Países e territórios do Pacífico lançam maior projeto de conservação oceânica do mundo

Países e territórios do Pacífico lançam maior projeto de conservação oceânica do mundo

Por Cecilia Russell

NICE, França – Os estados insulares do Pacífico são pequenos e modestos, mas o oceano que os rodeia representa um imenso estado oceânico, com uma superfície equivalente à do continente europeu.

Pela primeira vez, 22 países e territórios insulares do Pacífico se comprometeram a gerenciar de forma sustentável 100% do Continente Pacífico Azul e a proteger pelo menos 30% até 2030, conforme anunciou o diretor-geral da Comunidade do Pacífico, Stuart Minchin.

O anúncio foi feito diante de um público que lotou o auditório na cerimônia de apresentação realizada durante a Terceira Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos (Unoc3), que acontece na cidade francesa de Nice desde segunda-feira (9) até sexta-feira (13).

“Este tipo de compromisso envia uma mensagem clara de que o Pacífico não está esperando o mundo”, afirmou Minchin, sobre o projeto conhecido como Desbloqueando a Prosperidade do Pacífico Azul (UBPP, na sigla em inglês).

Ao explicar o projeto, os palestrantes destacaram que esta iniciativa — considerada o maior projeto de conservação do mundo — representa uma transição dos esforços regionais de curto prazo para soluções de longo prazo lideradas pelos próprios países do Pacífico, em vez de modelos impulsionados por doadores.

O compromisso tem como objetivo apoiar a saúde dos oceanos, o fortalecimento das comunidades e as economias azuis, integrando a sabedoria tradicional e as práticas indígenas.

Maina Vakafua, ministro de Mudanças Climáticas de Tuvalu, descreveu em Nice o projeto como “um presente do Pacífico ao mundo em apoio aos objetivos globais em matéria de biodiversidade, ação climática e desenvolvimento sustentável”.

“Estamos passando de projetos pequenos e pontuais para programas mais coordenados e de longo prazo que apoiam a saúde dos oceanos, o fortalecimento das comunidades e as economias azuis”, acrescentou.

Com isso, segundo Vakafua, foram criadas ferramentas de financiamento combinado, adaptadas às necessidades dos países do Pacífico — uma região que, apesar de estar na linha de frente das mudanças climáticas, recebe menos de 1% do financiamento climático global.

Na prática, explicou, isso representa apenas 4,6% do montante inicialmente destinado à Ásia-Pacífico e menos de 7% das necessidades de financiamento climático estimadas.

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“Estamos protegendo nosso oceano e ajudando a criar um futuro melhor para todos, especialmente para aqueles que dependem dos oceanos para sua sobrevivência diária. Convidamos parceiros, doadores e amigos do oceano a se juntarem a nós”, afirmou Vakafua.

Os objetivos da UBPP incluem a conservação total dos oceanos sob jurisdição dos países participantes, sistemas alimentares resilientes e financiamento compatível com esses fins. Os mecanismos de financiamento envolvem subvenções, pagamentos por serviços ecossistêmicos e empréstimos.

A iniciativa busca fomentar uma economia azul regenerativa, apoiando áreas marinhas protegidas, gestão costeira e negócios que respeitem a natureza.

Karena Lyons, diretora do Programa de Parcerias, Integração e Mobilização de Recursos das Ilhas do Pacífico, explicou que os líderes da região se uniram porque reconheceram a necessidade de uma iniciativa regional para levar a gestão dos oceanos a um novo patamar.

“Eles viram como as mudanças climáticas estão afetando nossos povos, colocando em perigo a segurança alimentar, o acesso à água e os meios de subsistência. A UBPP representa nossa intenção de mudar esse paradigma”, disse Lyons.

Ela antecipou que “este será o maior esforço coordenado de conservação dos oceanos da história do mundo”.

A diretora lembrou que “se trata de uma área do tamanho do continente europeu. A diferença é que queremos construí-la com investidores e parceiros estratégicos, para alinhar o capital com os resultados climáticos, de conservação e comunitários”.

O lançamento foi concluído com a apresentação de uma grande faixa artesanal, ornamentada com um mapa do Pacífico Azul, fabricada e projetada em Fiji. Ela simboliza a unidade e a visão compartilhada pela proteção dos oceanos e viajará por todo o Pacífico, coletando histórias de defesa e ação em favor do mar.

Ao final, será leiloada para apoiar os esforços de conservação dos oceanos.

*Imagem em destaque: Mapa elaborado artesanalmente do Pacífico Azul, apresentado em Nice durante o lançamento do projeto Desbloqueando a Prosperidade do Pacífico Azul. Crédito: Comunidade do Pacífico

*Publicado originalmente em IPS – Inter Press Service

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