Eleição de Hugo Motta e Davi Alcolumbre fortalece o Centrão e os desafios do governo

“Novos líderes eleitos para o Congresso prometem independência em relação a Lula”, diz o título da Reuters. A Câmara e o Senado elegeram no sábado novos líderes que prometeram independência em relação à administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante seus mandatos de dois anos, que serão a reta final da Presidência de Lula. Embora esperada, a eleição do deputado Hugo Motta, para presidente da Câmara, e de Davi Alcolumbre, para presidir o Senado, provavelmente representará desafios para o líder de esquerda em meio à queda dos índices de aprovação. Os dois ganharam o apoio de conservadores e liberais, em parte por prometerem lutar para que o Congresso determine o destino de uma parcela cada vez maior do orçamento federal do Brasil, que pode ser gasto independentemente das prioridades do governo Lula. Os membros do Congresso agora controlam quase um quarto dos fundos disponíveis para os investimentos do governo federal e para a promulgação de políticas, uma proporção que aumentou notavelmente na última década.
As normas que regulam como os legisladores gastam esses fundos destinados estão agora sob intenso exame na Suprema Corte, uma fonte de grande tensão entre os juízes e o Congresso. Em um discurso antes de sua vitória ser confirmada, Alcolumbre enfatizou as tensões sobre os fundos destinados como um grande desafio para os próximos dois anos, mas acrescentou que estava comprometido em “preservar a independência do Senado”. Motta também prometeu fortalecer a Câmara em um discurso para os colegas legisladores, prometendo “manter sua autonomia e independência em seu relacionamento com os outros poderes”. (Reuters, sábado, 01/02)
As novas autoridades do Congresso complicam o cenário para Lula. A eleição de Hugo Motta e Davi Alcolumbre como presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado fortalece o poder do bloco do Centrão e complica a estratégia do presidente. Lula enfrenta um novo desafio que marcará a segunda metade de seu governo. No sábado, o Congresso elegeu dois políticos centristas com laços de longa data com o bolsonarismo como presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado até 2027, aumentando os riscos políticos para um governo que enfrenta queda de popularidade. A articulação incluiu tanto o partido do governo quanto a oposição pró-Bolsonaro, em uma demonstração do poder de negociação do chamado Centrão, o bloco de partidos que normalmente define a governabilidade no Brasil. Os novos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, Hugo Motta, do Partido Republicano, e Davi Alcolumbre, do Partido União, assumiram o cargo com apoio esmagador: Motta obteve 444 votos de um total de 513 possíveis e Alcolumbre, 73 de 81.(La Nación)
O Brasil renovou suas autoridades congressuais, as duas mais importantes presidências abaixo do chefe de Estado. Mas todos os olhos estão voltados para Motta, porque ele detém a maioria na Câmara dos Deputados e tem a chave, entre outras coisas, para iniciar o processo de impeachment. Hugo Motta é médico por formação e foi eleito pela primeira vez para a Câmara em 2010, aos 21 anos, idade mínima para se tornar deputado federal. Em sua primeira passagem pela Câmara, atuou como membro do MDB, partido de Michel Temer que se notabilizou por seu papel no impeachment de Dilma Rousseff em 2016 e o mesmo partido de Eduardo Cunha, presidente da Câmara na época. Seus colegas o definem como “uma referência da nova direita, digamos que ele estava com Michel Temer, apoiou Paulo Guedes para privatizar empresas com a ala libertária do ex-ministro bolsonarista, Adolfo Sachsida (ex-ministro de Minas e Energia)”. (La Politica Online)
LULA GANHA DOS OPOSITORES
Lula venceria em todos os cenários contra todos os candidatos. Essa é a conclusão da última pesquisa da empresa de consultoria Genial/Quaest. A pesquisa indica que Lula venceria Eduardo Bolsonaro (44 x 34), Pablo Marçal (44 x 34), Tarcisio de Freitas (43 x 34), Romeu Zema (45 x 28) e Ronaldo Caiado (45 x 26). Considerando o nível de votos da oposição (entre 26% e 35%), é possível concluir que nenhum nome conseguiu mobilizar a totalidade dos 49% que desaprovam o governo Lula. (La Politica Online)
DESIGUALDADE NO BRASIL
O Le Monde Diplomatique traz reportagem sobre os desafios da desigualdade no Brasil. O texto diz que a pobreza é multidimensional, incluindo, além da renda per capita ou do domicílio, a qualidade do acesso à saúde, à educação, à moradia digna, ao lazer e à cultura. Isso demanda uma abordagem de políticas públicas articuladas para a superação da pobreza e da desigualdade. As desigualdades são históricas e estruturais no Brasil, refletindo desafios que não se limitam à pobreza econômica, englobando também aspectos como raça, gênero, origem e localização geográfica. De acordo o relatório “10 anos de desafios e perspectivas”, da Oxfam Brasil, de 2024, a última década foi marcada por uma série de fatores socioeconômicos e políticos que resultaram em oscilações significativas nos indicadores de desigualdade.
