Trump: Mundo a lembrar final dos anos 1930, mas apesar de tudo, esperança

É um mundo a cheirar anos 1930.
Momento da contrarrevolução conservadora, a crescer.
Lideranças de natureza autoritária.
E dizer isso é pouco.
Nem se envergonham de fazer o símbolo nazista.
Tais lideranças, Trump a mais destacada delas, profundamente ligadas ao monumental mundo dos negócios financeiros.
A esse capitalismo financeiro, a subir às nuvens, e a massacrar milhões de pessoas sob o peso do trabalho desregulado, ou sob desemprego brutal.
A miséria se espalhando.
A fome, grassando.
Milhões de pessoas emigram.
Empurradas pela falta de condições de viverem nos países de origem.
Ou enxotadas pela guerra.
À vista da destruição dos países onde viviam, às vezes pela violência de aves de rapina do imperialismo, e sob os olhares complacentes de grandes potências.
Quiserem algum exemplo, muito recente, só citar a Síria.
É um mundo em ebulição.
Nem adianta, porque pouco ajuda, fazer qualquer lamento.
Como se um quadro político como o atual fosse exceção.
Desde a emergência do capitalismo, o mundo vive dessa maneira.
Desde a emergência do imperialismo, desde o final do século XIX, uma crise atrás da outra.
E a divisão do mundo pelas potências imperiais.
A Conferência de Berlim, de 1885, marca a atitude obscena do imperialismo, dividindo, retalhando a África.
Continente riquíssimo, e submetido, pela violência da secular escravidão, e depois por tal divisão realizada entre as grandes potências, a uma miséria absurda.
Um saque, o ocorrido com África.
Até hoje.
E nas crises, guerras devastadoras.
Necessárias à resolução de crises monumentais do capitalismo.
Este, não lamenta as crises.
Vive delas.
O império, antes dominante, agora em evidente decadência.
Nem se sabe se os EUA têm consciência disso.
Não creio.
Esse império assiste, assustado e pretendendo reagir, ao crescimento chinês, hoje a nação a ocupar espaços em todo o mundo.
Falamos de economia quando falamos de China, maior parceira comercial de mais de uma centena de países.
O império assiste ainda à resistência russa, derrotando passo a passo o regime nazifascista ucraniano, e vendo o país de braços dados com a China.
No plano econômico, os BRICS confrontando o domínio do dólar.
Há momentos a parecer vivermos num mundo de horrores.
Ao menos se pensarmos em Gaza: Israel e EUA cometeram um genocídio, mais de 64 mil pessoas mortas, grande parte mulheres e crianças, e mais de 200 jornalistas assassinados.
A esse genocídio, grande parte dos poderes do mundo assiste inerte, cúmplice.
Houve multidões nas ruas mundo afora contra tal massacre, houve manifestações vigorosas do presidente Lula.
Mas o sionismo de ultradireita de Netanyahu, acumpliciado com os EUA, seguiu com o genocídio.
Ao menos, podemos saudar a ideia em curso de um acordo de paz, sem podermos assegurar seja de longo curso.
Apenas o registro de que o regime criminoso e genocida de Israel aceitou o acordo a contragosto, e ameaçando rompê-lo logo queira.
É pra esse mundo o discurso de Trump.
Um discurso a pretender colocar fogo no mundo.
Um Nero desses tempos.
Fogo no mundo: no sentido quase literal, ao desprezar quaisquer cuidados com o meio ambiente, com a sobrevivência da Terra.
Um discurso a desprezar o ser humano, tanto pela atitude com os demais países do mundo, quanto pela posição diante de milhões de trabalhadores no interior dos EUA, vindos de outras nações, contribuindo decisivamente para a economia americana.
A promessa do novo presidente é apocalíptica: expulsar milhões de emigrantes, como se lixo fossem.
Desprezo profundo pelo ser humano.
Não constitui qualquer novidade se sabemos, como sabemos, ser Trump um presidente animado por um pensamento muito autoritário e elitista, nazifascista, parte de uma cruel classe dominante, cercado, inclusive no governo, por multimilionários, dispostos a fazer dos EUA pátria exclusiva deles.
O mundo vai naturalizando Hitler, novamente: Elon Musk fazendo o gesto do nazismo é evidência disso.
O discurso de Trump poderia ser definido, como o faz Luís Nassif, como o primeiro dia do fim da civilização ocidental.
É o título de artigo dele, de 21 de janeiro deste ano.
“A grande estratégia trumpiana é submeter o mundo a uma frente de oligarcas norte-americanos, usando as big techs e o mercado financeiro”.
Estas, as linhas de apoio, síntese do texto.
Uma dinâmica, na opinião dele, cuja contenção só virá “com uma grande tragédia, como foi nos anos 30 e 40”.
Talvez não, mas não se despreze essa quase profecia.
Triste, muito triste, até aqui, o papel desempenhado pela Europa, cúmplice de todas as agressivas pretensões dos EUA, executora da guerra por procuração do império contra a Rússia, sob o argumento da defesa da Ucrânia.
Cúmplice também do genocídio em Gaza.
E pouco a pouco tomada por governantes de extrema-direita.
A América Latina sabe do risco. Trump veio para oprimi-la, mais e mais.
África, também o sabe.
O mundo sabe.
Não sei se é um simples pensamento desejoso, mas creio na reação dos povos.
E das nações capazes de se indignar diante das novas ameaças do nazifascismo.
Porque se trata disso: ameaças do nazifascismo.
A humanidade experimentou a tragédia da Segunda Guerra Mundial, e sabe o significado do pensamento e da prática do nazifascismo.
Do circo de horrores a que a humanidade foi submetida.
Dos rios de sangue provocados por Hitler e Mussolini.
Espera-se haver alguma lembrança daqueles trágicos anos, entre o final dos anos 1930 e meados dos anos 1940.
E diante de tal lembrança, a esperança de poderosas reações.
Daquelas nações e daqueles povos capazes de se indignar diante da violência, da condenação de tanta gente à miséria e à fome.
Que se alevantem em favor da paz, da distribuição da renda e da riqueza, no combate à fome, contra, portanto, a esse capital financeiro, especulativo, incapaz de produzir qualquer bem à humanidade.
Esperança.
Três vezes salve a esperança.

Emiliano José da Silva Filho é jornalista, escritor, professor universitário, imortal da Academia de Letras da Bahia, formado pela Faculdade de Comunicação Universidade Federal da Bahia, onde fez Mestrado e Dourado, ex-vereador, deputado estadual e deputado federal pelo Partidos dos Trabalhadores.