Foco na África: Sessão Plenária da IPBES faz visita inaugural ao continente biodiverso

Foco na África: Sessão Plenária da IPBES faz visita inaugural ao continente biodiverso

Por Joyce Chimbi

NAIRÓBI – A primeira sessão plenária da Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) na África é “um reconhecimento crucial da importante contribuição da África para a conservação da biodiversidade, que é um bem público global, um patrimônio que a África tem o privilégio de compartilhar com os povos do mundo,” afirma Luthando Dziba, da África do Sul, copresidente do Painel Multidisciplinar de Especialistas da IPBES.

A 11ª sessão da IPBES está programada para ocorrer em Windhoek, Namíbia, de 10 a 16 de dezembro de 2024.

A África é um dos continentes mais ecologicamente diversos do planeta e abriga oito dos 34 hotspots de biodiversidade do mundo. Seus ecossistemas únicos, espécies e diversidade genética prosperam em uma ampla gama de paisagens e ambientes espetaculares, incluindo planícies abertas, desertos, montanhas, falésias florestadas, recifes de coral, florestas de mangue e o Grande Vale do Rift.

Essa rica biodiversidade oferece benefícios significativos às pessoas, mas também apresenta uma série de desafios e oportunidades em meio a uma crise global crescente de biodiversidade.

Dziba afirmou ao IPS que a Plenária é o órgão governante da IPBES, composta por representantes dos Estados-membros da plataforma—atualmente 147 países de todo o mundo—que se reúnem anualmente para “avaliar solicitações de novos estudos científicos de países, considerar relatórios de avaliações conduzidas por especialistas da IPBES e tratar de trabalhos relacionados a outras funções da plataforma, como geração de conhecimento, suporte político e capacitação”.

“Os membros da IPBES aprovam os resumos para formuladores de políticas dos relatórios de avaliação da IPBES e também aceitam os relatórios completos. As sessões plenárias da IPBES são espaços para a coprodução de informações relevantes para a ciência e políticas, reunindo cientistas e formuladores de políticas”.

O papel da biodiversidade no bem-estar humano e na economia

A IPBES busca principalmente fortalecer a interface ciência-política para a conservação e uso sustentável da biodiversidade, promovendo o bem-estar humano de longo prazo e o desenvolvimento sustentável.

A plataforma desempenha um papel único ao reunir as melhores expertises de diversas disciplinas e comunidades de conhecimento, fornecendo informações relevantes para políticas e catalisando a implementação de políticas baseadas no conhecimento em todos os níveis de governo, no setor privado e na sociedade civil.

David Obura, presidente da IPBES, afirma estar privilegiado por presidir sua primeira plenária na África como o primeiro presidente africano da plataforma.

“O continente africano ainda possui algumas das biodiversidades mais intactas. Mas não se trata apenas da biodiversidade por si só; trata-se também de como a sociedade e a economia dependem da natureza”, afirma Obura.

“Portanto, precisamos aprofundar nossa compreensão dessa conexão, e esse conhecimento, por sua vez, deve se refletir em nossos processos políticos em todos os países. A importância da natureza saudável e da biodiversidade no suporte às nossas economias não pode ser subestimada, especialmente porque uma grande parte da população africana é rural, composta por agricultores, pastores e pescadores que dependem diretamente de ecossistemas produtivos e saudáveis”.

Obura acrescentou que é crucial entender que os ecossistemas só podem proporcionar segurança às pessoas se estiverem saudáveis e que o trabalho da IPBES na Namíbia nas próximas duas semanas pode ajudar a impulsionar ambições continentais e globais alinhadas ao Marco Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal, que busca deter e reverter o declínio da biodiversidade e das contribuições da natureza para as pessoas.

Obura também fez referência à Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação e à necessidade urgente de deter mais perdas na África de formas que sejam benéficas também para as pessoas. “Trata-se de apoiar as pessoas enquanto se protege a biodiversidade,” ele disse.

Ampliando a voz africana na ciência e política por meio da IPBES

Dziba concorda. Ele afirma que essa primeira sessão plenária africana da IPBES dá aos países africanos uma voz ainda mais forte como parte de uma importante plataforma de ciência e política. Os Estados-membros da IPBES fazem solicitações para novos estudos científicos que respondam ou abordem suas prioridades políticas específicas.

