachs, Jim O’Neill, introduziu o termo BRIC em 2001 em um trabalho de pesquisa, que destacava o enorme potencial de crescimento do Brasil, Rússia, Índia e China – e a necessidade de reformar a governança global para incluí-los. Ele diz que a ideia de que o BRICS possam ser um clube econômico global genuíno é um pouco fora da realidade e é preocupante que eles se vejam como uma espécie de alternativa global, porque é obviamente inviável, disse O’Neill à Reuters. “Parece-me ser basicamente um encontro anual simbólico em que países emergentes importantes, especialmente os barulhentos como a Rússia, mas também a China, podem se reunir e destacar como é bom fazer parte de algo que não envolva os EUA e que a governança global não é boa o suficiente.” O’Neill, que admitiu que “gostaria de ter o Sr. BRICS estampado em minha testa para sempre”, disse que o BRICS, como grupo, havia alcançado muito pouco nos últimos 15 anos. Ele acrescentou que não é possível resolver questões verdadeiramente globais sem os Estados Unidos e a Europa, assim como não é possível para o Ocidente resolver questões verdadeiramente globais sem a China, a Índia e, em menor escala, a Rússia e o Brasil.

MEIO AMBIENTE

O governo brasileiro lançou na quarta-feira, em Washington, uma plataforma de investimento em transformação climática e ecológica, denominada BIP, com o objetivo de mobilizar capital internacional com uma meta inicial de US$ 10,8 bilhões.

Conforme relatado pela Reuters na terça-feira, a plataforma revelada à margem das reuniões anuais do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial reunirá projetos em três setores: energia, indústria e mobilidade, e soluções baseadas na natureza. Com a nova plataforma, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva selecionará projetos alinhados com suas políticas verdes e trabalhará para alavancar o capital estrangeiro com a coordenação do banco estatal de desenvolvimento BNDES, que também poderá contribuir com financiamento.

As autoridades brasileiras assinarão na sexta-feira (25/10) um acordo de reparação há muito aguardado com as mineradoras Vale, BHP e Samarco sobre o colapso da barragem de Mariana em 2015, de acordo com o gabinete presidencial do país na quarta-feira. O acordo será assinado em uma cerimônia com a presença do presidente Lula às 9h. A Vale, a BHP e a Samarco disseram na semana passada que o acordo deve incluir uma compensação total de 170 bilhões de reais (29,9 bilhões de dólares), com 100 bilhões de reais a serem pagos em 20 anos diretamente às autoridades públicas. (Reuters)

O mais recente trabalho do artista de rua brasileiro Mundano incorpora cinzas de incêndios florestais e lama de enchentes no Brasil para criar um mural gigante que pede o fim do desmatamento. O mural foi inaugurado nesta quarta-feira na lateral de um prédio de 11 andares no centro de SãoPaulo, acrescentando uma mensagem colorida e incisiva à rica coleção de grafites da cidade. A obra de 48 metros por 30 metros retrata tocos de árvores de uma floresta queimada e o rosto de uma mulher indígena segurando um cartaz em inglês que diz: “Stop the Destruction” (Pare a destruição). O mural foi pintado com cores feitas com as cinzas de incêndios florestais no Brasil, incluindo a Amazônia, onde grandes extensões de floresta tropical foram destruídas por incêndios recentes na pior seca já registrada. Mundano disse à Reuters que também usou lama proveniente de grandes enchentes no sul do Brasil no início deste ano. A mulher retratada no mural é a líder indígena Alessandra Korap Munduruku, que liderou uma campanha bem-sucedida para impedir que empresas multinacionais de mineração explorassem as terras ancestrais de sua tribo na Amazônia, pela qual ela ganhou o Prêmio Ambiental Goldman em 2023. (Reuters)

Tagged: , ,