‘A saúde dos oceanos é inseparável da saúde humana e da estabilidade climática’, diz secretário da ONU

Por Naureen Hossain
NICE, França (IPS) – “Quando envenenamos o oceano, envenenamos a nós mesmos”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, aos jornalistas no segundo dia da Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos (UNOC3).
“Há um ponto de inflexão se aproximando – além do qual a recuperação pode se tornar impossível. E vamos ser claros: interesses poderosos estão nos empurrando para esse ponto. Estamos enfrentando uma dura batalha contra um inimigo claro. Seu nome é ganância”.
Guterres fez os comentários em uma coletiva de imprensa em que transmitiu suas prioridades para a conferência e a necessidade de ações urgentes para a conservação e a sustentabilidade dos oceanos.
Ele comentou sobre a “ligação clara” entre as mudanças climáticas, a biodiversidade e a proteção marinha e que, sem uma intervenção oportuna e eficaz, tanto o oceano quanto a humanidade sofreriam um impacto irreversível.
Guterres pediu um maior “apoio financeiro e tecnológico” aos países em desenvolvimento, incluindo as comunidades costeiras e as nações de pequenas ilhas, para que eles estejam em condições de se proteger de condições climáticas extremas e desastres naturais.
Como a pesca excessiva ameaça a biodiversidade marinha, os países devem trabalhar juntos para aplicar medidas mais rigorosas contra a pesca ilegal e expandir as áreas protegidas a fim de proteger a vida marinha. Para isso, Guterres pediu que os países cumpram a meta de conservar pelo menos 30% das áreas marinhas e costeiras até 2030.
Os cientistas afirmam que o limite de 1,5 grau para mitigar o pior do aquecimento global ainda pode ser alcançado. No entanto, como ressaltou Guterres, eles foram “unânimes” em dizer que a comunidade internacional está “à beira do ponto de inflexão que pode tornar isso impossível”. À medida que o oceano absorve as emissões de carbono, isso contribui para os desequilíbrios em sua biodiversidade, como as temperaturas extremamente altas e o branqueamento dos recifes de coral.
Não há “urgência suficiente, espírito suficiente” para uma transição energética para fontes renováveis. Guterres instou os países a formularem e apresentarem Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) para a COP30 no Brasil. Essas NDCs ou planos de ação climática devem ser “totalmente compatíveis” com o limite de 1,5 grau e devem trabalhar para obter “reduções drásticas” nas emissões até 2035. “Precisamos acelerar nossa transição, e esse é, para mim, o objetivo mais importante da próxima COP.”
Guterres observou positivamente a participação significativa de governos, da sociedade civil, de líderes empresariais, de grupos indígenas e da comunidade científica na Ocean Conference deste ano. Essa é uma clara demonstração de “impulso e entusiasmo” na questão da conservação e sustentabilidade dos oceanos. Ele acrescentou que, nos dois anos desde que o Acordo sobre Biodiversidade Marinha de Áreas Além da Jurisdição Nacional (BBNJ) foi adotado pela primeira vez em 2023, 134 países o assinaram e 50 o ratificaram, incluindo 15 novos signatários e ratificações desde o início da conferência. O BBNJ poderá entrar em vigor em breve, assim que receber 60 ratificações ou aceitações.
O espírito de solidariedade que levou grupos de todos os cantos do mundo a participarem da UNOC deve ser levado até o fim e além dele. “Peço a todos que avancem com compromissos decisivos e financiamento tangível. O oceano nos deu muito. É hora de retribuirmos o favor. Nossa saúde, nosso clima e nosso futuro dependem dele”, disse Guterres.
*A Terceira Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos (UNOC3), que acontece de 9 a 13 de junho em Nice, na França, é o principal evento sobre oceanos da ONU este ano. Ela coincide com o Dia Mundial dos Oceanos, em 8 de junho, e visa acelerar ações para a conservação e uso sustentável dos oceanos.
Este texto foi publicado inicialmente pela Inter Press Service (IPS)

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