Lula vai à Rússia para cúpula de líderes do Brics na próxima semana
Inclusão de Irã e Arábia Saúdita reflete nova dinâmica global do bloco. Líderes discutirão nova plataforma de pagamento e moeda digital para romper hegemonia do dólar
O presidente Lula viajará para a Rússia na próxima semana para participar da 16ª cúpula dos líderes do Brics, que ocorrerá entre os dias 22 e 24 de outubro, na cidade de Kazan, capital da República do Tartaristão. O evento marcará a inclusão oficial de cinco novos membros plenos – Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos –, ampliando o bloco para um total de dez países. Até o ano passado, o Brics era formado apenas por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
A Argentina, convidada a se unir ao bloco em 2023, desistiu após a posse de Javier Milei como presidente. Em contrapartida, até agosto deste ano, 32 países manifestaram interesse em aderir ao chamado ‘Brics+’. Entre as solicitações, destacam-se os emblemáticos casos de Cuba e Turquia.
No caso de Cuba, que há seis décadas enfrenta um criminoso bloqueio imposto pelos Estados Unidos, sua adesão ao Brics poderia criar oportunidades para romper este embargo por meio da cooperação proposta pelo Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), que oferece financiamento aos membros do blico sem ingerência geopolítica. Já o pedido de anexação da Turquia, se aceito, representaria um golpe significativo para a OTAN, demonstrando um distanciamento da aliança ocidental e uma mudança na postura do país, o que poderia afetar a unidade da organização e sua atuação na região.
A 16ª cúpula de líderes do Brics ainda pretende discutir a criação da BRICS Bridge, uma plataforma de pagamento supranacional que competiria com o sistema Swift, que hoje controla o intercâmbio de 11 mil entidades financeiras ao redor do planeta. A nova plataforma permitira transações em moedas nacionais entre governos, empresas e cidadãos dos países membros, com o apoio do NBD para facilitar a conversão e a compensação, fortalecendo o comércio entre os parceiros.
Outra iniciativa a ser debatida, a criação de uma moeda digital única para os Brics, denominada R5 – em referência às iniciais das respectivas moedas: real, rublo, rupia, renminbi e rand – tem gerado apreensão em Washington, que teme pela possibilidade da escalada da desdolarização. A proposta sugere que a nova moeda poderia ser utilizada tanto para transações internacionais quanto para poupança.
O encontro de líderes em Kazan também acontece em um momento peculiar, com a Rússia enfrentando acusações de intensificação nas operações de espionagem e preparando-se para um possível conflito militar com a OTAN. Durante uma audiência parlamentar realizada nesta segunda-feira (14), chefes da inteligência alemã afirmaram que “o confronto militar direto com a OTAN se tornou uma opção para Moscou” (Brazilian Report, CLAE, TASS, RT News).
AUMENTO DA DÍVIDA PÚBLICA
O Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta para o aumento da dívida pública mundial, que deve ultrapassar 100 trilhões de dólares até o final de 2024, o equivalente a 93% do PIB global. A projeção é que esse percentual alcance 100% até 2030. Segundo o relatório “Monitor Fiscal”, apresentado antes das reuniões anuais do FMI e do Banco Mundial, a dívida pública pode ser ainda maior do que aparenta, já que fatores econômicos adversos e pressões por aumento de gastos podem elevar os níveis futuros.
Embora dois terços dos países esperem estabilizar ou reduzir suas dívidas, o esforço fiscal necessário será maior do que o previsto. O FMI alerta que a incerteza fiscal está aumentando por conta de gastos com a transição verde, o envelhecimento da população e questões de segurança, tornando os ajustes mais urgentes. Em um cenário muito desfavorável, a dívida global pode alcançar 115% do PIB até 2026, colocando ainda mais pressão sobre os países com maior endividamento.
Economias avançadas e emergentes enfrentam desafios diferentes. Enquanto países desenvolvidos, como EUA, Reino Unido e Itália, lidam com déficits fiscais elevados e políticas públicas que favorecem gastos, nações emergentes como Brasil e África do Sul enfrentam dificuldades para estabilizar suas finanças e manter a confiança do mercado.
