Lula defende novo modelo de desenvolvimento internacional justo e inclusivo

POR TATIANA CARLOTTI
Durante a reunião anual do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), nesta sexta-feira (04/07) no Rio de Janeiro, o presidente Lula defendeu um novo modelo de desenvolvimento internacional. Ele criticou as linhas de crédito multilaterais que impõem dívidas com juros altos e condições rigorosas aos países mais pobres. Segundo ele, é necessário reformar a arquitetura financeira global para torná-la mais justa e inclusiva. Lula afirmou que o NDB deve liderar a criação de novos mecanismos de financiamento e sugeriu a criação de uma nova moeda internacional como alternativa ao dólar. Ele destacou que o modelo atual só acentua as desigualdades: “Os pobres se empobrecem mais e os ricos se enriquecem mais”, disse. O discurso foi dirigido a líderes políticos e executivos bancários presentes ao evento.
Lula também criticou a atuação das Nações Unidas, apontando sua fragilidade para criar o Estado da Palestina, apesar de ter instituído o Estado de Israel. Ele defendeu o papel do banco dos Brics na promoção de investimentos com impacto social e reforçou a importância do multilateralismo como saída para os impasses globais. O NDB já aprovou mais de 120 projetos que somam US$ 40 bilhões em investimentos, informa a cubana Prensa Latina.
Dilma
Na mesma reunião do NDB nesta manhã, a ex-presidenta Dilma Rousseff, atual diretora da instituição bancária, destacou a importância da cooperação entre os países do Sul Global para resistir a sanções e tarifas impostas como instrumentos de dominação política. Segundo ela, o cenário internacional está mais fragmentado e desigual, com sobreposição de crises econômicas, climáticas e geopolíticas, o que exige respostas conjuntas dos países emergentes. Dilma alertou para os impactos do unilateralismo crescente e das mudanças nas cadeias produtivas motivadas por interesses geopolíticos. Defendeu, ainda, que o Sul Global fortaleça a cooperação para superar as assimetrias do sistema financeiro internacional e invista em infraestrutura verde, energia limpa e tecnologias climáticas, com uso crescente de moedas locais nas transações, informa Prensa Latina
Brics sem Xi
A cúpula dos Brics no Rio de Janeiro será liderada por Lula em um momento marcado por tensões globais e pela ausência dos presidentes da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir Putin. Xi se ausenta pela primeira vez desde 2012, enquanto Putin participará remotamente por videoconferência. A reunião contará com 11 países e pretende mostrar o bloco como uma alternativa à hegemonia dos Estados Unidos, especialmente frente às políticas tarifárias de Donald Trump. Ainda assim, espera-se que o documento final da cúpula seja moderado, sem confrontar diretamente Washington, para não prejudicar negociações em andamento. Também está previsto o anúncio de um fundo de garantia com respaldo do NDB para reduzir os custos de financiamento. Os presidentes Gustavo Petro da Colômbia e Claudia Sheinbaum do México também não comparecerão ao encontro, informa a argentina La Política Online.
Putin online
O Kremlin confirmou que o presidente russo Vladimir Putin participará por videoconferência da sessão principal da cúpula dos BRICS em 6 de julho. A decisão ocorre em meio à ordem de prisão internacional emitida devido à ordem internacional de prisão emitida pelo Tribunal Penal Internacional, do qual o Brasil é signatário, o que inviabiliza a presença do presidente russo no Brasil. A cúpula abordará temas como saúde, comércio, finanças, mudança climática, inteligência artificial e segurança internacional. O evento reunirá líderes e representantes de países que compõem o bloco, além de novos membros e observadores. O Brics foi fundado em 2006 e expandido ao longo dos anos. A partir de 2024, Egito, Irã, Emirados Árabes Unidos e Etiópia passaram a integrar o grupo como membros plenos, com a Indonésia aderindo em janeiro de 2025, informa a cubana Prensa Latina.
Sul Global
A expansão do Brics representa uma oportunidade histórica de reconfigurar a governança global em favor do Sul Global, segundo María Elena Rodríguez, diretora adjunta do Centro de Políticas do Brics. Em entrevista à agência Xinhua, ela destacou o valor simbólico e estratégico do bloco como instrumento para romper com o sistema unipolar hegemônico. Embora reconheça desafios na construção de consensos com mais membros, Rodríguez afirmou que o grupo já demonstrou capacidade de articulação ao publicar comunicados conjuntos sobre temas como financiamento climático e governança da inteligência artificial. Ela ressaltou que a realização da cúpula do Brics e da COP30 no Brasil em 2025 é mais que coincidência diplomática — simboliza o momento em que o Sul Global reivindica maior espaço e influência na arena internacional.
