Em ofensiva contra a democracia, rede bolsonarista une financiamento, articulação internacional e treinamento de big techs

PATROCÍNIO DO EXÍLIO GOLPISTA
Jair Bolsonaro prestou depoimento nesta quinta-feira (5) à Polícia Federal e confirmou ter transferido R$ 2 milhões via Pix ao filho Eduardo Bolsonaro, atualmente nos Estados Unidos. Segundo ele, o dinheiro é “limpo” e foi enviado para ajudar o filho, que vive com a família no exterior. A admissão reforça as suspeitas de que Bolsonaro financia a estadia e as atividades políticas de Eduardo, investigado por articular sanções contra autoridades brasileiras e atacar o STF em eventos da extrema direita nos EUA.
A PGR aponta que, além da transferência, há indícios de que o ex-presidente banca advogados, assessores e campanhas digitais do filho, o que pode configurar obstrução de justiça e tentativa de interferência internacional em processos judiciais no Brasil. O ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou a oitiva como parte da apuração sobre uma possível rede de articulação transnacional bolsonarista contra as instituições democráticas brasileiras (CNN Brasil, Prensa Latina).
BIG TECHS E SOBERANIA DIGITAL
Em outra frente do mesmo embate institucional, o STF retomou ontem (4) julgamento que pode redefinir a responsabilização das plataformas digitais no Brasil. Em discussão está o artigo 19 do Marco Civil da Internet, que isenta empresas como Google e Facebook de responder por conteúdos de terceiros até ordem judicial específica. O tema também se conecta diretamente aos ataques de janeiro de 2023 e aos conflitos entre o STF e plataformas como X e Rumble. Lula reforçou recentemente a urgência de regulação internacional, citando conversas com Xi Jinping sobre cooperação global — para o presidente, a internet não pode seguir como um “banco de mentiras” descontrolado.
O julgamento ocorre sob crescente pressão dos EUA contra o Brasil, especialmente contra Moraes, alvo de ameaças de sanções por senadores republicanos trumpistas. Cientistas políticos da UFF e UnB alertam que as plataformas já operam como braços geopolíticos estrangeiros, moldando debates através de algoritmos opacos e fora das leis nacionais. Isabela Rocha (UnB) identifica um “metatrumpismo” — aliança entre big techs e extrema direita internacional — e defende investimento brasileiro em infraestrutura digital própria para garantir soberania. A regulação, sustentam os especialistas, representa resposta legítima contra corporações que influenciam políticas e desinformam sem responsabilização pública (O Guardião, Pátria Latina).
GOOGLE, META E O MANUAL DIGITAL DO BOLSONARISMO
O jornalista Sérgio de Sousa, do Intercept Brasil, acompanhou de dentro o 2º Seminário Nacional de Comunicação do PL, realizado na última sexta-feira (30) em Fortaleza. Misturado à militância bolsonarista, ele testemunhou workshops conduzidos por executivos do Google e da Meta, que apresentaram ferramentas de inteligência artificial para impulsionar campanhas políticas. Técnicas para criar vídeos ultrarrealistas, editar imagens com IA e automatizar o uso do WhatsApp foram ensinadas a uma plateia de influenciadores, ativistas e políticos da extrema direita. Jair Bolsonaro, no encerramento, exaltou a “liberdade” digital e defendeu a comunicação como frente de batalha. O evento escancarou a parceria entre big techs e o bolsonarismo, revelando o alinhamento das plataformas com estratégias digitais ultraconservadoras — um treinamento de guerra com foco em 2026 (The Intercept Brasil).
FORÇAS ARMADAS E GOLPISMO
A Marinha do Brasil expulsou nesta quarta-feira (4) o suboficial Marco Antônio Braga Caldas, primeiro militar a perder o posto por envolvimento nos atos de 8 de janeiro de 2023. A decisão foi tomada por junta disciplinar da própria força após avaliação das infrações do militar condenado pelo STF a 14 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado, destruição do patrimônio público e associação armada. Braga Caldas foi preso no Palácio do Planalto após participar da invasão às sedes dos Três Poderes e afirmou ao STF que desconhecia quem financiou sua ida a Brasília, alegando que sua motivação seria protestar contra o resultado eleitoral. A denúncia indica, porém, que ele passou pelo acampamento no QG do Exército e participou desde o início dos eventos. A Marinha ainda avalia a conduta de outros militares suspeitos de envolvimento (Prensa Latina).
SUS: RECORDE DE TRANSPLANTES
O Brasil registrou em 2024 o maior número de transplantes de órgãos e tecidos da história, com 30.300 procedimentos — superando o recorde de 2023 (28.700 cirurgias), segundo dados do Ministério da Saúde divulgados nesta quarta-feira (4). O SUS realizou 85% das operações e passou a oferecer transplantes de intestino delgado e multiviscerais, procedimentos de alta complexidade.
