As evidências do genocídio israelense em Gaza

Por Joseph Chamie*
PORTLAND, Estados Unidos – Quando o incerto cessar-fogo em Gaza começou no domingo, 19, o genocídio de Israel contra os palestinos na Faixa ainda era evidente.
Após o ataque liderado pelo Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023, o ex-ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, chamou os palestinos de “animais humanos”. O ex-embaixador de Israel na ONU, Dan Gillerman, também descreveu os palestinos como “animais horríveis e desumanos”.
O vice-presidente do Knesset (parlamento israelense), Nissim Vaturi, publicou: “Agora todos temos um objetivo comum: apagar a Faixa de Gaza da face da Terra”. Além disso, o presidente israelense Isaac Herzog declarou que “não há civis inocentes em Gaza”.
Além de cortar o fornecimento de alimentos, água e combustível para Gaza, Israel respondeu ao ataque com uma guerra devastadora que incluiu bombardeios, tiroteios e bloqueios. Essas ações resultaram em um número excessivo de mortos, feridos, sofrimento, deslocamento e destruição em toda Gaza.
À medida que a guerra entre Israel e Gaza se aproximava de 500 dias de conflito, os desequilíbrios em mortes, feridos, deslocamentos e destruição eram impressionantes.
Por exemplo, com base nos números de mortes relatados, que são significativamente menores do que os de palestinos em Gaza, aproximadamente 96% das mortes na guerra entre Israel e Gaza até 10 de janeiro de 2025 foram de palestinos, sendo quase 70% dessas mortes de mulheres e crianças.
Embora Israel tenha o direito de se defender, a legítima defesa deve seguir o direito humanitário internacional. As ações de Israel em Gaza não cumprem essas normas.
O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu mandados de prisão contra o primeiro-ministro de Israel e seu ex-chefe de defesa por supostos crimes de guerra e crimes contra a humanidade no conflito em Gaza. Os juízes do TPI encontraram motivos razoáveis para acreditar que os dois eram responsáveis por assassinato, perseguição e uso da fome como arma de guerra contra civis palestinos.
Além disso, a Corte Internacional de Justiça (CIJ) emitiu orientações sobre como Israel deve conduzir a guerra em Gaza, destacando que deve evitar o genocídio.
O Comitê Especial da ONU para investigar práticas israelenses concluiu que os métodos de guerra de Israel em Gaza são compatíveis com as características de genocídio, com assassinatos em massa de civis, uso da fome como arma e imposição intencional de condições de vida que ameaçam a sobrevivência dos palestinos.
Um relatório da Rede Universitária de Direitos Humanos (UNHR, em inglês), da Faculdade de Direito da Universidade de Boston, afirmou que “Israel cometeu atos genocidas, incluindo assassinatos, graves danos e condições de vida destinadas à destruição física dos palestinos em Gaza”.
O Centro de Direitos Constitucionais (CCR, em inglês), um grupo de defesa jurídica nos Estados Unidos, também afirmou que Israel está cometendo genocídio em Gaza. Em seu relatório jurídico, o CCR destacou as violações de Israel à Convenção sobre o Genocídio e também criticou o governo dos EUA por sua cumplicidade nessas violações.
Um ex-ministro da Defesa de Israel disse que o governo israelense, com apoio de políticos de extrema-direita, tinha como objetivo ocupar, anexar e limpar etnicamente Gaza para construir assentamentos israelenses. Ele acusou o governo de cometer crimes de guerra e limpeza étnica em Gaza.
Além disso, a Anistia Internacional publicou um relatório indicando que havia reunido provas suficientes para concluir que Israel está cometendo genocídio contra os palestinos em Gaza.
O relatório condenou Israel especificamente por usar a fome como método de guerra. Após o ataque liderado pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, Israel cortou o fornecimento de água, combustível e quase toda a ajuda humanitária para os civis em Gaza.
A Human Rights Watch também relatou que as autoridades israelenses privaram deliberadamente os palestinos de Gaza de acesso à água potável e ao saneamento básico necessário para a sobrevivência humana. Eles concluíram que o governo israelense é responsável por crimes contra a humanidade e genocídio.
Acadêmicos e pesquisadores de Israel, Estados Unidos e outros países também chegaram à conclusão de que Israel está cometendo genocídio em Gaza.
O professor Amos Goldberg, especialista em Estudos do Holocausto na Universidade Hebraica de Jerusalém, publicou um artigo em Siha Mekomit acusando Israel de cometer genocídio em Gaza. Ele concluiu que “o que está acontecendo em Gaza é um genocídio, porque Gaza já não existe”.
De maneira semelhante, Omer Bartov, professor de Estudos do Holocausto e Genocídio na Universidade Brown, em Rhode Island, também concluiu que já não é possível negar que Israel cometeu crimes de guerra sistemáticos, crimes contra a humanidade e atos genocidas.
Segundo ele, o objetivo final do governo israelense desde o início era tornar toda a Faixa de Gaza inabitável, enfraquecer sua população a tal ponto que desaparecesse ou fosse obrigada a fugir do território.
Governos dentro e fora da região também consideram que Israel está cometendo genocídio em Gaza. O príncipe herdeiro da Arábia Saudita condenou as ações de Israel como genocídio, e o xeque emir do Catar acusou Israel de cometer um “genocídio coletivo” em Gaza. O presidente da Turquia afirmou que a política israelense de genocídio, ocupação e invasão deve chegar ao fim.
Além disso, mais de uma dúzia de países, incluindo Bélgica, Irlanda, México e Espanha, aderiram ou manifestaram intenção de aderir ao caso de genocídio contra Israel na Corte Internacional de Justiça, liderado pela África do Sul.
Nos Estados Unidos, pelo menos uma dúzia de funcionários do governo federal renunciaram em protesto contra a política do então presidente Joe Biden em Gaza. Eles acusaram o governo de ser cúmplice no assassinato e na fome de palestinos em Gaza, contribuindo para o genocídio cometido por Israel.
Alguns disseram que não poderiam continuar trabalhando para um governo que ignora as vozes de seus próprios funcionários enquanto financia e permite o genocídio dos palestinos em Gaza.
Além disso, outros descreveram a política de Biden em Gaza como um fracasso moral, prático e político, culpando os EUA por serem cúmplices nas mortes de civis, incluindo a fome de crianças.
Também, alguns membros do Congresso dos Estados Unidos, como o senador Bernie Sanders, criticaram o governo israelense, dizendo que as ações de Israel em Gaza são uma “limpeza étnica”. Representantes como Alexandria Ocasio-Cortez, Rashida Tlaib, Ilhan Omar e Jamal Bowman também acusaram Israel de genocídio contra o povo palestino.
O cessar-fogo foi finalmente concretizado no domingo, 19, na guerra entre Israel e Gaza, e a libertação de reféns israelenses já começou. Mas, apesar de o cessar-fogo ser amplamente apoiado pela comunidade internacional, ele e a libertação de reféns não mudam o fato de que Israel cometeu genocídio em Gaza.
Israel precisa ser responsabilizado por suas ações e também garantir que o genocídio contra os palestinos não continue.
Joseph Chamie é demógrafo consultor, ex-diretor da Divisão de População da ONU e autor de diversas publicações sobre temas populacionais, incluindo seu livro mais recente: “Níveis de população, tendências e diferenciais”.
* Este é um artigo de opinião, e as ideias apresentadas refletem exclusivamente a visão do autor, não representando, necessariamente, a linha editorial do Fórum 21.
**Imagem em destaque: OMS
***Publicado originalmente em IPS – Inter Press Service | Tradução e Revisão: Marcos Diniz

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