“Haverá reciprocidade do Brasil”, diz Lula em resposta a ameça de taxação de Trump

LEI DO RETORNO
O presidente Lula afirmou nesta quinta-feira (30) que o Brasil responderá à altura se Donald Trump impor tarifas aos produtos brasileiros. “É muito simples, se ele taxar os produtos brasileiros, haverá reciprocidade do Brasil em taxar os produtos que são exportados para os Estados Unidos. Simples”, declarou o presidente em coletiva de imprensa. Ele ressaltou que respeita os Estados Unidos, mas espera o mesmo respeito por parte do presidente norte-americano.
A declaração foi uma resposta às recentes críticas de Trump, que acusou Brasil, China e Índia de adotar políticas comerciais prejudiciais à economia estadunidense. O republicano reforçou sua retórica protecionista, afirmando que esses países prejudicam os Estados Unidos com suas tarifas. “Vamos taxar países e pessoas que querem nos prejudicar. Não permitiremos isso de novo, porque vamos priorizar a América (sic)”, declarou em evento para correligionários na segunda-feira (27).
Lula destacou a importância do respeito mútuo nas relações diplomáticas e comerciais. “Não me preocupo se ele vai brigar pela Groenlândia, se ele vai brigar pelo Golfo do México, se ele vai brigar pelo Canal do Panamá. Ele só tem que respeitar a soberania de outros países. Ele foi eleito para governar os Estados Unidos da América do Norte. E os outros presidentes foram eleitos para governar os seus países”, disse. Apesar da postura firme, Lula expressou interesse em fortalecer os laços comerciais com os EUA, um dos principais parceiros econômicos do Brasil.
Enquanto isso, o Itamaraty anunciou um acordo com a Embaixada dos Estados Unidos em Brasília para criar um grupo de trabalho voltado à coordenação dos voos de repatriação de brasileiros. Também foi estabelecida uma linha direta de comunicação para monitorar esses voos em tempo real. Apesar das tensões, o governo brasileiro acredita que a situação não deve escalar.
CLIMA DE DESCONFIANÇA
A controvérsia entre Lula e Trump também reflete a desconfiança do presidente brasileiro em relação aos compromissos internacionais dos países ricos, especialmente na área ambiental. Durante a coletiva, Lula afirmou não acreditar mais nas promessas de compensação financeira feitas por nações desenvolvidas para países que preservam suas florestas como parte do combate às mudanças climáticas.
“Se a gente não fizer uma coisa forte, essas COPs vão ficar desmoralizadas, porque se aprovam as medidas, fica tudo muito bonito no papel, e depois nenhum país cumpre”, criticou, lembrando que os EUA, sob o governo Trump, abandonaram o Acordo de Paris e já haviam descumprido o Acordo de Kyoto.
O presidente ressaltou que a COP30, marcada para novembro em Belém, será crucial para estabelecer ações concretas e garantir que os fundos prometidos cheguem diretamente às comunidades afetadas pelo desmatamento. “Quando a gente fala que vai chegar o desmatamento zero em 2030, as pessoas têm que saber que embaixo da copa de cada árvore tem um indígena, tem um ribeirinho, tem um pequeno trabalhador rural e essa gente tem que ter acesso às coisas que todo mundo tem. Essa gente quer ter bens materiais que a civilização conquistou. Então é essa discussão séria que a gente quer fazer na COP 30”, destacou (La Política Online, TeleSUR, El Tiempo, Agência EFE, Prensa Latina, Reuters).
ALÔ, LULA!
O presidente do Chile, Gabriel Boric, conversou por telefone com o presidente Lula nesta quarta-feira (29). Os dois falaram sobre a importância de fortalecer a integração da América Latina e do Caribe e abordaram desafios históricos da região, como a redução das desigualdades, a inclusão social e o desenvolvimento sustentável.
Também trataram dos preparativos para a próxima reunião de líderes em defesa da democracia, compromisso firmado em setembro de 2024, durante o evento “Em Defesa da Democracia: Combatendo o Extremismo”, na 79ª Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque. Boric ainda confirmou uma visita oficial ao Brasil em abril deste ano (La Nación Chile).
SELIC NAS ALTURAS
O Banco Central (BC) elevou na quarta-feira (29) a taxa básica de juros para 13,25%. Foi a primeira decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) sob a presidência de Gabriel Galípolo, nomeado pelo governo em meio a pressões inflacionárias.
