Lula em Bogotá: Amazônia é feita ‘de gente que vive e respira todos os dias’

Lula em Bogotá: Amazônia é feita ‘de gente que vive e respira todos os dias’

POR TATIANA CARLOTTI

Ao lado dos presidentes Gustavo Petro (Colômbia) e Luis Arce (Bolívia), o presidente Lula participou nesta sexta-feira (22) em Bogotá, na Colômbia, da V Reunião de Presidentes da Cúpula de Países Amazônicos. O evento reuniu representantes das nações que compõem a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) e lideranças indígenas para construírem um consenso nas medidas que serão apresentadas na COP30, em novembro.

Em seu discurso, Lula destacou que “se não houver futuro para a Amazônia e seus povos, não haverá futuro para o planeta”, reafirmando a prioridade da floresta na agenda do seu governo. Ele citou as ações promovidas nestes dois anos e meio contra o desmatamento e os crimes ambientais e a favor do bem-estar das comunidades locais, informa a cubana Prensa Latina. Em sua avaliação, “a voz do povo amazônico será fundamental no caminho para a COP30”.

“A gente tem que manter a floresta em pé e os trabalhadores e indígenas que moram lá, vivos. É isso que nos interessa nessa COP30, quem vai fazer o quê. Porque senão é importante a gente fazer outra coisa do que fazer as COP, gastar uma fortuna para fazer a COP e depois o resultado é quase zero”, disse.

E acrescentou: “há muito tempo que os países ricos nos acusam de não cuidar da floresta. Aqueles que poluíram o planeta tentam impor modelos que não nos servem, utilizam a luta contra o desmatamento como justificativa para o protecionismo, usam o combate ao crime organizado como pretexto para violar nossa soberania. Mas está chegando o momento de mostrar ao mundo a realidade da Amazônia. Ela não é só feita de árvores, é também de gente que vive e respira todos os dias”.

A cúpula, encerrada nesta sexta-feira (22), aprovou 20 resoluções que compõem a Declaração de Bogotá. As medidas abrangem desde a criação de mecanismos financeiros e científicos até a valorização dos povos indígenas e de seus saberes tradicionais. O fortalecimento da participação indígena como instância decisória da OTCA e a criação de uma Comissão de Segurança Pública para o combate a crimes ambientais e medidas de rastreabilidade do ouro foram contemplados. Também foi proposta a criação do Fundo Bosques Tropicais, liderado pelo Brasil, como mecanismo financeiro de incentivo à preservação florestal, detalha a agência Nodal.

A presença de Lula ganhou cobertura das agências AP e AFP.

Brasil – Venezuela

No contexto da Cúpula, os ministros das Relações Exteriores de Brasil e Venezuela, Mauro Vieira e Yván Gil, realizaram um encontro bilateral. Eles discutiram os ataques promovidos por Donald Trump contra a Venezuela e o presidente Nicolas Maduro. Além de uma recompensa de US$ 50 milhões por informações que levem à prisão do mandatário venezuelano, os Estados Unidos enviaram navios para a região que devem chegar nos próximos dias. Neste final de semana, a Venezuela fará um grande alistamento de sua população civil em defesa da soberania do país.

A conversa entre Vieira e Gil abortou questões de segurança regional e de integração latino-americana. Segundo Gil, o diálogo incluiu aspectos da geopolítica regional, os desafios enfrentados pela Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) e a necessidade de fortalecer a OTCA. O Itamaraty acrescentou que a reunião tratou de problemas comerciais bilaterais, da segurança na região amazônica e das dificuldades impostas pelo protecionismo norte-americano, informa a TeleSur.

Bolsonaro

Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), obtido pela Polícia Federal, revelou que o ex-presidente Jair Bolsonaro movimentou mais de R$ 30,5 milhões em um período de 12 meses, entre março de 2023 e fevereiro de 2024. Os dados foram divulgados no âmbito da investigação que também envolve o deputado Eduardo Bolsonaro. Segundo o levantamento, somente por meio de transferências via Pix, Bolsonaro recebeu R$ 19,2 milhões em cerca de 1,2 milhão de operações. As investigações fazem parte de um inquérito que apura possíveis irregularidades financeiras envolvendo o ex-presidente e sua família, informa o canadense Toronto Sun com informações da agência AP. Os dados reforçam a pressão sobre Bolsonaro em meio a outros processos judiciais em andamento, acrescenta a cubana Patria Latina.  

