Lula reconhece dívida histórica com a África e propõe aliança contra a fome

O presidente Lula abriu nesta segunda-feira (20), em Brasília, o II Diálogo Brasil-África sobre Segurança Alimentar, Combate à Fome e Desenvolvimento Rural, com delegações de 42 países africanos. Em seu discurso, ele reconheceu a dívida histórica do Brasil com o continente africano e declarou: “Devemos o que nós somos, a nossa cor, a nossa arte, a nossa cultura, o nosso jeito de ser, ao continente africano. O Brasil não pode pagar isso em dinheiro, isso não pode ser mensurado em dinheiro. Mas podemos pagar em solidariedade e em transferência de tecnologia.”
Lula também abordou a questão da fome global, lamentando que, em pleno século 21, ainda existam 730 milhões de pessoas sem acesso à alimentação adequada. “Essa é uma marca que nós não podemos esquecer, mas que nós precisamos, todo santo dia, falar pela manhã, falar pela tarde e falar pela noite. Porque quem está com fome não são aqueles que precisam nos ouvir. Quem está com fome são aqueles que precisam falar”, afirmou o presidente, destacando que a fome muitas vezes resulta da falta de prioridade política e criticou os altos gastos militares em detrimento de investimentos para erradicar a fome.
A programação do evento, que vai até quinta-feira (22), inclui visitas a unidades da Embrapa, cooperativas agrícolas e ao Vale do São Francisco, com foco em soluções sustentáveis, bioinsumos e tecnologias de convivência com a seca. O vice-primeiro-ministro da Etiópia, Temesgen Tiruneh, destacou o papel do Brasil na inovação agrícola e manteve reunião com o vice-presidente Geraldo Alckmin para tratar de parcerias em aviação e agricultura.
Na sexta-feira (23), o presidente de Angola, João Lourenço, será recebido em visita oficial, como parte das celebrações do Dia da África e dos 50 anos de independência dos países africanos de língua portuguesa. O Brasil foi o primeiro país a reconhecer a independência de Angola, em 1975 (O Guardião, Prensa Latina I, Prensa Latina II, Gov.br, Agência Gov).
SEM AUMENTO NO FRANGO
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou na segunda-feira (19) que os surtos de gripe aviária no Rio Grande do Sul não vão aumentar o preço da carne de frango. Segundo ele, como 70% da produção já é voltada ao mercado interno, o excesso temporário será absorvido sem impacto para o consumidor. As exportações foram suspensas por países e blocos como União Europeia, China, Japão e Uruguai, mas podem ser retomadas após 28 dias sem novos casos, prazo exigido pela Organização Mundial de Sanidade Animal (Prensa Latina, Público.pt, La Diaria, Agência Brasil).
SEM ANISTIA
Teve início na segunda-feira (19), no STF, o julgamento de Jair Bolsonaro e outros sete acusados de planejar um golpe de Estado após a derrota nas eleições de 2022. A ação penal se baseia em registros de reuniões com ministros e militares, e na minuta de um decreto que instauraria estado de sítio para impedir a posse de Lula. Entre as testemunhas está o ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes, que disse ter alertado Bolsonaro de que as Forças Armadas não apoiariam uma ruptura. As acusações incluem tentativa de golpe, abolição do Estado democrático, organização criminosa e dano ao patrimônio público. O julgamento seguirá até o início de junho, com 82 depoimentos. É a primeira vez que um ex-presidente brasileiro responde por tentativa de golpe de Estado (Prensa Latina, Página/12, La Nación).
LIMPEZA SOCIAL EM SP
A deputada Ediane Maria (PSOL-SP) propôs uma CPI na Alesp para investigar ações do governo Tarcísio de Freitas na Cracolândia. Ela denuncia o uso de força policial e a dispersão forçada de usuários sem alternativas de acolhimento, apontando uma política deliberada de “limpeza social” ligada à mudança da sede do governo para os Campos Elíseos e à remoção de moradores da Favela do Moinho.
Segundo Ediane, o fluxo não foi extinto, mas espalhado por bairros como Marechal Deodoro, Bom Retiro e Avenida do Estado, além de cidades como Guarulhos e Diadema. Dados da SSP indicam mais de 100 pontos ativos no estado. Moradores relatam aumento da população em situação de rua fora do centro, enquanto o governo celebra a “redução do fluxo” (Página/12 via Alma Preta).
XI EXALTA AL
Enquanto Donald Trump reforça sua agenda negativa baseada em imigração, drogas e crime, a China amplia sua presença na América Latina com medidas concretas de cooperação. Durante a cúpula da CELAC, realizada em Pequim em 13 de maio, o presidente Xi Jinping anunciou uma linha de crédito de US$ 9,1 bilhões, investimentos em infraestrutura, isenção de visto por 30 dias para turistas de cinco países da região — entre eles o Brasil — e a convocação anual de 300 políticos latino-americanos para conhecer o modelo de governança chinês.Xi defendeu o livre comércio e o multilateralismo, afirmando que “não há vencedores em guerras tarifárias”, em contraste com o protecionismo norte-americano. A ausência de uma proposta construtiva dos EUA — agravada pelo discurso depreciativo de Trump — fortalece a estratégia chinesa de se apresentar como parceiro confiável e defensor de uma ordem internacional mais equilibrada. O presidente Lula participou da cúpula e reafirmou o compromisso brasileiro com o comércio justo e as normas da OMC (La Nación).
*Imagem em destaque: Abertura do “II Diálogo Brasil-África sobre Segurança Alimentar, Combate à Fome e Desenvolvimento Rural” (Ricardo Stuckert)
