Morre Pepe Mujica, símbolo de resistência e humanismo na política

Morre Pepe Mujica, símbolo de resistência e humanismo na política

¡CHAU, PEPE!

José “Pepe” Mujica, ex-presidente do Uruguai e símbolo da esquerda latino-americana, faleceu aos 89 anos em Montevidéu, vítima de câncer de esôfago. Ex-guerrilheiro tupamaro, passou quase 15 anos preso durante a ditadura militar, muitos deles em confinamento solitário. Após a redemocratização, foi eleito presidente (2010–2015), período em que implementou reformas sociais pioneiras, como a legalização do aborto, do casamento entre pessoas do mesmo sexo e da maconha. Conhecido por seu estilo de vida austero — morava em uma chácara, dirigia um Fusca e doava a maior parte do salário —, Mujica se tornou referência mundial de coerência política e ética pública.

Líderes de toda a América Latina lamentaram sua morte. O presidente uruguaio Yamandú Orsi destacou sua sabedoria e conexão com o povo. Gustavo Petro, da Colômbia, o chamou de “grande revolucionário”, enquanto Claudia Sheinbaum, do México, exaltou sua simplicidade e pensamento. Pedro Sánchez, da Espanha, afirmou que Mujica deu sentido à política “vivendo-a com o coração”. Nicolás Maduro, da Venezuela, expressou pesar e solidariedade ao povo uruguaio.

Em nota, o governo brasileiro expressou “profundo pesar” pelo falecimento de Mujica, destacando-o como “grande amigo do Brasil” e “um dos mais importantes humanistas de nossa época”. O comunicado ressalta seu papel fundamental como “entusiasta” dos blocos regionais e “um dos principais artífices da integração” sul-americana e latino-americana e relembra que, em dezembro passado, o presidente Lula condecorou Mujica com a mais alta distinção brasileira para estrangeiros, tendo se referido a ele como “a pessoa mais extraordinária” entre os presidentes com quem conviveu, e afirma que seu legado continuará “guiando todas e todos aqueles que genuinamente acreditam na integração de nossa região”.

Em janeiro, Mujica já havia anunciado publicamente que estava em fase terminal da doença e optou por não seguir com tratamentos agressivos, pedindo apenas tranquilidade. Ao lado da esposa e companheira de luta, Lucía Topolansky, viveu seus últimos dias em paz, cercado por flores e memórias de uma vida dedicada à justiça social (The New York Times, El País, Reuters, HuffPost, El Tiempo, Prensa Latina, La Nación, Nodal, Página/12, Granma).

DIPLOMACIA DE BILHÕES

Lula voltou da cúpula China-CELAC com cerca de US$ 5 bilhões em investimentos chineses. A Envision anunciou US$ 1 bilhão para produzir combustível sustentável de aviação com cana-de-açúcar, e a GAC investirá US$ 1,3 bilhão em veículos elétricos e híbridos. Também houve novos aportes da GWM, Windey e CGN em energias renováveis, além de acordos em saúde, biotecnologia, semicondutores e defesa. Lula definiu a parceria com a China como “indestrutível” e disse que os dois países podem impulsionar o respeito ao Sul Global.

Na frente diplomática, Brasil e China divulgaram nota conjunta em apoio aos sinais de diálogo entre Putin e Zelensky, defendendo negociações que considerem os interesses de ambos os lados. Lula e Xi Jinping reafirmaram essa posição em encontros com Putin e destacaram o papel do Grupo de Amigos para a Paz, criado na ONU com apoio do Sul Global. O Brasil, que preside o BRICS em 2025, sediará a próxima cúpula do grupo.

Veja Também:  Abin Paralela: PF indicia Bolsonaro, seu filho Carlos e mais 33 por arapongagem

A China reforçou seu papel como parceiro estratégico com países da América Latina e Caribe, diante da instabilidade provocada pela guerra comercial de Donald Trump. Xi Jinping condenou o protecionismo e defendeu o multilateralismo, afirmando que “ninguém vence uma guerra comercial”, e propôs união diante da fragmentação geopolítica. O líder chinês anunciou um pacote de medidas para aprofundar os laços com a região: mais importações, investimentos em energia limpa, 5G e inteligência artificial, além de crédito de US$ 9,2 bilhões, bolsas de estudo, isenções de visto e estímulo ao intercâmbio político. O comércio entre China e América Latina superou US$ 500 bilhões em 2024, e a entrada da Colômbia na Iniciativa do Cinturão e Rota consolidou o avanço chinês no Sul Global (AP News, O GuardiãoLa Política Online, SCMP)

NORONHA NÃO É COLÔNIA

Diplomatas ligados ao governo Trump articulam o uso de Fernando de Noronha e da Base Aérea de Natal por forças dos EUA, alegando “direito histórico de retorno” por investimentos da Segunda Guerra Mundial. A proposta, sem respaldo oficial, é vista como provocação política diante da aproximação do Brasil com o BRICS.

Analistas veem a proposta como tentativa de criar um factoide para desgastar o governo e forçá-lo a se opor publicamente aos EUA. Para os professores Williams Gonçalves (UERJ) e Thiago Rodrigues (UFF), a iniciativa não tem viabilidade jurídica nem estratégica, e serve apenas para alimentar discursos ideológicos da extrema direita. Eles defendem que a resposta brasileira deve vir com mais integração ao BRICS e fortalecimento de alianças com países do Sul Global (Sputnik BR, Página 12).

QUEM LUTA NÃO MORRE

A Câmara dos Deputados aprovou o texto-base do projeto que institui o Dia Nacional das Defensoras e Defensores de Direitos Humanos, marcado para 14 de março, data do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes. A proposta, de Benedita da Silva (PT-RJ), destaca o papel de quem atua pela efetivação dos direitos fundamentais no Brasil e busca promover consciência pública sobre sua proteção. O texto prevê ações de valorização desses defensores por instituições públicas e privadas, como debates e campanhas, além de estimular a participação de grupos historicamente marginalizados. Em 2024, mais de 150 atividades ocorreram em 80 cidades durante o mês de memória, segundo o Instituto Marielle Franco (Página 12 via Alma Preta).

E MAIS

🔧 General Motors suspende produção em Rosario, Argentina, após colapso das exportações para o Brasil (La Política Online).

⚽ “Temos técnicos no Brasil que poderiam dirigir a Seleção”, afirmou Lula ao ser questionado sobre a escolha do italiano Carlo Ancelotti para assumir o comando técnico do time brasileiro (La Nación).

*Imagem em destaque: Ricardo Stuckert/Presidência da República

Tagged: , , , , , , , , ,