Lula e Boric condenam guerra comercial e defendem autonomia estratégica

Durante a visita de Estado de Gabriel Boric ao Brasil, o presidente chileno e Lula reforçaram a sintonia política e econômica entre os dois países, com críticas à guerra comercial e à politização do comércio internacional. “O Chile é contra uma guerra comercial e contra a politização arbitrária do comércio”, declarou Boric, defendendo autonomia estratégica e múltiplas parcerias. Lula completou: “Não quero escolher entre Estados Unidos e China. Quero negociar com todos, vender, comprar, firmar alianças.”
Os presidentes celebraram os 189 anos de relações diplomáticas entre Brasil e Chile e assinaram acordos em áreas como comércio, ciência, cultura, defesa, audiovisual e apoio a pequenas empresas. Boric destacou o valor da integração concreta, como o Corredor Bioceânico, rota de 2.400 km que ligará o Pacífico ao Atlântico, impulsionando a competitividade regional. Em 2024, o comércio bilateral superou US$ 12,5 bilhões, ultrapassando países como França e Espanha.
Lula anunciou a adesão do Brasil ao projeto LATAM-GPT, de inteligência artificial, e se comprometeu a intermediar um encontro entre Boric e Xi Jinping. Para além da agenda econômica, os dois líderes reafirmaram compromissos com a democracia, o desenvolvimento sustentável e o enfrentamento de extremismos. “Brasil e Chile estão unidos na defesa de um multilateralismo revitalizado”, afirmou Lula.
Durante coletiva de imprensa, em tom crítico à colonização portuguesa, Lula lembrou os 525 anos da chegada dos europeus ao Brasil: “Há rumores de que eles já sabiam que o Brasil existia, mas como a história precisa de um início, o início é 22 de abril de 1500.”
A visita prepara o terreno para um futuro encontro progressista em Santiago, diante da possível retomada de uma agenda conservadora na região (La Nación, La Política Online, Prensa Latina, Nuevo Poder, Correio da Manhã).
FRANCISCO: LEGADO, DESPEDIDA E FUTURO DA IGREJA
Morreu nesta segundo-feira (21), aos 88 anos, o papa Francisco, primeiro pontífice latino-americano e uma das figuras mais influentes da Igreja e da política global nas últimas décadas. Jorge Mario Bergoglio conduziu um papado centrado na defesa dos pobres, migrantes e marginalizados, sem abrir mão da humildade que o manteve próximo do povo — recusando os aposentos papais tradicionais, optando por viver em Santa Marta e promovendo uma Igreja menos hierárquica, mais aberta, participativa e atenta aos dilemas do mundo contemporâneo.
Seu pontificado ficou conhecido como o do “papa do encontro”, como definiu na autobiografia Esperança, com foco em temas como justiça climática, paz mundial e combate à exclusão. Encíclicas como Laudato Si’ e Fratelli Tutti traduziram seu pensamento social e ambiental. Ao aproximar a Igreja de setores historicamente afastados, como mulheres, pessoas LGBTQIA+ e divorciados, enfrentou forte oposição de alas conservadoras.
O presidente Lula lamentou sua morte e destacou que “a humanidade perde uma voz de respeito e acolhimento ao próximo”, lembrando que Francisco se dedicou a “levar amor onde existia o ódio” e a buscar união em tempos de discórdia. A perda do pontífice lança luz sobre os desafios da Igreja, em especial no Brasil, onde o número de fiéis católicos segue em queda, enquanto as igrejas evangélicas crescem nas periferias — justamente onde Francisco mais tentou reaproximar a fé católica.
Com 135 cardeais eleitores, o conclave que elegerá seu sucessor será marcado pela imprevisibilidade. Francisco nomeou cerca de 80% dos votantes, muitos deles vindos de regiões periféricas e distantes dos centros de poder tradicionais do Vaticano. Entre os nomes mais citados estão Matteo Zuppi, Luis Tagle, Pietro Parolin, Jean-Claude Hollerich, Robert Sarah e Odilo Scherer. O novo papa herdará uma Igreja pressionada por tensões internas e ameaças externas — como secularização, migrações, mudanças climáticas e inteligência artificial — e terá pela frente o desafio de preservar e atualizar a herança deixada por um papa que advertiu: “Livrai-nos de nos tornarmos uma Igreja de museu, bela, mas muda, com tanto passado e pouco futuro” (Página/12, La Nación, Correio da Manhã, Público).
NÚCLEO 2
A Primeira Turma do STF aceitou por unanimidade, nesta terça-feira (22), a denúncia contra seis aliados de Jair Bolsonaro, acusados de participar da tentativa de golpe de Estado de 2022. Fernando de Sousa Oliveira, Filipe Martins, Marcelo Câmara, Marília Alencar, Mário Fernandes e Silvinei Vasques foram denunciados por tentativa de golpe, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa armada e dano ao patrimônio público.
Integrantes do chamado “núcleo 2”, segundo o Ministério Público, eles teriam atuado para manter Bolsonaro no poder de forma ilegal, mobilizando forças policiais e elaborando documentos para justificar um estado de emergência. Entre as provas, estão a minuta golpista e o plano “Punhal Verde Amarelo”, que previa o assassinato de autoridades como Lula, Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes.
O julgamento, conduzido pelos ministros Cristiano Zanin, Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia, Luiz Fux e Flávio Dino, rejeitou as preliminares apresentadas pelas defesas, como pedidos de nulidade de provas e alegações de impedimento. Filipe Martins acompanhou a sessão sob medidas restritivas. Bolsonaro, já denunciado no “núcleo central”, afirmou que a ação contra ele tem motivação política.
Com a denúncia aceita, o caso entra na fase de instrução, com coleta de provas e depoimentos. A decisão reafirma o posicionamento do STF diante dos ataques às instituições democráticas (The Guardian, Radio Bayamo, Prensa Latina).
*Imagem em destaque: Brasília (DF), 22/04/2025 – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe o presidente do Chile, Gabriel Boric, em cerimônia oficial, no Palácio do Planalto. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