O aumento de um ponto percentual na Selic, já previsto desde dezembro, marca a quarta alta consecutiva desde o início do ciclo de ajustes em setembro. A economia aquecida e a preocupação dos investidores com o déficit fiscal têm pressionado os preços em 2024. Apesar de uma relativa calma nos últimos meses, o BC reforçou o compromisso de adotar as medidas necessárias para alcançar a meta de inflação de 3%, com a expectativa de elevar a taxa para 14,25% até março (Ámbito).
CHINA ACELERANDO
A fabricante automotiva Stellantis anunciou que, a partir de abril de 2025, começará a comercializar veículos da marca chinesa Leapmotor na América Latina, com Brasil e Chile como os primeiros mercados a receber os modelos. A iniciativa faz parte de um acordo firmado entre as duas empresas em 2023.
A estratégia da Stellantis visa expandir sua presença na região com modelos híbridos, alinhando-se à tendência de eletrificação do setor. Durante uma coletiva de imprensa, Emanuele Cappellano, presidente da Stellantis para a América do Sul, não divulgou os modelos específicos que serão distribuídos, mas confirmou que não serão totalmente elétricos (Ámbito).
FAROL VERMELHO
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que representa cerca de 25 montadoras americanas, europeias, japonesas e sul-coreanas no Brasil, pediu nesta quarta-feira (29) ao governo federal que investigue supostas práticas de dumping por parte da China e imponha tarifas às marcas chinesas BYD e Great Wall Motors. Em comunicado, Marcio de Lima Leite, presidente da instituição, afirmou que o grupo encomendou um estudo para “defender a concorrência justa e evitar práticas que prejudiquem o mercado automotivo brasileiro”, visando proteger “consumidores, funcionários, concessionárias, fabricantes e a indústria de autopeças”.
Para a entidade, as marcas chinesas se beneficiam do dumping — venda de produtos abaixo do custo para prejudicar concorrentes a longo prazo. O estudo focará em veículos de passeio, mas a associação também planeja pressionar por investigações sobre caminhões, ônibus e maquinários agrícolas. A Anfavea representa montadoras como Audi, BMW, Fiat, Ford, General Motors, Honda, Hyundai e Toyota, entre outras, que possuem operações e fábricas no Brasil (South China Morning Post).
OPERAÇÃO SUCESSO
A Polícia Federal (PF) aumentou em 70% as apreensões de bens e dinheiro ligados ao crime organizado em 2024, totalizando 5,6 bilhões de reais, ante 3,3 bilhões em 2023. “Esses números mostram o sucesso das operações e a redução da capacidade do crime organizado”, destacou o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, durante divulgação dos dados.
Lewandowski citou como destaque a conclusão do inquérito sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em 2018. “Esclarecer esses crimes, que geraram impunidade por anos, foi uma grande conquista da PF”, disse.
Houve ainda queda de 11,6% nos registros de armas de fogo e de 30% nas autorizações para uso restrito, reflexo da política de restringir concessões facilitadas no governo Bolsonaro (2019-2022). O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, reforçou a importância da cooperação internacional no combate ao crime organizado, destacando a eleição do brasileiro Valdecy Urquiza para a secretaria-geral da Interpol como um avanço nessa área (Prensa Latina).
VEM AÍ?
Entrevistado da semana do programa Roda Viva da TV Cultura, Andrei Rodrigues afirmou que novas acusações relacionadas à tentativa golpista após a eleição de Lula em 2022 são tecnicamente possíveis. Ele explicou que novas acusações dependem de elementos como autoria, materialidade e circunstâncias do crime. A análise do material apreendido na Operação Contragolpe continua, e um relatório adicional será enviado. Até agora, a PF indiciou 40 pessoas, incluindo Jair Bolsonaro e os generais Walter Braga Netto e Augusto Heleno.
Sobre a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-assessor de Bolsonaro, Rodrigues disse que a PF busca provas para confirmar ou descartar as informações. “Assim que tivermos um resultado conclusivo, apresentaremos ao Judiciário”, afirmou. No entanto, a PF não encontrou elementos suficientes para acusar Michelle Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro, citados por Cid, mas sem evidências adicionais que sustentem as acusações (Prensa Latina).
*Imagem em destaque: Reprodução/Youtube