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Os governos membros da IPBES essencialmente têm “acesso prioritário a produtos científicos que ajudam a orientar políticas em vários tópicos, como espécies invasoras, polinização e manejo de polinizadores para apoiar a produção agrícola, ou outras áreas como o uso sustentável de espécies selvagens, incluindo a biodiversidade africana”.

Dziba destaca que a 11ª sessão da Plenária será uma oportunidade para também aumentar a visibilidade da IPBES entre especialistas africanos, permitindo que uma maior diversidade de pesquisadores e detentores de conhecimento africanos vejam de perto o valor da plataforma como um espaço intergovernamental de ciência e política.

Apesar de a África e seu patrimônio natural serem objeto de pesquisa científica há séculos, Dziba menciona a luta contínua para melhorar a participação de especialistas africanos no trabalho da IPBES. “A importância de envolvê-los está em aproveitar seu vasto conhecimento do continente, das lacunas de conhecimento que identificam e da oportunidade de contribuir a partir de uma perspectiva africana. Essa inclusão também dará à IPBES uma voz mais forte e inclusiva e ajudará a moldar narrativas globais positivas sobre a África”.

Nos últimos dois anos, a maioria dos novos membros da IPBES foram governos do continente africano. O objetivo final é garantir a adesão universal de todos os governos à IPBES, de modo que nenhuma região seja deixada para trás, visando um planeta saudável e sustentável para toda a vida na Terra.

Obura aborda o estado insustentável de vidas e meios de subsistência—com grandes populações vivendo no limite—e a desconexão entre as pessoas e a natureza à medida que migram para cidades, onde essa separação aumenta.

Chacal-de-dorso-negro em uma praia enevoada, em Hentiesbaai, Namíbia. O país anfitrião do IPBES-11 abriga cinco dos 13 biomas do continente africano e uma ampla biodiversidade (Ria Truter/Unsplash).

A rica biodiversidade apoia sistemas de saúde, água e alimentação

Obura explica que um dos temas mais importantes dessa primeira sessão plenária africana será a consideração de dois novos relatórios fundamentais da IPBES. A “avaliação de nexus” explorará as interconexões críticas entre crises de biodiversidade, água, alimentação e saúde no contexto das mudanças climáticas. Também investigará dezenas de opções específicas para abordar essas crises de forma sustentável e integrada, com foco na conservação e restauração da biodiversidade para pessoas e a natureza.

Dziba afirma que os Estados-membros podem aprender com a África, já que “o Relatório de Avaliação Regional da IPBES sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos para a África concluiu que o continente é o último com um conjunto amplamente intacto de megaherbívoros, como elefantes, girafas, búfalos, rinocerontes e hipopótamos”.

Ele enfatiza que isso demonstra que a África “se saiu bem na conservação de sua biodiversidade. O continente também possui a maior diversidade de grandes carnívoros, como leões, leopardos, guepardos, cães-selvagens e hienas. Por isso, somos o último bastião da conservação da biodiversidade, o que é tanto um privilégio quanto uma imensa responsabilidade de continuar protegendo essa biodiversidade”. Contudo, o relatório também mostra que a África, como outras regiões do mundo, está perdendo biodiversidade em uma taxa sem precedentes na história humana.

O segundo relatório a ser considerado e lançado na próxima sessão trata da mudança transformadora—o que é, por que é tão necessária e como alcançá-la para futuros mais justos e sustentáveis, especialmente em meio às crises globais em expansão que afetam rapidamente as pessoas. O relatório fornecerá bases e ferramentas para alcançar essas mudanças positivas.

Por fim, Obura afirma que o objetivo é que os dois relatórios sejam aceitos pelos membros da IPBES na Plenária para melhor informar e servir stakeholders globais e africanos, além de governos em suas decisões e ações.

“Nenhum esforço será poupado para tornar os relatórios acessíveis e permitir que as pessoas encontrem o que precisam para tomar decisões e escolhas melhores rumo a uma coexistência saudável e sustentável com a natureza”.

*Imagem em destaque: O antílope springbok em Sossusvlei, Namíbia (Gregory Brown/Unsplash)

**Publicado originalmente em IPS – Inter Press Service | Tradução e revisão: Marcos Diniz

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