Os crimes que compensam

Existe consenso entre os autores de formação marxista de que há uma relação inversamente proporcional entre Estado Social e Estado Penal. Onde for menor o desenvolvimento social, maior a ocorrência de crimes. Se a criminalidade está associada à exclusão, apresentando os maiores índices onde é maior a pobreza e a miséria, a rica Europa desmentiria essa afirmação. A miséria não é definitivamente a marca desse continente que tem enriquecido ao longo da história, muitas vezes à custa da pobreza dos outros, a exemplo dos casos da África e parte do Oriente e da Ásia, onde se encontram as regiões mais pobres do planeta. É possível afirmar, no entanto, que a riqueza sempre foi canalizada para as mãos de poucos. Esta é também uma afirmação que é um truísmo de tão verdadeira.
O terrorismo é o que mais preocupa os países da Europa, mas a cada dois minutos um tipo diferente de crime é denunciado. Os atentados terroristas na França e na Áustria e os que já ocorreram na Espanha, Itália, Inglaterra e diversos outros alvos do terror mobilizam os governos e as polícias de todos os países. E dá trabalho à Europol, a polícia oficial da União Europeia sustentada pelos 27 países membros. Outros crimes, além do terrorismo, atraem também a atenção da polícia. O tráfico e exploração sexual de crianças, passando pela corrupção e violência nos esportes, tráfico de drogas, cibercrimes, crimes financeiros, tráfico de pessoas e órgãos humanos, sem esquecer os clássicos crimes de homicídio, assaltos e roubos a formar o elenco da criminalidade na Europa. E os crimes menores e recorrentes como furto de carteira, carro e golpes em turistas.
Segundo o site Numbeo (https://www.numbeo.com/), as dez cidades da Europa mais inseguras, onde a criminalidade se apresenta com maior violência são Birmingham, no Reino Unido; Bradford, Reino Unido; Manchester, Reino Unido; Marseille, França; Catania, Itália; Nápoles, Itália; Drogheda, Irlanda; Londres, Reino Unido; Malmo, Suécia e Bilbao, Espanha.
O cibercrime, as quadrilhas
Os crimes com maior crescimento são os cometidos pela internet ou, segundo a polícia, através da darknet, que é hoje uma porta de entrada para o obscuro mundo da criminalidade. Os avanços tecnológicos à disposição dos criminosos não se resumem à Internet. As quadrilhas têm acesso a outros tipos da moderna tecnologia, como drones, inteligência artificial e os avanços da logística automatizada.
Um relatório da Europol informa que os grupos de crime organizado em atuação já são mais de cinco mil, a maior parte dedicada ao tráfico de drogas, que aparece sempre ligado ao tráfico de pessoas. Diz o relatório policial que é “uma das atividades mais generalizadas e rentáveis para a criminalidade organizada dentro da União Europeia”.
A Europol, junto com as polícias de Portugal, Espanha e Reino Unido, em ação coordenada, fez 388 prisões e identificou 249 vítimas em potencial. Crianças e adolescentes são traficados para exploração sexual e de trabalho. São também utilizados na prática de crimes como roubo e contrabando e usados como falsos parentes de pessoas em migrações clandestinas. O Parlamento Europeu criou uma comissão para se dedicar a combater o tráfico de drogas, o tráfico de seres humanos, a ajuda à imigração clandestina, o tráfico de armas e a lavagem de dinheiro.
Os crimes cibernéticos mais comuns e que se alastram são o hackeamento de computadores, ataques a redes, distribuição de vírus, cavalos de troia e phishing para capturar informações bancárias. O Parlamento Europeu calcula em 1,1% do PIB de toda a União Europeia o custo dos crimes financeiros, que engloba a fraude e evasão fiscal, a corrupção e o branqueamento de capitais. Uma comissão especial propôs medidas contra o crime organizado, entre elas o confisco de bens de organizações criminosas e sua reutilização com finalidade social, bem como a abolição do sigilo bancário e o fim dos paraísos fiscais dentro da União Europeia como é o caso da Suíça, Andorra, Luxemburgo, as Ilhas do Canal, Liechtenstein e Mônaco.
A máfia
Embora seja um fenômeno italiano, assim como são as milícias no Rio de Janeiro, os grupos mafiosos atuam em todo o continente europeu, principalmente os mais conhecidos ‘Ndrangheta, Camorra e Cosa Nostra. Existem outras organizações menores e mais recentes na Itália como a Stidda (Sicília central), a Sacra Corona Unita (região da Puglia), o Bando dellaMagliana(Roma) e, a mais recente de todas, a denominada “Máfia Capital”.
Trata-se de um tipo de organização criminosa que tem sua origem anterior à unificação do território italiano, na segunda metade do século XIX. De origem rural e estruturada com base nas relações familiares, cresceu onde não existia ou era escassa a presença do Estado. Ganhou fama internacional nos anos 1950, quando implantou uma lucrativa indústria de sequestros.
A força da ‘Ndrangheta, a principal entre as organizações existentes, tem origem na violência da sua atuação e nos lucros do tráfico internacional de drogas, além da reciclagem de atividades econômicas. Controla setores importantes da economia, comércio e agricultura. Conta com a cumplicidade e apoio na administração pública.
O volume de negócios anuais da ‘Ndrangheta é calculado em 60 bilhões de euros formados pelo tráfico de drogas (€ 24,2 Bilhões), tráfico ilegal de lixo tóxico e radiativo (€ 19,6 Bilhões), extorsão e usura (€ 2,9 Bilhões), peculato (€2,4 bilhões), apostas ilegais (€1,3 Bilhão), tráfico de armas, prostituição, mercadorias falsificadas e tráfico de seres humanos (€ 10 Bilhões).
Essa movimentação financeira faz da ‘Ndranghetauma potência econômica que supera outras máfias italianas como a Cosa Nostra, Camorra, Sacra Corona Unida e Stidda.
A partir dos anos 1990 o dinheiro da Máfia passou a ser lavado na compra de imóveis e no comércio da Alemanha, Reino Unido, Países Baixos, Áustria e Suíça além do Leste europeu: Rússia, Hungria, Polônia e Romênia. Uma parte do lucro nessa região é reinvestido no tráfico de armas. O tráfico ilegal de armas em todo o mundo movimenta anualmente cerca de 851 milhões de euros (equivalente a 1 bilhão de dólares). Esse valor é uma estimativa das Nações Unidas, por serdifícil quantificar com precisão devido à natureza obscura e ilícita deste comércio.
*Imagem em destaque: [email protected]

Poeta, articulista, jornalista e publicitário. Traballhou no Diário de Minas como repórter, na Última Hora como chefe de reportagem e no Correio de Minas como Chefe de Redação antes de se transferir para a publicidade, área em que se dedicou ao planejamento e criação de campanhas publicitárias. Colaborou com artigos em Carta Maior e atualmente em Fórum 21. Mora hoje no Porto, Portugal.
É autor de Poente (Editora Glaciar, Lisboa, 2022), Dezessete Poemas Noturnos (Alhambra, 1992), O Último Número (Alhambra, 1986), O Itinerário dos Emigrantes (Massao Ohno, 1980), A Região dos Mitos (Folhetim, 1975), A Legião dos Suicidas (Artenova, 1972), Processo Penal (Artenova, 1969) e Texto e a Palha (Edições MP, 1965).