Conflito entre Colômbia e EUA injeta urgência ao tema migratório

Conflito entre Colômbia e EUA injeta urgência ao tema migratório

BOGOTÁ – O conflito diplomático e comercial entre Bogotá e Washington durou um dia, no domingo, 26, mas foi suficiente para colocar a América Latina e o Caribe diante da necessidade urgente de encontrar soluções para o drama dos milhões de migrantes que seguem para os Estados Unidos e dos muitos milhares que são deportados.

A presidente hondurenha Xiomara Castro convocou uma cúpula de emergência com os chefes de Estado e de governo dos 33 países que compõem a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), da qual é presidente pró-tempore, marcada para quinta-feira, 30, em Tegucigalpa, no formato híbrido, presencial e virtual.

O presidente colombiano Gustavo Petro, que em breve assumirá a presidência da Celac, anunciou sua participação presencial. A presidente mexicana Claudia Sheinbaum informou que está avaliando a possibilidade de participar pessoalmente do evento.

A agenda da cúpula de Tegucigalpa inclui três temas: migração, meio ambiente e unidade latino-americana e caribenha. No entanto, é evidente que o tema migratório dominará as discussões, dado o impacto crescente das migrações nas relações hemisféricas.

Avões militares dos Estados Unidos começaram a deportar migrantes indesejáveis para países da América Central e do Sul logo na primeira semana da presidência de Donald Trump, que iniciou em 20 de janeiro. Imagens, distribuídas pelo próprio governo dos EUA, mostraram migrantes sendo escoltados para embarcar em aviões militares destinados ao transporte de tropas e carga.

O México recebeu 4.000 migrantes deportados dos Estados Unidos entre os dias 20 e 26 de janeiro, informou Sheinbaum. Também houve voos para Guatemala e Brasil, este último com condições deploráveis tanto para os ocupantes quanto para os aviões, o que gerou uma nota de protesto por parte de Brasília.

A crise diplomática entre Bogotá e Washington ocorreu após o presidente colombiano Gustavo Petro negar permissão para dois voos com migrantes colombianos deportados. As aeronaves militares precisaram voltar. Petro argumentou que seu governo receberia os cidadãos colombianos, mas exigiu respeito e tratamento digno para os deportados, afirmando que “os migrantes não são criminosos”.

A resposta de Trump foi imediata, impondo um pacote de sanções à Colômbia, que incluiu tarifas adicionais de 25% sobre os produtos colombianos – que poderiam chegar a 50% em uma semana –, a suspensão de vistos na capital colombiana e a retirada das autorizações de visto para funcionários colombianos e seus familiares.

Em retaliação, Petro anunciou tarifas sobre as importações dos Estados Unidos e alertou sobre mais de 15.000 cidadãos americanos em situação irregular em seu país. Em uma extensa declaração nas redes sociais, Petro acusou a medida de Trump como parte de um plano para derrubá-lo.

A decisão de Trump teve impacto imediato sobre a população que depende dos serviços consulares dos EUA na Colômbia, e afetou principalmente os setores da economia privada, já que os Estados Unidos são o principal parceiro comercial da Colômbia.

Em 2024, os EUA foram responsáveis por 29% das exportações colombianas, que totalizaram 13,1 bilhões de dólares, segundo a Câmara de Comércio Colombo-Americana. Mais da metade (52%) das exportações foram de produtos minero-energéticos, como petróleo e ouro, e o restante incluiu itens como café, flores, bananas e abacates. Além disso, a Colômbia importa derivados de petróleo, maquinaria, equipamentos eletrônicos, insumos agrícolas e produtos químicos dos Estados Unidos.

Veja Também:  Dados sobre catástrofes climáticas assustam cada vez mais no Brasil

À medida que a tensão entre Bogotá e Washington aumentava, líderes empresariais como Brice MacMaster, presidente da Associação Nacional de Industriais da Colômbia, pediram para reconsiderar as decisões de Petro, alertando sobre os prejuízos à economia e ao emprego. MacMaster apontou que produtos como eletrônicos e milho para ração animal se tornariam mais caros e o país teria menos dólares para atender às suas necessidades e à dívida pública.

A reação nos Estados Unidos provavelmente resultaria em aumento nos preços de café colombiano e flores, itens que são populares, especialmente para o Dia dos Namorados em fevereiro.

A Colômbia também mantém bases americanas em seu território e está envolvida em programas de cooperação militar com os Estados Unidos, focados em combater guerrilhas na região do Catatumbo e cartéis de tráfico de drogas.

Mídias colombianas e políticos opositores destacaram que, no passado recente, os voos de deportação foram aceitos. Somente no ano passado, sob a presidência de Petro, 124 voos foram autorizados.

Enquanto os meios de comunicação cobriam a crescente crise, diplomatas de ambos os países tentavam encontrar uma solução, o que ocorreu ao final do dia.

A Casa Branca anunciou que a Colômbia havia aceitado todas as condições de Trump, incluindo permitir que aviões militares dos EUA enviassem deportados de volta para o país. A suspensão de vistos seria mantida até que o primeiro avião com deportados aterrissasse, e as sanções permaneceriam “em reserva” caso a Colômbia não cumprisse o acordo.

A secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, declarou que os acontecimentos mostraram ao mundo que os Estados Unidos estavam recuperando seu respeito no cenário internacional. Ela acrescentou que Trump continuaria a proteger “ferozmente” a soberania dos EUA e esperava que todas as nações cooperassem plenamente na aceitação de deportados de seus cidadãos.

O chanceler colombiano, Luis Gilberto Murillo, informou no final do domingo que a crise havia sido superada. Murillo e o embaixador da Colômbia nos EUA, Daniel García-Peña, se reuniriam nos próximos dias para “dar seguimento às negociações”.

O governo colombiano continuará recebendo seus cidadãos deportados, “garantindo condições dignas”, afirmou Murillo, e Petro colocou o avião presidencial à disposição para facilitar o próximo voo desse tipo.

Apesar da resolução temporária, a crise diplomática entre os dois países foi uma das mais graves em anos, considerando que a Colômbia sempre foi um aliado dos Estados Unidos.

*Imagem distribuída pelo governo dos Estados Unidos mostra latino-americanos sendo deportados na última semana ao embarcarem, algemados, em um avião militar. Imagem: Pressec

**Publicado originalmente em IPS – Inter Press Service | Versão e Revisão: Marcos Diniz

Tagged: , , , , , , , , , ,