América Latina e Caribe em 2024: Energia renovável e sistemas de alerta oferecem esperança em meio a extremos climáticos

América Latina e Caribe em 2024: Energia renovável e sistemas de alerta oferecem esperança em meio a extremos climáticos

Por Alison Kentish

DOMÍNICA (IPS) – Esperança diante dos extremos climáticos. Essa é a mensagem geral sobre o Estado do Clima na América Latina e no Caribe em 2024.

A Organização Meteorológica Mundial (OMM) publicou seu relatório anual em 28 de março, destacando as dificuldades da região com furacões, ondas de calor e inundações que bateram recordes. Apesar desses extremos climáticos alarmantes, o relatório enfatiza o progresso na adoção de energia renovável e o desenvolvimento de sistemas de alerta antecipado que salvam vidas.

A seca e o calor extremo alimentaram incêndios florestais devastadores. Chuvas excepcionais provocaram inundações sem precedentes, e vimos o furacão de categoria 5 mais precoce já registrado”, disse a Secretária Geral da OMM, Professora Celeste Saulo.

“Mas também há esperança. Os alertas antecipados e os serviços climáticos dos Serviços Meteorológicos e Hidrológicos Nacionais estão salvando vidas e aumentando a resiliência em toda a América Latina e no Caribe. O trabalho da comunidade da OMM e de todos os nossos parceiros é mais importante do que nunca para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades.”

Desafios climáticos

O relatório aborda o ônus da mudança climática, com o período de 1991 a 2024 mostrando uma tendência média de aquecimento de cerca de 0,2 graus Celsius ou mais por década – a maior desde 1990.

O aumento do nível do mar causado pelo aquecimento dos oceanos e pelo derretimento do gelo está ameaçando as comunidades e os ecossistemas costeiros, principalmente no lado atlântico da América do Sul e Central. No ano passado, a Venezuela se tornou o segundo país do mundo a perder todas as suas geleiras com o desaparecimento da Geleira Humboldt.

A temporada de furacões do Atlântico de 2024 teve 18 tempestades nomeadas, incluindo o furacão Beryl, que se tornou o primeiro furacão de categoria 5 já registrado. O Beryl causou danos graves em Granada e em outras ilhas do sudeste do Caribe, como Union Island e Carriacou.

Ondas de calor, secas e incêndios florestais interromperam ainda mais a produção agrícola e as cadeias de suprimento de alimentos, gerando insegurança alimentar aguda em áreas vulneráveis.

Progresso da energia renovável

A OMM afirma que, em 2024, a energia renovável na América Latina e no Caribe representava quase 69% do mix energético da região, com um aumento de 30% na capacidade e geração de energia solar e eólica em comparação com 2023.

A organização afirma que, para acelerar a expansão da energia renovável em toda a região, está fortalecendo a capacidade dos serviços meteorológicos e hidrológicos nacionais para desenvolver ferramentas e serviços operacionais com base científica por meio de parcerias com a academia, o setor privado e as partes interessadas em energia.

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“Em 2024, um produto de previsão de velocidade do vento de curto prazo baseado em inteligência artificial (IA) para usinas de energia eólica foi desenvolvido em colaboração com o Instituto Nacional de Meteorologia da Costa Rica e o Instituto de Eletricidade da Costa Rica. No Chile, foi desenvolvido em conjunto um modelo de estimativa da taxa de evaporação para grandes corpos d’água com painéis solares flutuantes. Os dois países também receberam apoio em seus esforços para desenvolver atlas nacionais de alta resolução para energia eólica (Costa Rica) e solar (Chile), utilizando dados de reanálise, observação e projeção climática para apoiar o planejamento energético de longo prazo”, acrescentou.

Sistemas de alerta antecipado que salvam vidas

Os sistemas de alerta antecipado (EWS), ou ferramentas que alertam as comunidades sobre perigos como tempestades ou inundações, melhoraram significativamente na América Latina e no Caribe. Entretanto, ainda há disparidades entre países e regiões.

A Iniciativa de Sistemas de Alerta Antecipado para Todos das Nações Unidas busca garantir a cobertura global de EWS até 2027.

O relatório cita a experiência do Brasil durante as enchentes com risco de morte no Rio Grande do Sul para ilustrar os benefícios e as lacunas do EWS.

“Essas enchentes desalojaram centenas de milhares de pessoas e foram associadas a 183 mortes. Vários estudos discutem os aspectos meteorológicos e hidrológicos das chuvas intensas”, afirma o relatório, acrescentando que, embora os avisos oportunos tenham garantido que as populações vulneráveis fossem evacuadas, esse número de mortos mostra a necessidade de uma melhor compreensão do risco de desastres e de uma previsão aprimorada.

Em última análise, esse caso destaca o risco crescente causado por extremos, especialmente para as populações vulneráveis, bem como o perigo causado pela gestão territorial inadequada, planejamento urbano e governança nos níveis federal, estadual e local”, disse o relatório.

O relatório Estado do Clima para a América Latina e o Caribe foi apresentado em uma reunião da Associação Regional da OMM organizada por El Salvador para orientar a adaptação às mudanças climáticas, a mitigação e o gerenciamento de riscos na América Latina e no Caribe.

Na imagem, Domínica, como outros países da América Latia e Caribe, está enfrentando os impactos da mudança climática / Alison Kentish/IPS

Este texto foi publicado originalmente pela Inter Press Service (IPS)

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