INFLAÇÃO / TRUMP
Analistas brasileiros afirmam que as tarifas anunciadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, contra o Canadá, o México e a China podem causar um aumento da inflação relacionado à moeda na maior economia da América Latina, obscurecendo as perspectivas do banco central para as taxas de juros. Embora o Banco Central do Brasil tenha enfatizado que os riscos de inflação permanecem inclinados para o lado positivo na semana passada, quando elevou sua taxa básica de juros em 100 pontos-base, ele também introduziu um risco negativo para as pressões sobre os preços no caso de “um cenário menos inflacionário para as economias emergentes decorrente de choques no comércio internacional ou nas condições financeiras globais”. Dois ex-diretores do banco central brasileiro, que pediram anonimato para falar livremente, disseram que a declaração de política econômica, que já era vista como mal formulada na semana passada, agora parece ainda mais equivocada à luz do potencial de uma guerra comercial cada vez maior. “O cenário é claramente inflacionário para o Brasil, e também aumenta os riscos de que o próprio país possa ser alvo (de tarifas), levando a uma maior depreciação da moeda. O ambiente externo tornou-se significativamente mais adverso e arriscado”, disse um deles. (Reuters)
VENEZUELA / BRASIL
A Venezuela e o Brasil reafirmaram hoje aqui os laços de amizade e o respeito mútuo pela soberania de seus povos. O anúncio foi feito pelo ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, no Telegram, após uma reunião com seu homólogo do gigante sul-americano, Mauro Vieira. Os diplomatas se reuniram na capital surinamesa no contexto da XV Reunião de Ministros de Relações Exteriores da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica. “Tivemos o prazer de manter uma reunião cordial com o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira”, disse ele. Gil ressaltou que essa reunião “nos permitiu reafirmar nossos laços de amizade e respeito mútuo pela soberania de nossos povos”. (Prensa Latina)
COP 30 / HOSPEDAGEM
Nove meses antes da cúpula anual da ONU sobre o clima deste ano, conhecida como COP30, os preços de hospedagem na cidade-sede brasileira de Belém estão chamando a atenção – e podem em breve afastar os possíveis participantes da primeira reunião desse tipo na floresta amazônica. Com a escassez de acomodações e os altos juros, os proprietários de imóveis e as empresas de aluguel estão se sentindo encorajados a cobrar tarifas de cinco dígitos, mesmo para quartos apertados com banheiros compartilhados.
No Booking.com, um dos últimos quartos de hotel disponíveis listados, um apartamento plano, está custando US$ 15.266 para uma pessoa, um aumento de US$ 158 para a mesma categoria atualmente – um aumento de 9.562%. Uma estadia de 15 dias durante a conferência em novembro totalizaria US$ 228.992, o suficiente para comprar um apartamento de quatro quartos em um dos principais bairros de Belém. (Independent)
Na imagem, o presidente Lula com os líderes da Câmara, Hugo Motta (esq.), e do Senado, Davi Alcolumbre em encontro no Planalto nesta segunda-feira (03/02) / Ricardo Stuckert / PR

Jornalista, ex-Folha, Reuters e Valor Econômico. Participei da cobertura de posses presidenciais, votações no Congresso, reuniões ministeriais, além da cobertura de greves de trabalhadores e de pacotes econômicos. A maior parte do trabalho foi no noticiário em tempo real. No Fórum 21, produzo o Focus 21, escrevo e edito os textos dos analistas.