Lula condena “matança” no Rio e promete investigação independente

DESASTROSA MATANÇA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou nesta terça-feira (4), em Belém (PA), como “desastrosa” a operação policial deflagrada em 28 de outubro nos complexos da Penha e do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, que deixou 121 mortos. Durante entrevista a agências internacionais, concedida enquanto participava dos preparativos da COP30, Lula afirmou que “a ordem do juiz era uma ordem de prisão, não uma ordem de matança — e houve uma matança”.
Em tom mais duro, o presidente declarou que o governo vai “quebrar a espinha dorsal do crime organizado” no país, prometendo intensificar a ação federal contra facções e milícias. Segundo ele, a violência não será combatida “com barbárie, mas com inteligência, investigação e presença do Estado onde ele nunca chegou”.
Lula anunciou que o governo federal vai pressionar por uma investigação independente, com peritos da Polícia Federal acompanhando as apurações sobre as circunstâncias das mortes. A operação, que mobilizou cerca de 2,5 mil agentes, provocou repercussão internacional e foi condenada por especialistas da ONU, pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e pela Human Rights Watch, que cobraram transparência e responsabilização do Estado brasileiro. (The Guardian, Reuters, AP News, Página 12, El Espectador)
COM CONTARATO NO COMANDO
A eleição do senador Fabiano Contarato (PT-ES) para presidir a CPI do Crime Organizado, também nesta terça, consolida o papel do governo nas discussões sobre segurança pública. Instalada no Senado Federal com prazo de 120 dias, a comissão vai investigar milícias, organizações criminosas e esquemas de lavagem de dinheiro, e deve propor medidas legislativas para fortalecer a atuação do Estado. Contarato declarou que a CPI buscará “ir até o topo da cadeia criminosa” e responsabilizar “líderes, financiadores e cúmplices”.
Em Brasília, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, reuniu-se com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, para discutir ações coordenadas e o uso de tecnologias de inteligência e rastreamento no enfrentamento ao crime organizado. Segundo Alcolumbre, o Congresso está “comprometido, de forma responsável e democrática, com medidas que fortaleçam a segurança pública e protejam a vida dos brasileiros”.
COP: GLO E DISPUTA DE NARRATIVAS
O presidente Lula autorizou o uso das Forças Armadas em regime de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para a Cúpula de Líderes e a COP30, que ocorrerão em Belém (PA) nos próximos dias. O decreto, publicado na segunda-feira (3), também inclui Altamira e Tucuruí, municípios estratégicos que concentram usinas hidrelétricas, linhas de transmissão e rotas logísticas usadas no apoio ao evento. O pedido partiu do governador Helder Barbalho (MDB) e tem caráter preventivo, voltado à segurança das delegações e à proteção da infraestrutura crítica do Estado.
Belém também sediará a Cúpula dos Povos, o fórum organizado por movimentos sociais e entidades ambientais que discutem transição ecológica, defesa dos povos da floresta e combate ao desmatamento. Os organizadores afirmam que “as alternativas para o clima estão nos territórios” e cobram ações concretas dos países desenvolvidos no financiamento climático.
Já o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, prepara sua participação na COP com uma pauta centrada em biocombustíveis e gestão de resíduos, em um movimento visto como tentativa de apresentar uma “cara verde” ao campo bolsonarista, buscando espaço na conferência dominada por discursos de desenvolvimento sustentável. (Reuters, Página 12)
BETTER CALL TRUMP
Lula afirmou que voltará a telefonar para Donald Trump caso as negociações comerciais entre Brasil e Estados Unidos não avancem nos próximos dias. O presidente disse que busca “restabelecer uma relação de respeito e previsibilidade” com o governo norte-americano e defendeu a via diplomática como caminho para resolver a disputa. Lula já havia conversado com Trump na semana anterior, quando pediu a suspensão temporária das tarifas até a conclusão de uma análise técnica conjunta. (Reuters, Bloomberg, El Tiempo)
IR: VOTAÇÃO ADIADA E PRESSÃO POPULAR
A Comissão de Assuntos Econômicos do Senado adiou para esta quarta-feira (5) a votação do projeto que eleva a faixa de isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil. O pedido de vista coletiva foi articulado após questionamentos sobre o impacto fiscal e as fontes de compensação. O governo defende que a renúncia será equilibrada pela taxação de altas rendas e de fundos exclusivos.
Mais cedo, movimentos sindicais e populares entregaram ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre, um abaixo-assinado com mais de dois milhões de assinaturas pela ampliação da isenção e pelo fim da escala de trabalho 6×1. As entidades pedem que a proposta seja aprovada “sem cortes ou postergações” e consideram a medida essencial para recompor a renda das famílias assalariadas. (Reuters, Reuters)
DENGUE: CAMPANHA E VACINA NACIONAL
O Ministério da Saúde anunciou na segunda-feira (3) uma mobilização nacional de combate à dengue, que será intensificada a partir de sexta (8) em todos os estados. A ação prevê mutirões de limpeza, visitas domiciliares e campanhas educativas, com foco especial em municípios que registraram aumento de casos no início do período chuvoso. Segundo o ministério, mesmo com a queda de notificações no Distrito Federal e em algumas capitais, o alerta segue mantido por risco de reintrodução do vírus tipo 3.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou que o Instituto Butantan deve obter ainda em 2025 a aprovação da Anvisa para a primeira vacina brasileira contra a dengue, com início da aplicação previsto para 2026. A vacina será incorporada ao Programa Nacional de Imunizações após validação final do órgão regulador.
(+) Imagem em destaque: Floresta Nacional do Tapajós (PA), 2 de novembro de 2025 — Lula durante visita a moradores de comunidades ribeirinhas. Foto: Ricardo Stuckert/PR

