Fome ameaça Gaza enquanto bombardeios continuam

Fome ameaça Gaza enquanto bombardeios continuam

Por Correspondente da IPS

NAÇÕES UNIDAS – Os bombardeios israelenses na Faixa de Gaza, incluindo uma escola que abrigava centenas de refugiados, mataram pelo menos 50 pessoas nesta segunda-feira (26), agravando a crise humanitária marcada pela fome que ameaça meio milhão de pessoas, informaram agências das Nações Unidas.

Um relatório da Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina (UNRWA) indicou que os abrigos “estão lotados com pessoas deslocadas que buscam desesperadamente segurança” diante dos bombardeios constantes.

“Muitas famílias se refugiam em prédios abandonados, inacabados ou danificados. As condições sanitárias são terríveis; em alguns casos, centenas de pessoas precisam compartilhar um único banheiro. Outras, incluindo crianças e mulheres grávidas, dormem ao ar livre”, exemplificou o relatório da UNRWA.

James Elder, porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), afirmou que “são 11 semanas sem que nada entre na Faixa de Gaza: nem alimentos, nem remédios, nada além das bombas”.

“E hoje, uma semana depois que finalmente foi permitida novamente a entrada de ajuda vital em Gaza, a quantidade dessa ajuda é dolorosamente insuficiente”, acrescentou Elder.

Duzentos caminhões com alimentos, suprimentos e medicamentos conseguiram entrar nos últimos dias, após autorização das autoridades israelenses, mas sem conseguir alcançar toda a Faixa (365 quilômetros quadrados, às margens do Mediterrâneo) e pontos críticos que necessitam desesperadamente de comida e atendimento médico.

As agências da ONU insistem que pelo menos entre 500 e 600 caminhões devem conseguir entrar em Gaza diariamente para atender as necessidades da população, como acontecia antes de 7 de outubro de 2023.

Nessa data, a milícia islamista Hamas atacou o sul de Israel, matando cerca de 1.200 pessoas e fazendo 250 reféns. Em resposta, Israel desencadeou uma ofensiva militar em larga escala que já matou pelo menos 53.700 palestinos e feriu outros 122.000.

A maioria das moradias e quase toda a infraestrutura de serviços na Faixa foi destruída ou inutilizada, e cerca de 90% da população teve que deixar suas casas em busca de abrigo, várias vezes no caso de milhares de famílias.

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Os habitantes de Gaza continuam em “risco crítico de fome”, segundo alertaram especialistas em segurança alimentar apoiados pela ONU. Eles estimaram que 500 mil pessoas, uma em cada cinco na Faixa, enfrentam a inanição.

De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em Gaza restam menos de 5% das terras cultiváveis disponíveis. A população também não tem permissão para pescar.

Em abril de 2024, mais de 80% da superfície total de cultivo da Faixa havia sido danificada (12.537 hectares de 15.053) e os agricultores não conseguiam acessar 77,8%, deixando apenas 688 hectares (4,6%) disponíveis para o plantio.

No campo político e diplomático, a mídia israelense relata que os Estados Unidos estariam pressionando Israel para acabar com a guerra na Faixa.

Em sua declaração mais recente sobre o assunto, o presidente americano Donald Trump disse que “temos conversado com eles (Israel) e queremos ver se conseguimos parar toda essa situação o mais rápido possível”.

A imprensa também divulga versões contraditórias sobre se a milícia Hamas aceitou ou não uma proposta do enviado americano para tratar do conflito, Steven Witkoff, para libertar reféns em troca de um novo cessar-fogo, como o que vigorou desde 15 de janeiro passado até meados de março.

Finalmente, também relatam advertências de ministros israelenses à França e ao Reino Unido no sentido de que, se reconhecerem um Estado palestino, Israel poderia anexar definitivamente partes da Cisjordânia, o outro território onde vivem três milhões de palestinos.

*Imagem em destaque: Menina em um abrigo na Faixa de Gaza tenta retirar os restos de comida do fundo de uma panela comunitária. Crédito: ONU

Publicado originalmente em IPS – Inter Press Service

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