Gases de efeito estufa alcançam novos recordes
Por Corresponsal da IPS
GENEBRA – O dióxido de carbono (CO2), um dos três principais gases de efeito estufa, continua a se acumular na atmosfera “mais rapidamente do que em qualquer outro momento da existência humana”, alertou novamente, nesta segunda-feira (28), a Organização Meteorológica Mundial (OMM).
Em 2004, a concentração de CO2 na atmosfera era de 377,1 partes por milhão (ppm), enquanto em 2023 alcançou 420 ppm, o que “representa um aumento de 42,9 partes por milhão, ou seja, 11,4% em apenas 20 anos”, observou Ko Barrett, secretária-geral adjunta da OMM.
No caso do metano (CH4), outro gás de efeito estufa, a concentração foi de 1934 partes por bilhão (ppbm), e para o óxido nitroso (N2O), de 336,9 ppbm. Esses valores representam aumentos em relação aos níveis pré-industriais (antes de 1750) de 151% para o CO2, 265% para o CH4 e 125% para o N2O.
“Mais um ano, mais um recorde. Isso deveria acionar todos os alarmes entre os tomadores de decisão”, disse a secretária-geral da OMM, Celeste Saulo. “Cada parte por milhão importa, cada fração de grau de aumento de temperatura importa. Isso tem implicações para a velocidade de recuo de geleiras e calotas polares, para a aceleração do aumento do nível do mar, para o aquecimento e acidificação dos oceanos. Isso impacta também o número de pessoas expostas ao calor extremo a cada ano”, acrescentou Ko Barrett.
Para Barret, “não há dúvida de que estamos muito longe de cumprir a meta do Acordo de Paris de manter o aquecimento global bem abaixo de dois graus Celsius em relação aos níveis pré-industriais e de tentar limitar o aumento da temperatura a 1,5 °C em relação a esses níveis”.
O Acordo de Paris de 2015 estabeleceu compromissos para que os países reduzam as emissões de gases de efeito estufa, de modo que a temperatura média do planeta não exceda dois graus Celsius em relação aos níveis da era pré-industrial até o final do século, e não mais de 1,5 °C antes de 2050.
O novo relatório da OMM afirma que os dados “demonstram mais uma vez que são necessárias medidas urgentes e não apenas palavras dos principais poluidores do mundo para nos proteger do mudança climática”.
Esse apelo ocorre enquanto líderes mundiais se preparam para se reunir no próximo mês em Baku, durante a 29ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP29).
Barrett disse que “estamos fadados a um aumento de temperaturas por muitos, muitos anos”, devido à longa vida útil do CO2 na atmosfera, além das emissões de outros gases que causam esse efeito de aquecimento global, como o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O).
“Isso é mais do que estatísticas”, insistiu Barrett, pois “cada parte por milhão importa, cada fração de grau de aumento de temperatura importa; isso impacta a velocidade de recuo de geleiras e calotas polares, a aceleração do aumento do nível do mar, o aquecimento e a acidificação dos oceanos”.
E, claro, “isso importa em termos do número de pessoas que estarão expostas ao calor extremo a cada ano, da extinção de espécies e do impacto em nossos ecossistemas e economias”.
Entre os principais fenômenos que produzem gases de efeito estufa estão os incêndios florestais e o fenômeno meteorológico El Niño, que alimentou condições mais secas e um aumento das concentrações de gases no final de 2023, segundo a OMM.
O El Niño, com ventos quentes sobre o Oceano Pacífico equatorial central e oriental, altera os ciclos de chuvas em várias partes do mundo, provocando tanto secas prolongadas quanto fortes precipitações com inundações. Seu oposto, La Niña, com ventos frios, é igualmente prejudicial.
A análise da OMM mostra que pouco menos da metade das emissões de CO2 permanecem na atmosfera, pouco mais de um quarto é absorvido pelo oceano e pouco menos de 30% fica retido na terra. Os incêndios florestais são fatais em termos de emissões de gases de efeito estufa, e a responsável científica da OMM, Oksana Tarasova, considerou os incêndios florestais do ano passado no Canadá como “absolutamente dramáticos” em relação à quantidade desses gases produzidos.
“Os níveis atuais de CO2 não foram vistos na história da humanidade. A última vez que tivemos 400 partes por milhão de CO2 foi há entre três e cinco milhões de anos, e naquele tempo a temperatura era de três a quatro graus mais quente e o nível do mar estava entre 10 e 20 metros mais alto”, disse Tarasova.
A OMM observa que, entre 1990 e 2023, a forçagem radiativa, ou seja, o efeito de aquecimento do nosso clima causado pelos gases de efeito estufa, aumentou 51,5%. O CO2 representou mais de 80% desse aumento.
De acordo com seu relatório, “enquanto as emissões continuarem, os gases de efeito estufa continuarão a se acumular na atmosfera, o que provocará um aumento da temperatura global”. Barrett insistiu que “dada a longa vida do CO2 na atmosfera, o nível de temperatura já observado persistirá por várias décadas, mesmo que as emissões sejam rapidamente reduzidas a zero”.
Quando questionada se podemos esperar que a COP29 produza compromissos tangíveis por parte dos países, Barrett observou que os políticos de todo o mundo “fazem referência às últimas conclusões e previsões científicas sobre o clima em suas declarações públicas”. “Então, eu acho que eles estão ouvindo; a questão é até que ponto veremos isso se manifestar na COP29”, concluiu.
*Imagem em destaque: Os incêndios florestais castigaram a província de Colúmbia Britânica, no oeste do Canadá. A Organização Meteorológica Mundial destaca esses incêndios na geração de gases de efeito estufa, com presença crescente na atmosfera e acelerando assim o aquecimento do planeta (Governo da Colúmbia Britânica).
*Publicado originalmente em IPS – Inter Press Service | Tradução e revisão: Marcos Diniz
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