Embate entre Lula e Milei marca Cúpula do Mercosul; visita a Cristina reafirma união contra lawfare

CLIMA DE CONFRONTO
A 66ª Cúpula do Mercosul, realizada nesta quinta-feira (3) em Buenos Aires, foi marcada por fortes divergências entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Javier Milei. Durante a transferência da presidência temporária do bloco ao Brasil, Milei criticou duramente a estrutura atual do Mercosul, classificando-a como uma “cortina de ferro”, e ameaçou retirar a Argentina caso suas propostas de abertura econômica e flexibilização comercial não sejam atendidas.
Em resposta, Lula defendeu o Mercosul como um espaço essencial para a proteção econômica e política regional frente às tensões globais. O presidente brasileiro apresentou cinco eixos prioritários para sua gestão à frente do bloco, que se estende até o fim de 2025: fortalecimento do comércio intra-bloco e com parceiros externos; combate às mudanças climáticas e incentivo à transição energética; avanço no desenvolvimento tecnológico, especialmente em Inteligência Artificial; enfrentamento ao crime organizado transnacional; e ampliação dos direitos sociais e trabalhistas com a retomada das cúpulas sociais e sindicais do Mercosul.
Além de Argentina e Brasil, participaram da cúpula os presidentes do Paraguai, Santiago Peña; do Uruguai, Yamandú Orsi; da Bolívia, Luis Arce; e do Panamá, José Raúl Mulino. O evento confirmou também um importante avanço comercial com a assinatura do tratado de livre comércio com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), integrada por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein, além de estabelecer o compromisso de finalizar o acordo pendente com a União Europeia até dezembro deste ano.
Em paralelo, ministros da Economia dos países-membros discutiram temas como cooperação energética, integração econômica e novos projetos comerciais bilaterais, especialmente entre Brasil e Argentina (La Política Online, El Mercurio, La Nación, elDiarioAR, la diaria, Ámbito, Prensa Latina, Página/12).
¡AVANTI MOROCHA!
Lula dispensou o almoço protocolar oferecido pelo governo argentino ao final da Cúpula para prestar solidariedade à líder peronista Cristina Kirchner. A visita à ex-presidenta, que cumpre prisão domiciliar desde 17 de junho, durou aproximadamente 50 minutos e foi realizada em clima de apoio mútuo.
Acompanhado por membros de sua comitiva, o presidente chegou por volta das 12h30 desta quinta-feira (3). A visita ocorre no contexto da condenação de Cristina na causa Vialidad e do cumprimento da pena em regime domiciliar. Lula, que enfrentou situação semelhante durante a operação Lava Jato, já havia expressado solidariedade à ex-presidenta em junho, após uma conversa telefônica entre os dois, quando afirmou que ela atravessava um “momento difícil”.
Em editorial durante seu programa na Rádio AM 750, o jornalista Víctor Hugo Morales afirmou que o gesto de Lula remete a experiências semelhantes enfrentadas por ambos, marcadas por condenações judiciais e campanhas midiáticas. Para ele, o reencontro em Buenos Aires representa um capítulo simbólico da história recente da América Latina, conectando trajetórias políticas que, após transformarem as realidades de seus países, foram submetidas a processos que buscam silenciar lideranças com forte vínculo popular.
Pelas redes sociais, Cristina agradeceu ao gesto de Lula: “Hoje recebemos o camarada Lula em minha casa, onde me encontro em prisão domiciliar por decisão de um Poder Judiciário que há muito deixou de ocultar sua subordinação política e se tornou um partido político a serviço do poder econômico”. Lula, por sua vez, desejou “toda a força para seguir lutando com a mesma firmeza que tem sido a marca de sua trajetória na vida e na política” (El Mundo, La Nación 1, La Nación 2, La Política Online, El Mercurio, eldiario.es, El Tiempo, Página/12, elDiarioAR, CNN Brasil).
PANAMÁ 2026: NOVA AGENDA REGIONAL
Ainda durante a Cúpula do Mercosul em Buenos Aires, Lula confirmou presença no Fórum Econômico da América Latina, previsto para janeiro de 2026, na Cidade do Panamá. Em encontro bilateral, o presidente brasileiro e seu homólogo panamenho, José Raúl Mulino, defenderam maior integração econômica entre Brasil e América Central, com foco em infraestrutura e comércio. Além de propor o envio de missão empresarial ao país, Lula prometeu revisar a inclusão do Panamá na lista fiscal brasileira e anunciou que poderá visitar o Canal do Panamá para conhecer a operação logística. A reaproximação foi tratada como uma forma de preencher “lacunas históricas” entre os dois países (Prensa Latina).
SOLIDARIEDADE SEM FRONTEIRAS
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) iniciou uma campanha nacional para arrecadar fundos destinados à compra de medicamentos para hospitais cubanos, duramente afetados pela intensificação do bloqueio imposto pelos EUA. A mobilização, presente em 24 estados brasileiros, propõe um gesto concreto de solidariedade internacional diante da escassez de energia, gás e insumos médicos na ilha. O MST afirma que não se trata apenas de ajudar um país amigo, mas de defender um símbolo de resistência e retribuir a solidariedade histórica de Cuba. Os recursos serão usados na aquisição direta de remédios e enviados a Havana por via aérea (Prensa Latina).
JUSTIÇA FISCAL
“Se eu não for ao STF, não governo”, disse Lula nesta quarta-feira (2) sobre a decisão do governo de recorrer à Suprema Corte após a derrubada do decreto que aumentava o IOF para setores de alta renda. Ele garantiu que não se trata de aumento de imposto, mas de justiça tributária, afirmando que os ricos precisam contribuir para não faltar dinheiro em saúde e educação. O presidente ainda defendeu cortar parte dos R$ 860 bilhões em isenções fiscais, criticando o lobby de fintechs e casas de apostas (NODAL).
2 DE JULHO DO POVO
Lula propôs transformar o 2 de Julho em data nacional da consolidação da independência do Brasil, em homenagem à expulsão das últimas tropas portuguesas em 1823, na Bahia. Já celebrado no estado, o marco não se tornaria feriado, mas passaria a integrar o calendário oficial do país como símbolo de resistência popular (Público).
*Imagem em destaque: Bueno Aires – 03/07/2025 – Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante encontro com Cristina Kirchner. Buenos Aires, Argentina. Foto: Ricardo Stuckert/ PR
