Começa o Ano Internacional das Geleiras

Por Correspondente da IPS
PARIS – A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e a Organização Meteorológica Mundial (OMM) deram início oficial ao Ano Internacional da Preservação das Geleiras, um marco nos esforços globais para proteger essas reservas vitais de água no planeta.
O cientista canadense John Pomeroy destacou que as geleiras “são essenciais para fornecer água doce a mais de 2 bilhões de pessoas no mundo, que dependem da neve e do gelo das montanhas para reabastecer ecossistemas, sustentar a agricultura, gerar energia, atender à indústria e garantir água potável”.
“Não será possível deter a perda de geleiras em 2025, mas o foco é alertar sobre por que estamos perdendo esses recursos e o que pode acontecer se não agirmos”, afirmou Pomeroy, nomeado pela Unesco como copresidente do Conselho Consultivo do Ano Internacional.
A Unesco ressalta que a preservação das geleiras é fundamental para garantir sustentabilidade ambiental, estabilidade econômica e a manutenção de serviços culturais e meios de subsistência.
As geleiras, conhecidas como “reservatórios de água do mundo”, cobrem cerca de 700 mil quilômetros quadrados do planeta, mas estão derretendo rapidamente devido às mudanças climáticas.
Sobre o tema, Celeste Saulo, secretária-geral da OMM, afirmou que a organização “recentemente confirmou que 2024 foi o ano mais quente já registrado e emitiu alertas vermelhos contínuos sobre o estado do clima global”.
De acordo com o Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre as Mudanças Climáticas (IPCC), as geleiras continuarão diminuindo em praticamente todas as regiões do mundo ao longo deste século.
Saulo acrescentou que “em 2023, as geleiras sofreram a maior perda de massa nas cinco décadas de registros. Foi o segundo ano consecutivo em que todas as regiões glaciais do mundo registraram perdas de gelo”.
Um relatório da Unesco aponta que as geleiras dos Andes tropicais podem perder entre 78% e 97% do seu volume até o final deste século.
Na Suíça, segundo a Academia Suíça de Ciências Naturais, as geleiras derreteram mais nos últimos dois anos do que no período de 1960 a 1990.
O derretimento das geleiras, da neve e do gelo tem consequências imediatas, como aumento de deslizamentos de terra, avalanches, inundações e secas. A longo prazo, representa uma ameaça à segurança hídrica de bilhões de pessoas.
À medida que as geleiras das montanhas recuam, a qualidade e a quantidade de água disponível rio abaixo são afetadas, gerando impactos nos ecossistemas aquáticos e em setores como agricultura e energia hidrelétrica.
Em dezembro de 2022, a Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou 2025 como o Ano Internacional da Preservação das Geleiras e definiu o dia 21 de março como o Dia Mundial das Geleiras.
O objetivo é aumentar a conscientização sobre a importância das geleiras, neve e gelo no sistema climático, além de destacar os impactos do rápido derretimento das geleiras nas economias e comunidades ao redor do mundo.
Entre as metas estão ampliar os sistemas globais de monitoramento das geleiras para melhorar a coleta e análise de dados, desenvolver sistemas de alerta precoce de riscos relacionados a esses recursos e promover a gestão sustentável das reservas de água em áreas que dependem delas.
Outro objetivo é preservar o patrimônio cultural e os conhecimentos tradicionais relacionados aos ambientes glaciais, além de envolver os jovens na preservação desses recursos.
A Unesco reforça que as geleiras são verdadeiras “cápsulas do tempo congeladas”, contendo informações valiosas sobre a história humana, ambiental e climática, fornecendo dados para os cientistas sobre padrões climáticos antigos, composição da atmosfera e atividades humanas ao longo de milhares de anos.
Para povos indígenas na Ásia, América Latina, Pacífico e África Oriental, as geleiras possuem profundo significado cultural e espiritual, sendo muitas vezes consideradas sagradas e morada de divindades.
A perda dessas formações de gelo significaria não apenas impactos ambientais e econômicos, mas também o desaparecimento de locais essenciais para o patrimônio cultural e práticas espirituais, reconhecidos pela Unesco como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.
*Imagem em destaque: Vista da geleira Perito Moreno, que se estende entre a Argentina e o Chile. Foto: Nargiz Shekinskaya/ONU
**Publicado originalmente em IPS – Inter Press Service | Tradução e revisão: Marcos Diniz

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