“Linha de chegada do acordo UE-Mercosul está à vista”, afirma Von der Leyen
UE-MERCOSUL
A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, afirmou nesta quinta-feira (5) que o acordo UE-Mercosul está próximo de ser concluído. Antes de aterrissar em Montevidéu, onde parcitipará da cúpula do Mercosul, Von der Leyen publicou no X: “A linha de chegada do acordo UE-Mercosul está à vista. Trabalhemos. Vamos cruzá-la”. Ela destacou a oportunidade de criar “um mercado de 700 milhões de pessoas, a maior parceria comercial e de investimentos já vista, com benefícios para ambas as regiões”.
A Comissão Europeia manteve o planejamento da viagem em sigilo, apesar dos avanços recentes nas conversas com Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai. As discussões estavam travadas por exigências ambientais, mas retomaram força no nível político. Segundo Sabine Weyand, diretora de Comércio da Comissão Europeia, os esforços estão focados em alcançar um bom desfecho para a Europa, em um momento em que o crescimento da China e o retorno de Donald Trump à presidência dos EUA criam desafios econômicos. A expectativa é que o acordo elimine barreiras tarifárias entre UE e América Latina.
Entretanto, o projeto enfrenta resistência dentro da EU, com França, Holanda e Áustria rejeitando a ratificação; Itália pede ajustes, enquanto Espanha e Alemanha pressionam pela aprovação. Na América Latina, com as articulações do presidente Lula, houve avanços, mas a resistência de agricultores europeus, preocupados com a entrada de produtos sul-americanos, ainda traz desafios. As tratativas começaram em 1999 e, após 20 anos, resultaram em um princípio de acordo em 2019.
Lula, Lacalle Pou e Santiago Peña devem apoiar formalmente o progresso do acordo. A chegada de Javier Milei, que participa de sua primeira cúpula regional e assumirá a presidência temporária do Mercosul pelos próximos seis meses, deve trazer tensões ao encontro. Uma das principais discussões será a ameaça do presidente argentino de abandonar o bloco para buscar acordos de livre comércio fora do Mercosul, incluindo com os Estados Unidos.
O governo Milei tem interesse em um tratado com os EUA, mas enfrenta barreiras dentro do Mercosul, como a burocracia administrativa, interesses econômicos industriais e acordos bilaterais com o Brasil que poderiam ser prejudicados. A proposta do libertário, apresentada em agosto, defende que países possam negociar individualmente com terceiros caso não haja consenso após duas rodadas de debate no bloco. Especialistas apontam que isso comprometeria a estrutura decisória do Mercosul e criaria precedentes ruins, como dificuldades na definição de tarifas e na cooperação regional.
Apesar do otimismo de Von der Leyen, questões políticas e econômicas continuam dificultando a conclusão definitiva da parceria. Enquanto isso, o Mercosul avança em outras frentes, como o acordo com Singapura e a incorporação da Bolívia como membro pleno, além de iniciativas para reduzir barreiras comerciais internas e melhorar a integração energética e de infraestrutura (La Nación, elDiarioAR, LaPolíticaOnline).
BRASIL E ANGOLA
O ministro da Agricultura e Pecuária brasileiro (Mapa), Carlos Fávaro, chegou nesta quinta-feira (5) a Angola liderando uma missão oficial voltada ao fortalecimento das relações agropecuárias entre os dois países. O destaque da visita será sua participação no Fórum Agro Angola-Brasil, que acontece nesta sexta (8).
Fávaro se reunirá com Isaac Francisco Maria dos Anjos, ministro da Agricultura e Florestas de Angola, e José de Lima Massano, ministro de Estado para a Coordenação da Economia. Já o Fórum Agro Angola-Brasil buscará conectar empresários, especialistas e líderes do setor para troca de experiências e fortalecimento de parcerias estratégicas, além de explorar novas oportunidades de negócios.
Dados do Mapa mostram que o comércio agrícola entre os dois países está em expansão. Nos primeiros oito meses deste ano, o Brasil exportou 220 milhões de euros em produtos agropecuários para Angola, um aumento significativo em comparação aos 142 milhões de euros registrados no mesmo período de 2023. Carnes e produtos derivados da cana-de-açúcar representam os principais itens exportados (O Guardião).
CHACINA DE ACARI
A Corte Interamericana de Direitos Humanos declarou o Brasil responsável pelo desaparecimento forçado de 11 jovens negros na favela de Acari, no Rio de Janeiro, em 1990. Segundo o tribunal, eles foram sequestrados por agentes mascarados, identificados como membros de um grupo de extermínio composto por policiais militares, e seguem desaparecidos.
A sentença também apontou a responsabilidade do Estado nos assassinatos, três anos depois, de dois parentes de uma das vítimas que haviam denunciado o envolvimento dos policiais. A investigação do caso, conforme a Corte, permanece ineficaz e sem resultados, deixando os crimes impunes após 34 anos.
Como medidas de reparação, o Brasil foi ordenado a intensificar as investigações, buscar os desaparecidos, criar um memorial em Acari e avaliar a atuação de milícias e grupos de extermínio no país (Página/12).
*Imagem em destaque: Lula e Ursula von der Leyen na Missão Permanente do Brasil junto às Nações Unidas, em Nova Iorque (Ricardo Stuckert/PR)