O sistema de saúde em Gaza está em ruínas

O sistema de saúde em Gaza está em ruínas

O hospital Al-Shifa, que era o maior e mais importante da Faixa de Gaza, sofreu graves danos devido aos bombardeios israelenses durante a guerra. Recuperar a infraestrutura e, em geral, o sistema de saúde nesse território palestino deve custar pelo menos US$ 7 bilhões, segundo estimativas da OMS; cerca de 170 mil feridos continuam precisando de atendimento. (Imagem: ONU)

POR CORRESPONDENTE IPS

GENEBRA – O sistema de saúde da Faixa de Gaza continua em ruínas em meio ao frágil cessar-fogo, e centenas de milhares de pessoas ainda enfrentam necessidades médicas e humanitárias urgentes, alertou nesta quinta-feira, 23, a Organização Mundial da Saúde (OMS).

O diretor-geral da OMS em Genebra, Tedros Adhanom Ghebreyesus, comemorou o fim das hostilidades entre Israel e a milícia islâmica Hamas, mas disse que “a crise está longe de terminar e as necessidades são imensas”.

Ele destacou o saldo de dois anos de conflito, no qual morreram mais de 68.000 habitantes do território palestino. Há mais de 170.000 pessoas feridas, incluindo 5.000 amputadas e 3.600 com queimaduras graves. Pelo menos 42.000 pessoas precisam de reabilitação de longo prazo e 4.000 mulheres dão à luz todos os meses em condições inseguras.

“A destruição foi física, mas também psicológica. Estima-se que um milhão de pessoas — cerca de metade dos habitantes da Faixa — precisam de acesso a cuidados de saúde mental”, disse o responsável da OMS.

Ele descreveu um sistema à beira do colapso: “não há hospitais em pleno funcionamento em Gaza, e apenas 14 dos 36 estão funcionando”, isso em meio a “uma grave escassez de medicamentos essenciais, equipamentos e pessoal de saúde”.

Desde que o cessar-fogo entrou em vigor há duas semanas, as equipes da OMS intensificaram o apoio, enviando suprimentos médicos aos hospitais, enviando equipes médicas de emergência e facilitando as evacuações. “Ontem, apoiamos a evacuação de 41 pacientes e 145 acompanhantes para vários países”, contou Tedros, agradecendo às mais de 20 nações que receberam essas pessoas.

Mas 15.000 pacientes ainda precisam de tratamento fora de Gaza, incluindo 4.000 crianças, enquanto “mais de 700 morreram enquanto aguardavam a evacuação”, disse Tedros.

Ele pediu a reabertura da passagem de Rafah — no sul da Faixa de 365 quilômetros quadrados e fronteira com o Egito — e o restabelecimento dos encaminhamentos médicos para a Cisjordânia ocupada (a leste de Israel), incluindo Jerusalém Oriental, para permitir atendimento urgente e ampliar a entrega de ajuda.

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“Embora o fluxo de ajuda tenha aumentado, ainda é apenas uma fração do que é necessário”, destacou, ao observar que “uma quantidade significativa de ajuda se acumulou em Al-Arish, no Egito”, aguardando a reabertura de Rafah.

O plano de cessar-fogo de 60 dias da ONU busca US$ 45 milhões para manter os serviços essenciais de saúde, fortalecer a prevenção de doenças e os sistemas de alerta precoce, coordenar os parceiros de saúde e apoiar a reconstrução.

No entanto, reconstruir o sistema de saúde de Gaza custará pelo menos US$ 7 bilhões, apontou Tedros. “A OMS estava em Gaza antes do início da guerra, estivemos lá durante todo o processo e permaneceremos lá para ajudar a população de Gaza a construir um futuro mais saudável, seguro e justo”, acrescentou.

Na ONU em Nova York, o porta-voz adjunto do secretário-geral, Farhan Haq, afirmou que as Nações Unidas e seus parceiros estão intensificando os esforços de socorro.

Uma equipe da ONU chegou recentemente ao bairro de Az Zaitoun, na cidade de Gaza — inacessível antes do cessar-fogo —, onde mais de 200 famílias que retornaram vivem em condições de extrema pobreza.

Os moradores caminham até dois quilômetros para chegar ao ponto de água mais próximo e precisam urgentemente de alimentos, água potável, artigos de higiene e assistência em dinheiro para itens essenciais para o inverno.

Enquanto isso, as agências da ONU afirmam que continuam a fornecer ajuda vital. O Programa Mundial de Alimentos (PMA) distribui lanches fortificados para crianças em idade escolar, enquanto mais de 140 caminhões com alimentos, kits de higiene e artigos de refúgio de emergência entraram em Gaza no início desta semana.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) entregou 20 caminhões com fraldas para bebês, e o centro de operações de crise (Unops) distribuiu quase 160 mil litros de combustível para operações humanitárias.

“O cessar-fogo oferece uma tábua de salvação”, disse Tedros, “mas o sistema de saúde de Gaza e seu povo ainda lutam para sobreviver”.

Artigo publicado originalmente na Inter Press Service.

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