O FMI destaca a importância de medidas fiscais bem estruturadas para reduzir riscos e evitar desigualdades. Cortes mal planejados em investimentos públicos ou programas sociais podem frear o crescimento econômico e aumentar a pobreza. A instituição sugere reformas fiscais, melhora na governança e regras fiscais mais fortes para prevenir uma crise mais ampla (Sin Embargo).
MILEI NO G20
O presidente argentino Javier Milei confirmou presença na próxima cúpula do G20, marcada para os dias 18 e 19 de novembro na cidade do Rio de Janeiro. Embora tenha recebido o convite do Brasil há algum tempo, sua confirmação foi adiada devido a divergências ideológicas entre ele e o presidente Lula, mas sua presença foi agora confirmada por meio da diplomacia argentina (Ámbito).
PUTIN NO G20?
“Devido a informações de que Putin pode participar da cúpula do G20 no Brasil, gostaria de reiterar que é uma obrigação das autoridades brasileiras, conforme o Estatuto de Roma, prendê-lo caso ele ouse visitar o país”, afirmou o procurador-geral da Ucrânia, Andrii Kostin, nesta terça-feira (15), referindo-se ao mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI).
O mandado de prisão para Putin foi emitido pelo TPI em março do ano passado, acusando-o de crimes de guerra, especificamente pela deportação forçada de crianças ucranianas para a Rússia (Independent).
UE-MERCOSUL: LULA OTIMISTA
O presidente Lula acredita que, apesar de todos os desafios, a cúpula do G20 no Rio de Janeiro será a oportunidade ideal para a assinatura do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia (UE). Durante uma entrevista em Nova Iorque, há duas semanas, onde participou da 79ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), Lula afirmou que nunca esteve tão confiante em relação a essa questão.
As negociações do Acordo UE-Mercosul, que começaram há quase 25 anos e avançaram em 2019, foram interrompidas novamente no ano passado devido a novas exigências ambientais da Europa, especialmente da França, pressionada pelo seu setor agrícola (Ámbito).
TRABALHO DECENTE E JUSTIÇA SOCIAL
O Governo do Brasil, em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), lançou uma nova fase do projeto Trabalho Decente e Justiça Social. A iniciativa foi apresentada durante a 11ª reunião de Cooperação Sul-Sul e Trilateral Brasil-OIT, realizada no Palácio Itamaraty, em Brasília, nesta segunda-feira (14).
Iniciado formalmente em 2009, o projeto visa promover programas de segurança social, criar empregos sustentáveis e prevenir o trabalho infantil em países em desenvolvimento. Na fase inicial, de 2009 a 2023, foram realizados cerca de 20 projetos, envolvendo mais de 40 países na África, América Latina e Caribe.
Na nova fase, a iniciativa atuará na promoção do trabalho digno e da justiça social em países da América Latina, África e Ásia-Pacífico. Ana Virgínia Moreira, diretora da OIT para a América Latina e Caribe, destacou a liderança do Brasil e a importância da cooperação Sul-Sul para estimular o crescimento econômico e combater a pobreza (Correio da Manhã, RTP Notícias).
APAGÃO EM SP
O ministro de Minas e Energia Alexandre Silveira estabeleceu um prazo de três dias para que a Enel resolva o apagão em São Paulo, ocorrido após uma tempestade na última sexta-feira (11). Em declaração nesta segunda-feira (14), o ministro criticou a concessionária italiana por não ter fornecido uma previsão clara para o restabelecimento do serviço, enfatizando a necessidade de resolver os problemas mais graves com urgência.
Silveira também atribuiu responsabilidade ao prefeito Ricardo Nunes pela falta de ação, uma vez que muitos dos cortes de energia foram provocados pela queda de árvores sobre a rede elétrica, uma responsabilidade que cabe ao município. Segundo a Enel, 537 mil imóveis permaneciam sem energia em São Paulo e na região metropolitana na tarde desta segunda-feira. A empresa afirmou que suas equipes estão trabalhando ininterruptamente desde o início da tempestade para restaurar o serviço (TeleSUR).
*Imagem em destaque: Divulgação/Brics