Itamaraty pede explicações a embaixada dos EUA; Trump volta a ameaçar com sobretaxa

BRASIL PEDE EXPLICAÇÕES
O Brasil convocou nesta segunda-feira (26) o encarregado de Negócios dos Estados Unidos em Brasília, Gabriel Escobar, para pedir explicações sobre o tratamento dado aos 88 migrantes deportados no fim de semana. Escobar assumiu o cargo em 21 de janeiro e está à frente da missão diplomática, uma vez que Donald Trump ainda não nomeou um novo embaixador no Brasil.
As autoridades brasileiras exigiram tratamento digno e humano para os repatriados. Em comunicado oficial, o governo de Lula classificou o episódio como uma violação dos tratados firmados entre os dois países e protestou contra o uso indiscriminado de algemas. Alguns dos brasileiros deportados, que foram detidos nos EUA por não terem a documentação necessária, denunciaram que, além de algemados, foram agredidos, privados de alimentação e de acesso a serviços, como o uso de banheiro, durante o voo (O Guardião, Prensa Latina, Expresso).
TRUMP ATACA
Aumentando ainda mais a tensão com o Itamaraty, Donald Trump voltou a atacar o Brasil nesta segunda (27), acusando o governo de impor tarifas elevadas sobre produtos estadunidenses e colocando o país no grupo dos que “querem mal” aos EUA. “[Vamos impor] tarifas a países e pessoas que realmente nos querem mal. China, Índia, Brasil e muitos outros fazem isso. Não vamos deixar isso acontecer de novo, porque vamos colocar a América sempre em primeiro lugar”, afirmou ele, em um discurso para correligionários na Flórida, nesta segunda-feira (27).
Trump também comentou sobre o desentendimento com a Colômbia, que se recusou a receber voos com imigrantes deportados, no domingo, mas acabou voltando atrás na segunda-feira. “Vamos proteger nosso povo, nossos negócios e nosso país com tarifas. Vocês viram um pequeno exemplo disso ontem, com o que aconteceu com um país muito forte. A Colômbia é tradicionalmente forte, mas se não fabricarem seus produtos na América, terão que pagar tarifas que gerarão trilhões de dólares para o nosso tesouro, vindos de países que nunca nos pagaram nem 10 centavos”, disse Trump.
Logo após a posse, Trump já indicava a tensão nas relações com o Brasil. Ao ser questionado sobre o tema, afirmou que a relação seria boa, mas destacou que o Brasil precisaria mais dos EUA do que o contrário. Outro gesto hostil de Washington foi a suspensão do financiamento à Organização Internacional para as Migrações (OIM), ligada à ONU, que agora será forçada a interromper suas atividades no Brasil pelos próximos três meses.
A política de deportação em massa da Casa Branca levou Lula a se comunicar com Vladimir Putin, sinalizando que a prioridade do Brasil está no fortalecimento do BRICS, bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, além de membros recentes como Arábia Saudita, Egito e Emirados Árabes Unidos.
Apesar da tensão com os EUA, o governo brasileiro não demonstra preocupação. Fontes próximas a Lula afirmaram: “Estamos em um momento de mudança e precisamos agir com calma”, ressaltando que o Brasil não responderá de forma agressiva, distanciando-se da estratégia de confronto adotada pelo presidente colombiano Petro (La Política Online).
MILEI NA SOMBRA DE TRUMP
Depois de anunciar a instalação de uma cerca em Aguas Blancas, Salta, na fronteira com a Bolívia, sob a justificativa de conter rotas do tráfico de cocaína e o contrabando de produtos, a ministra da Segurança argentina, Patricia Bullrich, declarou que seu governo vai reforçar os controles também nas fronteiras com o Brasil e outros países vizinhos.
Bullrich disse que áreas como Misiones, a Tríplice Fronteira e locais críticos como Bernardo de Irigoyen e Salvador Mazza também estão sob análise, por conta de suas vulnerabilidades, como a travessia a pé e crimes como o sicariato. O governo pretende recuperar drones adquiridos gestão de Mauricio Macri, e contar com a presença da Gendarmería Nacional, órgão público argentino especializado na segurança de fronteiras.
Ressaltando que as políticas adotadas vão se ajustar de acordo com as dinâmicas econômicas e cambiais entre os países, Bullrich reforçou que o governo de Javier Milei não recuará diante do narcotráfico e do contrabando. “Na Argentina, mandam a Lei e a Ordem. Contra o narcotráfico, nem um passo atrás”, afirmou (Ámbito, La Nácion).
*Imagem em destaque: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
