Declaração da reunião dos membros do Conselho Internacional do Fórum Social Mundial

COTONOU – BENIM – Neste 30 de julho, concluímos os trabalhos do Conselho Internacional do Fórum Social Mundial em Cotonou, Benim, e enviamos uma mensagem de orgulho e solidariedade a todos os movimentos sociais e solidários que, ao redor do mundo, expressaram seu apoio ao povo palestino em sua luta contra todas as formas de colonialismo, ocupação e apartheid.
Condenamos com a maior firmeza a guerra genocida, os deslocamentos forçados, o bloqueio, os assassinatos e a fome impostos pela ocupação israelense ao povo palestino — uma política sustentada por décadas pelos Estados Unidos e outras potências ocidentais, em uma cumplicidade hoje mais evidente do que nunca.
Diante dessa guerra prolongada, a comunidade internacional falhou: não interrompeu a ofensiva em curso, nem condenou o genocídio em andamento — o mais horrível desde a Segunda Guerra Mundial. As tentativas de envio de ajuda médica e humanitária foram bloqueadas, e nenhuma medida eficaz foi tomada para suspender o fornecimento de armas ao exército de ocupação. Esse silêncio e inação revelaram o colapso do sistema multilateral herdado do pós-guerra e sua incapacidade de agir em um mundo agora dominado por uma ideologia capitalista global.

E, no entanto, essa guerra radicalizou as consciências. Ela fortaleceu, nos movimentos sociais do Norte e do Sul, a convicção de que o futuro de um novo e justo mundo começa com a Palestina. A vitória do movimento de libertação nacional palestino se tornou o símbolo da justiça global. As convergências recentes entre as lutas políticas, sindicais, feministas, ecológicas, antirracistas e decoloniais, promovidas principalmente pelos jovens do mundo, marcaram um ponto de inflexão significativo. Elas geraram uma esperança real para os povos e um medo visível nas forças de dominação. A Palestina é hoje a bússola das forças de mudança: ela encarna uma resistência legítima e viva pelo direito à autodeterminação, e ao mesmo tempo revela a persistência das políticas coloniais e racistas, bem como as novas formas de hegemonia cultural.
O genocídio em Gaza, e mais amplamente a opressão contínua do povo palestino desde 1948, refletem a ausência gritante de uma ordem mundial justa e o aumento preocupante das tensões religiosas, identitárias e raciais. Nosso apoio ao direito legítimo de resistir à ocupação está inserido em um desejo profundo: o de construir uma ética e um espírito de resistência civil mundial, transnacional e transcultural, para um mundo justo, do qual a Palestina é a primeira porta de entrada.
Essa luta está enraizada nos princípios fundadores do Fórum Social Mundial: a luta contra o neoliberalismo, a dominação colonial, pelos direitos dos povos, das minorias, dos cidadãos e pelos valores universais de solidariedade humana.
Pensando com uma dor compartilhada nas dezenas de milhares de vítimas de Gaza, lembramos os crimes cometidos contra o povo palestino há mais de 75 anos. Afirmamos, diante do mundo, que o Estado de Israel, apoiado pelas potências hegemônicas, constitui hoje uma grave ameaça para toda a humanidade. A magnitude do desastre é sem precedentes: as portas do inferno permanecem abertas não apenas em Gaza, mas em todos os territórios palestinos ocupados.
Afirmamos que a Palestina não luta apenas pela sua própria libertação, mas também pela nossa. A causa palestina coloca à prova e questiona os valores democráticos, os direitos humanos e os princípios da justiça internacional. Ela revela a parcialidade explícita das potências dominantes a favor do estado de ocupação e sua negação sistemática dos direitos palestinos desde a Nakba de 1948.
Em resposta a isso, nós, os membros do Conselho Internacional do Fórum Social Mundial reunidos em Cotonou, fazemos um apelo solene a:
- Um cessar-fogo imediato e permanente;
- O levantamento total do bloqueio imposto a Gaza;
- A entrada livre e suficiente de ajuda humanitária e médica;
- O fim imediato das agressões dos colonos na Cisjordânia e do processo de colonização;
- O julgamento dos criminosos de guerra perante os tribunais nacionais e internacionais;
- O fortalecimento de todas as formas de boicote, sanções e desinvestimento contra a ocupação israelense;
- O desenvolvimento de mecanismos de solidariedade, responsabilidade e prestação de contas para todos aqueles que legitimaram, financiaram ou apoiaram a guerra genocida em curso.
Outro mundo é possível. Ele começa com a Palestina e o direito do povo palestino a um Estado independente sem ingerências externas.
Veja o vídeo com a fala de Rita Freire, da Ciranda Internacional, que faz parte do Conselho Internacional do FSM. Outro brasileiro presente: Damien Hazard, do Coletivo Baiano e Brasileiro do FSM, também membro do Conselho Internacional. Carlos Tibúrcio, representando a IPS, também integra o Conselho Internacional do FSM, mas participou apenas virtualmente desta reunião do Conselho Internacional do FSM.

Carlos Tibúrcio, jornalista, editor do Fórum 21 – Portal das Esquerdas; diretor da Fatoflix; membro da Comissão Facilitadora do Fórum Permanente da Intelectualidade Orgânica (do Coletivo Fórum 21 e do Movimento Geração 68); ex-Coordenador da Equipe de Discursos dos Presidentes da República, Lula e Dilma (2003-2016 – maio, golpe); Co-fundador do Fórum Social Mundial e integrante do seu Conselho Internacional.
