ONU condena assassinato de jornalistas por Israel

ONU condena assassinato de jornalistas por Israel

NAÇÕES UNIDAS – As forças israelenses mataram na segunda-feira, dia 25, cerca de vinte pessoas — entre elas cinco jornalistas — durante um ataque ao hospital Nasser, no sul da Faixa de Gaza, o que foi claramente condenado pelo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.

“Esses assassinatos recentes e terríveis destacam os riscos extremos enfrentados por profissionais de saúde e jornalistas ao realizarem seu trabalho vital em meio a este conflito brutal”, afirmou Guterres em uma declaração lida por seu porta-voz.

O secretário-geral da ONU “lembra que os civis, incluindo os profissionais de saúde e os jornalistas, devem ser respeitados e protegidos em todos os momentos. Ele também exige uma investigação rápida e imparcial sobre esses assassinatos”, detalhou Stephan Dujarric em sua coletiva diária à imprensa.

Ele ressaltou que os profissionais de saúde e os jornalistas devem poder exercer suas funções essenciais sem interferências, intimidações ou danos, em total conformidade com o direito internacional humanitário.

“O secretário-geral reitera seu apelo por um cessar-fogo imediato e permanente, por acesso humanitário irrestrito em toda Gaza e pela libertação imediata e incondicional de todos os reféns” mantidos pelos grupos islâmicos Hamas e Jihad Islâmica.

Segundo relatos da imprensa local, um drone israelense explodiu no telhado do hospital, e sua detonação matou várias pessoas, incluindo um jornalista.

Quando outros repórteres e socorristas chegaram ao local, ocorreu um segundo bombardeio que matou cerca de 20 pessoas e deixou cerca de 50 feridos, entre socorristas, jornalistas, profissionais de saúde e pacientes.

É comum que jornalistas em Gaza fiquem próximos aos hospitais para ter acesso à eletricidade e à internet nessas áreas.

Os jornalistas mortos foram:

  • Hussam al-Masri, fotógrafo que trabalhava para a agência britânica Reuters;
  • Mohammed Salama, fotojornalista da rede de TV árabe Al Jazeera;
  • Mariam Abu Deqa, jornalista que trabalhava para a agência norte-americana Associated Press;
  • Moaz Abu Taha, jornalista da rede americana NBC;
  • Ahmed Abu Aziz, que atuava para diversos meios árabes.

O bombardeio ao hospital Nasser ocorreu duas semanas após um ataque israelense que matou cinco comunicadores nas imediações do hospital Al Shifa, na Cidade de Gaza, ao norte da Faixa.

Segundo dados extraoficiais, com essas mortes já são mais de 240 os jornalistas e trabalhadores da mídia mortos desde o início da ofensiva israelense nesse território palestino, em 7 de outubro de 2023, após os ataques liderados pelo Hamas no sul de Israel.

Naquela ocasião, cerca de 1.200 pessoas morreram em Israel e outras 250 foram feitas reféns. Mais de 22 meses de guerra em Gaza deixaram mais de 62 mil mortos, mais de 140 mil feridos e reduziram a escombros grande parte da área de 365 km², onde vivem 2,2 milhões de pessoas.

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Em um comunicado, o Exército israelense reconheceu que suas forças “atiraram na área do hospital” Nasser, e anunciou uma investigação. O texto lamentou qualquer dano causado a “pessoas não envolvidas” no confronto, e acrescentou que “Israel não ataca jornalistas apenas por exercerem sua profissão”.

Philippe Lazzarini, comissário-geral da Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (Unrwa), afirmou que “as últimas vozes que informam sobre crianças morrendo em meio à fome continuam sendo silenciadas”.

“Mais jornalistas assassinados hoje. A indiferença e inação do mundo são chocantes”, lamentou Lazzarini em uma publicação na rede social X.

Para o responsável da Unrwa, “a negação é a expressão mais obscena da desumanização”, e por isso “é hora de o governo de Israel parar de promover uma narrativa diferente”.

O governo israelense deve permitir “que organizações humanitárias prestem assistência sem restrições e que jornalistas internacionais informem de forma independente a partir de Gaza. Cada hora conta”, enfatizou Lazzarini.

Por sua vez, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, manifestou sua indignação pelo ataque ao hospital e destacou que, enquanto a população de Gaza sofre com a fome, seu já limitado acesso à saúde é ainda mais comprometido por ataques repetidos.

“Não podemos dizer isso com força suficiente: parem os ataques à assistência médica! Cessar-fogo já!”, enfatizou Tedros.

A presidente da Federação Internacional de Jornalistas, Dominique Pradalié, afirmou que “os jornalistas em Gaza deram suas vidas em defesa da liberdade de imprensa, e Israel os ataca porque quer silenciar a cobertura do massacre que está em curso”.

Louise Bachelet, diretora de projetos da organização Repórteres Sem Fronteiras, condenou os ataques israelenses contra jornalistas e disse que “são ações deliberadas para impedir que a verdade seja transmitida ao mundo”.

Já a Associação de Jornalistas Estrangeiros em Israel e Palestina expressou profunda preocupação com o número elevado de jornalistas assassinados em Gaza sem qualquer justificativa e exortou a comunidade internacional a tomar medidas urgentes para garantir a proteção dos profissionais de imprensa.

Este texto foi publicado originalmente pela Inter Press Service (IPS)

Na imagem, os jornalistas abatidos enquanto cobriam o bombardeio de um hospital em Gaza: Mariam Abu Daqa, da agência AP; Mohammed Salama, da cadeia de televisão árabe Al Jazeera; Ahmed Abu Aziz, do veículo árabe Quds; Hussam al-.Masri, da agência Reuters, e Moaz Abu Taha, da NBC News. Mais de 240 jornalistas e outros trabalhadores da mídia foram mortos na cobertura do atual conflito israelense-palestino. Imagem: AJ

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