Segurança reforçada
A Polícia Federal do Brasil coordenou nesta sexta-feira os últimos ajustes no esquema de segurança para a cúpula dos Brics que ocorrerá nos dias 6 e 7. A operação incluiu varreduras na Marina da Glória e ações conjuntas com polícias de diversos estados, visando detectar possíveis ameaças. Foram empregados equipamentos para identificação de explosivos, cães farejadores e unidades especializadas em detecção de materiais perigosos. Também foram realizadas simulações táticas no Museu de Arte Moderna do Rio, com apoio das tropas especiais da Polícia Militar. O Rio de Janeiro permanecerá fechado por quatro dias, devido ao feriado decretado pela prefeitura nos dias 5 e 8 de julho. O objetivo é garantir a segurança dos chefes de Estado e delegações internacionais participantes do evento, informa Prensa Latina.
Fundo florestal
A China indicou ao governo brasileiro que pretende investir no Tropical Forests Forever Facility (TFFF), mecanismo multilateral proposto pelo Brasil em 2023 para financiar a conservação de florestas tropicais ameaçadas em todo o mundo. A sinalização foi feita pelo ministro das Finanças da China, Lan Fo’an, em conversa com o ministro Fernando Haddad, durante um encontro preparatório à cúpula do Brics, segundo fontes ouvidas pela Reuters. Com o recuo de países desenvolvidos — como os Estados Unidos — em compromissos ambiciosos de financiamento climático, a entrada da China pode abrir caminho para que economias emergentes também contribuam de forma ativa no enfrentamento à crise climática, afirma a reportagem. A proposta visa preencher lacunas no financiamento global, que hoje cobre apenas parte dos US$ 1,3 trilhão anuais necessários para ações efetivas contra as mudanças climáticas.
Petrobras
O diplomata André Corrêa do Lago, presidente designado da COP30, defendeu a expansão da produção de petróleo da Petrobras como compatível com os objetivos de redução de emissões globais. Segundo ele, a transição energética precisa considerar a realidade econômica e tecnológica de cada país, permitindo um uso continuado de petróleo “por alguns anos”. A COP30 será realizada em novembro, na cidade de Belém, e terá como foco a implementação de acordos anteriores para eliminação gradual dos combustíveis fósseis. Corrêa do Lago minimizou críticas à posição do Brasil, afirmando que diversos países, como EUA e Noruega, também expandem suas produções. Dados do grupo Global Witness apontam que a Petrobras deve atingir 1 bilhão de barris produzidos em 2030 — 33% a mais do que em 2024. O Ministério de Minas e Energia argumenta que os recursos obtidos com a exportação de petróleo podem ser usados em energias renováveis, e que o país precisa equilibrar a transição com suas demandas sociais e econômicas, informa o Financial Times.
Milei – Mercosul
Durante a 66ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, ocorrida nesta quinta-feira (03/07), em Buenos Aires, o presidente argentino Javier Milei transferiu a presidência do bloco para o Brasil em meio a um ambiente de tensões políticas. Milei criticou o formato atual do Mercosul, sugerindo que o bloco precisa de reformas para ser mais competitivo globalmente. “Não faz sentido pensar no Mercosul como escudo, mas sim como lança para penetrar nos mercados”, afirmou. Ele advertiu que, caso os países membros mantenham práticas ineficazes, a Argentina poderá buscar flexibilizações ou mesmo deixar o bloco. A cúpula foi marcada por diferenças entre os governos da Argentina e do Brasil, com divergências sobre os rumos da integração e dos acordos comerciais com outros blocos, como o EFTA, informa o Ámbito.
O mesmo veículo destaca que durante sua passagem pela Argentina, o presidente Lula defendeu a inclusão do setor açucareiro nos acordos de livre comércio do bloco, provocando oposição no norte da Argentina, onde empresários e autoridades alertaram que a medida prejudicaria a indústria sucroalcooleira da região, que não recebe subsídios e teria que competir em condições desiguais com a produção brasileira. Representantes do setor publicaram um documento rejeitando as declarações do presidente brasileiro e ressaltando que a produção brasileira foi favorecida por subsídios durante anos.
FOTO DE CAPA:

Durante a reunião anual do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), nesta sexta-feira (04/07) no Rio de Janeiro, o presidente Lula defendeu um novo modelo de desenvolvimento internacional. Foto: Ricardo Stuckert/ PR

Repórter do Fórum 21 desde 2022, com passagem por Carta Maior (2014-2021) e Blog Zé Dirceu (2006-2013). Tem doutorado em Semiótica (USP) e mestrado em Crítica Literária (PUC-SP).