Apesar do avanço, 78 mil pessoas aguardam na fila e mais da metade das famílias recusa a doação. O governo pretende lançar um programa de capacitação para equipes que dialogam com parentes de potenciais doadores. Estão em andamento a criação de testes virtuais para acelerar compatibilidade entre doador e receptor, estudos para incorporar membranas placentárias no tratamento de queimaduras e projetos de expansão dos transplantes nas regiões Norte e Nordeste (Prensa Latina).
POPULARIDADE DE LULA ENFRENTA DESAFIOS
Pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quinta-feira (5) aponta que a desaprovação ao governo Lula alcançou 57% em maio, enquanto a aprovação recuou para 40%, o menor índice desde o início do terceiro mandato. O resultado é atribuído, em parte, à repercussão negativa do caso envolvendo o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, reconhecido por 82% da população. Apesar disso, indicadores econômicos mostram sinais de recuperação e ajudam a conter uma deterioração maior da imagem presidencial.
Houve melhora na percepção sobre a inflação de alimentos e combustíveis, além de uma queda significativa entre os que consideram que a economia piorou. Especialistas da Quaest identificam um “desequilíbrio informativo” como fator decisivo: o volume de notícias negativas sobre o governo foi mais do que o dobro das positivas, o que impacta diretamente a opinião pública. A pesquisa também revela que cerca de 60% da população desconhece as medidas implementadas pelo governo, mesmo que aprovadas por ampla maioria entre os que as conhecem. O desafio, agora, é reverter a frustração de expectativas e comunicar com mais eficácia os avanços em curso (La Política Online).
ALIANÇA POR JUSTIÇA CLIMÁTICA
Uma nova articulação internacional de resistência ao extrativismo será lançada durante a Cúpula dos Povos, evento paralelo à COP30, que acontecerá em novembro, em Belém. A Rede Internacional dos Povos contra o Extrativismo surge de coletivos populares, indígenas, camponeses e sindicalistas para enfrentar a exploração corporativa dos territórios, unindo organizações contra grandes projetos de mineração, agronegócio, energia e infraestrutura que impactam ecossistemas e comunidades, principalmente nos países do Sul Global. A iniciativa prevê mapeamento de lutas territoriais, formação de alianças com movimentos sociais e estratégias conjuntas contra transnacionais do setor, questionando também o “capitalismo verde” e a militarização como formas contemporâneas de intervenção externa e defendendo transição ecosocial enraizada nas bases locais (CADTM).
TARIFAÇO
Os EUA anunciaram nesta quarta-feira (4) a duplicação das tarifas sobre importações de aço e alumínio, que passaram de 25% para 50%. Assinada por Donald Trump, a medida afeta diretamente países como Brasil, México, China e Coreia do Sul, sob o argumento de proteger a segurança nacional. O Brasil, um dos principais exportadores de aço para os EUA, pode sofrer impactos imediatos em sua balança comercial. A União Europeia criticou a decisão, e a China acusou Washington de violar acordos recentes.
Trump também anunciou novas barreiras no setor aeronáutico e elevou o tom contra a China, em meio ao agravamento das disputas comerciais. Especialistas alertam que, ao penalizar insumos industriais estratégicos, os EUA dificultam sua própria reindustrialização. A política protecionista amplia a instabilidade global e pressiona economias parceiras (CLAE).
USO DA FOME COMO ARMA DE GUERRA
O governo brasileiro condenou nesta quarta-feira (4) os ataques israelenses na Faixa de Gaza que resultaram em centenas de mortes civis, muitas em centros de distribuição humanitária. O Itamaraty classificou como “absolutamente inaceitáveis” o uso da fome como instrumento de guerra e disparos contra pessoas em situação de vulnerabilidade, exigindo investigação independente sobre os bombardeios. Em discurso, o presidente Lula declarou que “o que está acontecendo em Gaza não é uma guerra. É um exército matando mulheres e crianças”, defendendo a saída diplomática com fim do bloqueio a Gaza, retirada das forças israelenses dos territórios ocupados e respeito ao Direito Internacional Humanitário. O presidente afirmou que “o povo palestino tem direito a viver com dignidade e segurança” e cobrou ação da comunidade internacional (Prensa Latina).
BRICS: GEOPOLÍTICA E SOBERANIA
Autoridades brasileiras reiteraram nesta quarta-feira (4), durante a abertura do XI Fórum Parlamentar do BRICS, o compromisso do país com uma ordem geopolítica baseada em soberania e multipolaridade. O presidente da Câmara, Hugo Motta, defendeu a democratização da governança internacional e reforma do Conselho de Segurança da ONU, considerando o modelo atual concentrador e ultrapassado. O coordenador do BRICS na Câmara afirmou que o mundo precisa de alianças justas em vez de hegemonias, enquanto o senador Humberto Costa enfatizou o papel ativo do Brasil na configuração geopolítica global. O vice-presidente Geraldo Alckmin destacou as prioridades da presidência brasileira do bloco: saúde global, transição verde, governança da IA e paz mundial, consolidando o BRICS ampliado como alternativa à concentração do poder global (Prensa Latina).
