Com reeleição de Noboa, Equador se mantém à direita

Por Correspondente da IPS
QUITO – O jovem governante direitista e herdeiro da maior fortuna do Equador, Daniel Noboa, continuará governando até 2029 após derrotar no segundo turno da eleição presidencial, no domingo 13, a candidata esquerdista Luisa González.
Noboa alcançou 5.735.230 votos (55,65%) contra 4.570.179 (44,35%) de González, de acordo com o boletim divulgado na manhã desta segunda-feira, 14, pelo Conselho Nacional Eleitoral, “tendência irreversível” segundo o órgão, pois compreende 97,05% das atas válidas.
“Não resta nenhuma dúvida sobre quem é o vencedor”, afirmou Noboa de uma casa de descanso no litoral do Pacífico, enquanto González denunciou “uma fraude eleitoral grotesca”, recusou-se a reconhecer os resultados e exigiu “uma recontagem” dos votos, o que implicaria reabrir as urnas.
O resultado – considerando os acordos, declarações e encontros recentes de Noboa – manterá o Equador entre os governos de tendência direitista na América Latina e entre os principais aliados do presidente americano Donald Trump, junto com Argentina, Costa Rica, El Salvador, Panamá, Paraguai e República Dominicana.
Noboa admira e pretende reproduzir a política linha-dura contra o crime aplicada por Nayib Bukele em El Salvador, firmou uma aliança com o grupo de segurança privada americano Blackwater, e está na linha de frente entre os que criticam governos de orientação contrária, como o de Nicolás Maduro na Venezuela.
No resultado da eleição pesaram principalmente situações internas neste país de 18,2 milhões de habitantes, com índice de pobreza de 28% e onde 1,1 milhão são indígenas de 14 povos diferentes, independentemente da existência de irregularidades ou da comprovação de uma fraude como a que González denuncia.
Em primeiro lugar, a insegurança e o crime, cujo principal indicador são os homicídios, que passaram de 13 por 100.000 habitantes em 2021 para 43 por 100.000 em 2023, embora tenham caído para 38 por 100.000 em 2024.
A organização Insight Crime indicou que nos primeiros 50 dias de 2025 houve 1.300 homicídios, 40% a mais do que em 2023, o ano mais crítico do problema.
Desse modo, uma primeira explicação para o resultado pode estar na eficácia da mensagem de Noboa de que uma política linha-dura como a que ele defende é necessária para conter o crime.
Para reforçar isso, o mandatário decretou estado de emergência em Quito e várias províncias apenas dois dias antes do segundo turno presidencial, com mobilização de unidades militares em importantes centros eleitorais.
Outras razões apontam para a situação econômica e o temor de que um governo de González alterasse a dolarização vigente no país – o que a candidata negou em suas aparições públicas – e para a falta de oportunidades que ainda leva milhares de jovens a migrar.
Diversos analistas destacam o peso da sombra sobre González do ex-presidente Rafael Correa (2007-2017), líder do partido de ambos, Revolução Cidadã, e seu apoio ao governo de Maduro na Venezuela, facilitando a campanha de Noboa sobre “Equazuela” ou não repetir no Equador as crises que a Venezuela atravessou.
Um lembrete dessas crises é o quase meio milhão de venezuelanos que na última década chegaram como migrantes ou refugiados ao Equador.
No primeiro turno da eleição presidencial, em 9 de fevereiro, Noboa e González ficaram em uma espécie de empate técnico, com 4.527.606 votos (44,17%) para o mandatário e 4.510.860 (40%) para sua oponente, apesar de as pesquisas preverem que o governante teria vários pontos percentuais de vantagem.
Neste segundo turno, as pesquisas indicavam que o empate técnico se repetiria, prevendo um resultado muito apertado, mas erraram novamente, já que os resultados oficiais dão a Noboa uma vantagem de mais de 11 pontos e mais de um milhão de votos, enquanto González praticamente manteve a mesma votação de fevereiro.
Isso apesar de o movimento Pachakutik, braço político dos movimentos indígenas e cujo candidato Leónidas Iza obteve meio milhão de votos (5,25%) no primeiro turno, ter pedido voto para González no segundo turno.
A partir desses resultados, Correa, de seu exílio na Bélgica – a justiça equatoriana o condenou à revelia a oito anos de prisão por suborno – juntou-se às denúncias de fraude.
Em sua conta na rede social X, Correa escreveu que “todos sabem que esses resultados são impossíveis. Obtivemos os mesmos 44% do primeiro turno. Esses mafiosos poderiam ter disfarçado um pouco mais”.
“Estatisticamente, o resultado é impossível. Luisa teria praticamente os mesmos votos que no primeiro turno. Fizeram uma megafraude, mas cometeram um erro: exageraram”, acrescentou Correa.
O Partido Revolução Cidadã emitiu uma declaração denunciando irregularidades como manipulação de atas, quedas de energia em alguns locais eleitorais importantes, a disparidade com as pesquisas e a intimidação por parte dos militares no contexto do estado de emergência.
Com poucas probabilidades de que as denúncias de fraude prosperem, segundo as primeiras observações de analistas, o Equador se encaminha para um período de quatro anos sob o governo de Noboa e sua vice-presidente, a empresária María José Pinto.
Noboa (37 anos), herdeiro do império bananeiro e camaroneiro de seu pai, Álvaro Noboa, que várias vezes buscou – sem sucesso – a presidência do Equador, teria maior margem de manobra para avançar com suas medidas de caráter direitista, uma vez superado o desafio da reeleição.
Muito provavelmente, ele se inclinará por um exercício o mais direto possível do poder presidencial, considerando que, na Assembleia Nacional legislativa de 151 cadeiras, sua Ação Democrática Nacional tem uma bancada minoritária (66 assentos) contra 75 que reúnem Revolução Cidadã e Pachakutik.
Em Quito, chegavam nesta segunda-feira, 14, cada vez mais mensagens de felicitação e bons votos a Noboa vindas da América e da Europa, e os meios de comunicação destacavam a mensagem escrita por Donald Trump em sua rede Social Truth: “Parabéns a Daniel Noboa, que será um grande líder para o maravilhoso povo equatoriano. Ele não os decepcionará!”.
*Imagem em destaque: Daniel Noboa e sua candidata à vice-presidência, María José Pinto, no comício de encerramento da campanha em Quito, em 9 de abril. Foto: CC-ADN
**Publicado originalmente em IPS – Inter Press Service

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