Fome ameaça o norte de Gaza

Fome ameaça o norte de Gaza

Por Correspondente de IPS

NAÇÕES UNIDAS – Cerca de 75 mil pessoas estão ficando sem água e alimentos no norte da Faixa de Gaza, e sobre elas paira o risco urgente de fome, a fase mais grave da insegurança alimentar, alertaram novamente, nesta quarta-feira (13), 13 agências das Nações Unidas.

As condições em toda a Faixa, sob a ofensiva militar israelense, “não são adequadas para a sobrevivência humana, enquanto os combates continuam e as autoridades israelenses bloqueiam a ajuda humanitária no norte”, disse Joyce Msuya, secretária-geral interina da Oficina de Assuntos Humanitários da ONU (Ocha).

Relatos da imprensa informam que, durante o dia, as forças israelenses aprofundaram sua incursão na cidade de Beit Hanoun, no norte; ao menos 22 pessoas morreram e vários milhares foram forçados a se deslocar para o sul da Faixa.

Desde o início do conflito, em 7 de outubro de 2023, morreram pelo menos 43.500 palestinos, a maioria civis, mais de 100.000 ficaram feridos e praticamente todos os 2,3 milhões de habitantes da região estão enfrentando condições extremas de sobrevivência em meio a ataques e bombardeios.

Israel atacou esse território vizinho, uma faixa de 365 quilômetros quadrados às margens do Mediterrâneo, após a incursão da milícia islâmica Hamas no sul de Israel, que resultou na morte de cerca de 1.200 pessoas, milhares de feridos e 250 pessoas sequestradas.

A destruição da infraestrutura em Gaza e a obstrução do acesso à ajuda humanitária têm subjugado sua população, e o castigo tem sido sentido com mais intensidade na zona norte, em meio a acusações de que Israel pretende erradicar a população de Gaza para depois tomar controle desse território.

No entanto, em todo o enclave, “os mercados estão em decadência e mal existem alimentos frescos, como carne ou ovos. De maneira geral, os preços de qualquer alimento disponível atingiram níveis recordes”, de acordo com um relatório do Programa Mundial de Alimentos (PMA).

Segundo a Ocha, em seu relatório desta quarta-feira, “todos os esforços da ONU para acessar as áreas sitiadas da província norte de Gaza com missões de alimentos e saúde para apoiar as dezenas de milhares de pessoas que permanecem lá foram negados ou impedidos” pelas forças israelenses.

A agência informou que até 130.000 pessoas foram deslocadas do norte de Gaza em meio à intensificação dos ataques israelenses e ordens repetidas de evacuação, e aqueles que fugiram de Beit Hanoun agora se abrigam em escolas inseguras que podem desabar a qualquer momento.

Somente em outubro, o Fundo das Nações Unidas para a Infância registrou 64 ataques a escolas, a maioria delas abrigando pessoas deslocadas.

De acordo com estimativas das agências da ONU, 79% de todo o território habitado de Gaza está sob ordens de evacuação, ou seja, os habitantes devem se deslocar para outras áreas da Faixa, pois nas zonas sob alerta ocorrerão operações militares das forças de Israel.

Além dos ataques às zonas de refúgio dos civis, a Organização Mundial da Saúde (OMS) segue registrando ataques aéreos contra instalações e pessoal de saúde, que interromperam as operações em 127 centros de saúde e oito hospitais, além de terem reduzido a funcionalidade de nove hospitais na Faixa.

Desde meados de setembro de 2024, foram registrados 44 ataques contra instalações de saúde, que resultaram na morte de 91 pessoas e 63 feridos, elevando o total de ataques a serviços de saúde para 103 incidentes, que resultaram em 145 mortos e 123 feridos desde 8 de outubro de 2023.

“Mais de 155.000 mulheres grávidas e mães de primeira viagem estão presas em uma luta implacável marcada pelo esgotamento, trauma e fome severa”, lamentou o Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa).

Por fim, a Ocha comunicou que os esforços para ampliar a resposta humanitária no sul e centro de Gaza continuam sendo dificultados pelas hostilidades, pelo aumento da insegurança e pela obstrução do acesso.

Mais de 100 cozinhas que produzem cerca de 400.000 refeições por dia no centro e sul da Faixa estão em risco constante de fechamento.

*Imagem em destaque: Palestinos buscam alimentos em um posto de assistência na Faixa de Gaza. Crédito: Abas Mohammed / Ifpri

**Publicado originalmente em IPS – Inter Press Service | Tradução e revisão: Marcos Diniz

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