Como será a Europa em 2025

Como será a Europa em 2025

Com uma prolongada guerra em seu território, o fantasma das crises em vários países membros, o crescimento da extrema direita que no século 20 provocou conflitos que devastaram sua população e o seu território; assistindo à contestação da sua própria existência por parte de correntes políticas internas nacionalistas e ultraconservadoras, a União Europeia entra em 2025 convivendo com a instabilidade e a incerteza que ameaçam a sua unidade e o seu projeto para o futuro.

O ano de 2024 encerrou-se com uma crise política na Alemanha, a locomotiva da UE. Com a dissolução do Parlamento e eleições marcadas para 23 de fevereiro de 2025, vigora a incerteza. A coalizão apelidada de semáforo, por reunir o SPD (vermelho), Liberal (amarelo) e os Ecologistas (verdes), chegou ao fim e deixou o país sem uma maioria estável. É um momento delicado para a economia alemã, que enfrenta a estagnação do crescimento e problemas estruturais. A outra ameaça é o crescimento dos neonazistas da AfD, Alternativa para a Alemanha, que se tornou a segunda força política do país.

A França

Na França, o segundo mais importante país da União Europeia, as perspectivas políticas para 2025 são também marcadas por instabilidade e incerteza diante da fragmentação parlamentar e dos desafios econômicos. O país enfrenta uma situação política delicada após as eleições legislativas de 2024. A Nova Frente Popular (NFP), coligação de esquerda, emergiu como o grupo mais votado e conquistou 182 cadeiras no parlamento. A coligação Ensemble do presidente Macron ficou em segundo lugar com 168 deputados. A extrema-direita, representada pela União Nacional de Marine Le Pen, fez 143 deputados. Nenhum partido ou coligação alcançou a maioria absoluta de 289 deputados necessária para governar sozinho, resultando em um parlamento fragmentado.

O novo primeiro-ministro François Bayrou precisa negociar apoio em uma Assembleia Nacional dividida em três blocos opostos. A aprovação do orçamento para 2025 provocou a queda do governo anterior de Michel Barnier e o impasse político e fiscal prejudica o crescimento econômico com a previsão de apenas 0,2% de crescimento por trimestre nos primeiros seis meses do ano. Macron tem a opção de convocar novas eleições a partir de meados de 2025, se a situação permanecer insustentável.

A Europa

A Europa começa o ano com modestas perspectivas, a inflação em declínio, uma recuperação possível, mas gradual, enquanto persistem riscos e incertezas. A expectativa da inflação é de 2,1% para 2025 frente a 2,4% no ano passado. As tensões geopolíticas e comerciais e os riscos do governo Trump nos EUA podem prejudicar investimentos e aumentar os preços de importação. A taxa de desemprego deverá manter-se estável, em torno de 5,9 por cento apesar dos desequilíbrios nos mercados de trabalho.

Os domínios prioritários definidos pela União Europeia falam de uma Europa livre e democrática, focada nos valores europeus interna e globalmente; uma Europa forte e segura, visando reforçar a segurança, defesa e a ação externa da UE; uma Europa próspera e competitiva, com ênfase na estimulação da competitividade, inovação e transição ecológica e digital. A guerra na Ucrânia, por outro lado, continua a influenciar a política externa e de segurança dos países europeus. Existe uma tensão crescente entre “mais ou menos Europa”, refletindo divergências sobre o futuro da integração europeia. A desinformação, promovida pela internet e suas redes sociais, é vista como uma ameaça à democracia e às instituições.

A direita

As eleições de 2024 mostraram a tendência de os partidos de extrema direita na Europa tornarem-se cada vez mais influentes nos próximos anos. A extrema direita conquistou um número recorde de assentos no Parlamento Europeu, chegando a cerca de 150 dos 720 assentos. Dois novos grupos de extrema direita foram formados no Parlamento Europeu: Europa das Nações Soberanas, liderado pelo partido Alternativa para a Alemanha (AfD), com 25 eurodeputados de 8 países e Patriotas pela Europa, que inclui partidos como a União Nacional de Marine Le Pen, o Fidesz de Viktor Orbán e o Vox espanhol, somando 84 eurodeputados.

A expansão da extrema direita pode moldar decisões importantes e pressionar por políticas mais rígidas em imigração e segurança, influenciar na desaceleração de iniciativas como o Pacto Ecológico Europeu e criar dificuldades para a formação de maiorias dos partidos do centro democrático para a aprovação de leis.

A extrema direita pretende pressionar por políticas migratórias mais restritivas, maior ênfase em segurança nas fronteiras e revisão dos acordos de asilo e refugiados. Vai procurar influenciar também para a resistência a medidas ambientais mais ambiciosas e pela revisão de metas de redução de emissões.

A extrema direita, dita eurocética, pode ainda dificultar a unidade do bloco em questões-chave e aumentar a tensão entre “mais ou menos Europa”, enfraquecendo a própria União Europeia. Já integra governos de coligação em países como Itália, Finlândia, República Tcheca e Croácia. Uma tendência que pode se expandir, afetar as políticas nacionais e a representação desses países no Conselho Europeu. A fragmentação entre esses partidos pode, no entanto, limitar sua capacidade de ação conjunta em nível europeu.

Deverá haver pressão por mudanças nas políticas econômicas da UE com a revisão de políticas fiscais comuns, resistência a medidas de integração econômica mais profunda e ênfase em políticas econômicas nacionalistas.

A extrema direita continuará a enfatizar questões de identidade cultural e vai pressionar por políticas que reforcem valores tradicionais, intensificar debates sobre multiculturalismo e identidade europeia, promovendo políticas educacionais e culturais com o objetivo de fazer prevalecer sua particular visão do mundo.

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