Ásia está 32 anos atrasada para alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU

Ásia está 32 anos atrasada para alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU

Por Correspondente da IPS

BANGCOC – A região da Ásia e Pacífico só deve alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) em 2062, 32 anos após o prazo inicial de 2030. A preocupante projeção foi revelada nesta terça-feira, 18, em um relatório das Nações Unidas.

“Nosso compromisso inabalável é vital, já que o progresso em direção aos ODS continua desigual e insuficiente em toda a região”, declarou Armida Salsiah Alisjahbana, secretária executiva da Comissão Econômica e Social para Ásia e Pacífico (Cespap) da ONU, ao apresentar o relatório.

“Os dados detalhados mostram a urgência de enfrentar as desigualdades que afetam grupos marginalizados, incluindo mulheres, meninas, populações rurais e pobres urbanos, que seguem excluídos das oportunidades de educação e emprego”, ressaltou Alisjahbana.

Considerando os 58 Estados e territórios cobertos pela Cespap (excluindo as nações árabes no sudoeste do continente), o atraso de 32 anos “exige esforços adicionais em todas as áreas”, acrescentou.

Os 17 ODS, adotados por líderes mundiais em 2015, focam em acabar com a pobreza extrema e a fome, garantir acesso à água potável e saneamento, e fornecer educação universal de qualidade até 2030. Também incluem o desenvolvimento de energia acessível e limpa, ação contra mudanças climáticas e proteção da vida marinha e dos ecossistemas terrestres.

O progresso regional em vários ODS é considerado muito lento, especialmente em consumo e produção responsáveis (ODS12), educação de qualidade (ODS4) e trabalho decente e crescimento econômico (ODS8). Os principais obstáculos incluem o aumento dos subsídios aos combustíveis fósseis, o baixo desempenho dos estudantes em leitura e matemática e os padrões insustentáveis de produção.

As tendências negativas nos indicadores ambientais, como benefícios econômicos da pesca sustentável e degradação do solo, dificultam o progresso na vida marinha (ODS14) e vida terrestre (ODS15). O retrocesso na ação climática (ODS13) foi impulsionado pela vulnerabilidade da região a desastres e pelas contínuas emissões de gases de efeito estufa, que representam metade da poluição global.

Em contrapartida, a região alcançou avanços notáveis em indústria, inovação e infraestrutura (ODS9) e em saúde e bem-estar (ODS3), impulsionados pelo maior acesso a redes móveis e melhorias significativas na saúde materna e infantil. A falta de progresso em direção à sustentabilidade ambiental é um obstáculo fundamental ao progresso regional em direção às metas de 2030.

Das 117 metas com dados suficientes, apenas 16 devem ser alcançadas até 2030, e 18 mostram tendência negativa que exige reversão urgente. A maioria dessas 18 metas está relacionada a desafios climáticos e risco de desastres.

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Em comparação global, a região demonstrou notável progresso em vários objetivos e metas: ODS1: redução da pobreza por nível de renda; ODS2: redução da desnutrição; ODS9: volume de passageiros, carga e pequenas indústrias com empréstimo ou linha crédito; ODS12: redução de resíduos perigosos; ODS15: desaceleração da degradação do solo; e ODS16: redução do tráfico de pessoas e homicídios intencionais.

Porém, a região está muito atrasada nos ODS 8, 13, 14 e 17, sendo este último focado em parcerias internacionais e nacionais para alcançar os demais objetivos.

O relatório alerta que os países menos desenvolvidos, países em desenvolvimento, Estados sem litoral e pequenos Estados insulares da região precisam de atenção especial e podem se beneficiar de ações conjuntas em áreas prioritárias, especialmente nos ODS 12 e 13.

O documento destaca os diferentes desafios sociais enfrentados por homens e mulheres. As mulheres enfrentam problemas principalmente em educação e emprego, com menores taxas de matrícula escolar, alfabetização e mais dificuldades no mercado de trabalho, resultando em maior desemprego juvenil.

Os homens enfrentam questões ligadas à saúde e segurança pessoal, incluindo novas infecções por HIV, mortalidade por doenças, suicídio, consumo de álcool, mortes no trânsito, intoxicações e tabagismo.

As populações rurais enfrentam desvantagens significativas, como acesso limitado à água potável e saneamento básico. A falta de combustíveis limpos para cozinhar nessas áreas causa doenças respiratórias graves, especialmente em mulheres e meninas que passam mais tempo na cozinha.

As áreas urbanas apresentam melhores condições, mas as crianças mais pobres enfrentam obstáculos importantes para completar o ensino médio.

O relatório conclui que o ODS13, sobre ação climática, precisa de maior atenção, pois todas suas metas estão fora do curso e algumas em retrocesso. Isso evidencia a necessidade de integrar a ação climática nas políticas nacionais, fortalecer a resiliência e melhorar a capacidade de adaptação.

Imagem em destaque: Mulheres carregam sal de uma salina até uma fábrica na região de Nha Trang, sul do Vietnã. A desigualdade de gênero, junto com uma deficiente ação pelo clima, persistem entre os elementos que mantêm a região da Ásia e Pacífico atrasada na rota para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos para 2030. Foto: Cespap-Shutterstock

**Publicado originalmente em IPS – Inter Press Service | Versão e revisão: Marcos Diniz

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