Vitória de Trump é um duro golpe para a ação climática

Vitória de Trump é um duro golpe para a ação climática

Por Correspondente da IPS na Alemanha

BERLIM – A vitória de Donald Trump na eleição presidencial dos EUA foi um grande revés para defensores da ação climática, mas eles afirmam que o processo de descarbonização e a luta global contra o aquecimento global continuarão, ainda que os EUA mudem sua posição sobre o tema.

“A escolha de um negacionista do clima para a presidência dos EUA é extremamente perigosa para o planeta”, advertiu Bill Hare, diretor do Climate Analytics em Berlim. “No entanto, nem Trump estará acima das leis da física, nem o país que ele comanda”, enfatizou.

Para Hare, que fez parte do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, “se Trump cumprir a ameaça de sair do Acordo de Paris (que visa reduzir as emissões de gases de efeito estufa), o principal prejudicado será o próprio país”. Ele lembra que, na primeira presidência de Trump (2017-2021), a saída dos EUA não causou o colapso do Acordo, como alguns previam.

A eleição nos EUA ocorreu às vésperas da COP29, a 29ª Conferência do Clima da ONU, em Baku, Azerbaijão, que vai avaliar os compromissos financeiros para a ação climática global.

Com uma provável maioria republicana nas duas câmaras do Congresso, Trump poderá impor com força suas políticas negacionistas e isolacionistas no âmbito ambiental e climático.

O site britânico Carbon Brief alertou que Trump pode, não só retirar os EUA do Acordo de Paris novamente, como ir além e remover o país da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima.

Como maior emissor histórico de poluentes, a saída dos EUA reduziria a ambição global no combate à mudança climática, e poderia “incentivar outros governos populistas de direita a abandonarem também seus compromissos”, observou o Carbon Brief.

Estima-se que essa política de Trump possa resultar em 4 bilhões de toneladas adicionais de CO2 até 2030, com um custo climático global de US$ 900 bilhões, volume equivalente às emissões anuais somadas da União Europeia e do Japão, ou ao total anual combinado dos 140 países com emissões mais baixas do mundo. Em outras palavras, de acordo com o Carbon Brief, todos os ganhos obtidos nos últimos cinco anos com a implantação de tecnologias eólicas, solares e outras energias limpas seriam anulados.

Apesar desses presságios, e embora “o resultado da eleição americana seja um revés para a ação climática mundial”, Laurence Tubiana, diretora-geral da Fundação Europeia do Clima, destaca que “o Acordo de Paris demonstrou sua resiliência e é mais forte do que as políticas de qualquer país”.

“O contexto atual é muito diferente do de 2016 (quando Trump ganhou sua primeira presidência). Há um forte impulso econômico por trás da transição global, que os Estados Unidos lideraram e de que se beneficiaram, mas que agora correm o risco de perder”. Ela ressalta que “o devastador impacto dos recentes furacões nos lembra que todos os americanos são afetados pelo agravamento das mudanças climáticas.”

Christiana Figueres, responsável pelo clima nas Nações Unidas entre 2010 e 2016, afirma que “o resultado dessas eleições será considerado um duro golpe para a ação climática mundial, mas não pode e não vai interromper as mudanças em curso para descarbonizar a economia e cumprir as metas do Acordo de Paris”. Para a especialista, “insistir no petróleo e no gás é ficar para trás em um mundo que avança a grande velocidade.”

Ela acrescenta que “as tecnologias de energia limpa continuarão superando os combustíveis fósseis, não só por serem mais saudáveis, rápidas, limpas e abundantes, mas também porque enfraquecem os combustíveis fósseis em seus pontos mais frágeis: sua volatilidade e ineficiência insolúveis.”

Izabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente do Brasil, também afirma que “não há lugar para o negacionismo climático no contexto de emergência atual. A sociedade americana é corresponsável pelo aquecimento global e, apesar da vitória de Trump, será sem dúvida corresponsável pelas soluções para a crise”.

*Imagem em destaque: The Conversation

*Publicado originalmente em IPS – Inter Press Service | Tradução e revisão: Marcos Diniz

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