Veja Também:  Lula reúne líderes mundiais para abertura dos trabalhos da COP30

Prensa Latina informa que O Partido dos Trabalhadores apresentou ao Supremo Tribunal Federal uma denúncia penal contra Jair Bolsonaro, Michelle Bolsonaro e os filhos Eduardo e Carlos, acusando-os de integrarem um esquema de lavagem de dinheiro e organização criminosa. A iniciativa foi protocolada por Lindbergh Farias, líder da bancada do PT na Câmara dos Deputados, com base nos relatórios da Polícia Federal e do Coaf. Segundo os documentos, entre março de 2023 e fevereiro de 2024, Bolsonaro movimentou cerca de 5,5 milhões de dólares em transações financeiras consideradas atípicas. Parte desse valor foi transferido diretamente para sua esposa e filhos, levantando suspeitas de blindagem patrimonial e uso de laranjas para escapar de bloqueios judiciais. Para o PT, trata-se de uma “trama familiar estruturada” para ocultar ativos e obstruir a justiça.

O indiciamento de Bolsonaro e seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-RJ) ainda repercute na mídia internacional. O francês Le Monde revelou mais detalhes de um relatório da Polícia Federal que expõe as tensões internas na família Bolsonaro, incluindo trocas de mensagens entre Jair e Eduardo Bolsonaro, revelando xingamentos e acusações mútuas em meio ao avanço das investigações. As mensagens indicam que Eduardo, exilado nos EUA, insultou o pai e acusou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, de conspirar para se beneficiar politicamente da crise. O relatório mostra um clã dividido e em disputa interna, enquanto cresce o risco de condenações pesadas.

Prensa Latina informa que a defesa de Jair Bolsonaro negou que o ex-presidente tenha planejado fugir do Brasil ou solicitado asilo político à Argentina. A polêmica surgiu após a Polícia Federal encontrar na última quarta-feira (20/04) no celular do ex-mandatário um rascunho de carta dirigida ao presidente Javier Milei, no qual ele se apresentava como “perseguido político”. Já a Agência Lusa também repercute a fala da defesa.

Terras Raras

Reportagem de Ana Ionova publicada no New York Times destaca que as tarifas impostas pelos EUA contra produtos brasileiros impactaram também os planos de cooperação em torno das terras raras. O texto lembra que o Brasil possui a segunda maior reserva mundial desses minerais estratégicos e que o país vinha buscando apoio norte-americano para explorar seu potencial produtivo, no entanto, as tensões políticas provocadas por Trump comprometeram a possibilidade de aliança. Segundo os especialistas ouvidos por Ionova, com a deterioração da parceria, o Brasil poderá recorrer a outros aliados, como União Europeia e Índia. Mas a disputa geopolítica em torno desses minerais tende a se intensificar.

Confira também o artigo de Mario Osava, “Terras raras, um sonho tecnológico e industrial do Brasil“, publicado nesta sexta-feira na Inter Press Service e republicado neste Fórum 21.

Café brasileiro

O argentino La Nación traz uma reportagem sobre o impacto no setor global do café após a taxação pelo governo Trump de até 50% sobre o produto brasileiro. A reportagem destaca o aumento dos preços dentro dos Estados Unidos. O consumo de café nos Estados Unidos é massivo: 66% dos adultos bebem diariamente, somando mais de 500 milhões de xícaras por dia. Qualquer variação nos preços tem impacto imediato sobre os consumidores e sobre o mercado de cafeterias. Com as taxas, afirma o texto, agricultores da Califórnia vislumbram uma oportunidade para desenvolver a produção local.

Amazônia

O jornal português Público traz uma entrevista com a atriz Lucélia Santos sobre a floresta Amazônia e seu ativismo ambiental no país. A atriz fez um apelo urgente, afirmando que o bioma amazônico está à beira de um colapso irreversível: “a floresta vai parar de respirar, ela vai morrer, e isto não é alarmismo”, diz.


Foto de capa: Ricardo Stuckert/ PR