Confrontos deslocam 400 mil no Congo

Confrontos deslocam 400 mil no Congo

Por Correspondente da IPS

GENEBRA – Mais de 400 mil pessoas foram deslocadas neste mês de janeiro devido à violência no leste da República Democrática do Congo (RDC), relataram agências das Nações Unidas nesta sexta-feira, 24, alertando que um ataque à cidade cercada de Goma, com meio milhão de habitantes, seria catastrófico.

O Movimento 23 de Março (M23), principal força rebelde que atua na região, rica em minerais e localizada na fronteira com Uganda, Ruanda e Burundi, avançou na última semana pelas províncias orientais de Kivu do Norte e Kivu do Sul.

Por anos, os governos de Ruanda e da RDC trocaram acusações e negativas sobre ataques de grupos armados vindos de seus territórios, alegando ameaças à segurança nacional.

“Essa ofensiva tem efeitos devastadores sobre a população civil e aumentou o risco de uma guerra regional mais ampla”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres, em declaração escrita divulgada à imprensa.

Formado em 2012 por soldados rebeldes, o M23 conta com comandantes da etnia tutsi, no poder na vizinha Ruanda, e busca tomar o controle das províncias orientais do exército regular da RDC, que conta com o apoio de missões da ONU e da Comunidade de Estados da África Austral.

“Estamos avançando para libertar nossos compatriotas de Goma e restaurar a segurança e a dignidade do povo congolês”, declarou o porta-voz do grupo, Lawrence Kanyuka, em comunicado divulgado nas redes sociais.

A Agência de Refugiados da ONU (Acnur) informou, em Genebra, que a escalada dos combates duplicou, em uma semana, o número de pessoas deslocadas nas províncias de Kivu do Norte e do Sul.

Nas proximidades de Goma, milhares de pessoas buscaram refúgio na cidade, a principal da região, fugindo de bombardeios e tentando se abrigar em locais improvisados, o que agravou a crise humanitária.

As províncias de Kivu do Norte e do Sul já abrigam 4,6 milhões de deslocados internos. A região enfrenta um aumento nas violações de direitos humanos, como saques, ferimentos, assassinatos, sequestros e detenções arbitrárias de deslocados confundidos com rebeldes.

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Em vilarejos com poucos habitantes, como Bweremana, a 50 quilômetros de Goma, o fogo cruzado deixou ao menos 18 civis mortos.

Os hospitais estão quase lotados de feridos. Mulheres, crianças e idosos vulneráveis vivem em condições de superlotação, com acesso limitado a alimentos, água e serviços essenciais.

O acesso à ajuda humanitária é severamente restrito, com estradas bloqueadas devido à presença dos grupos em conflito.

O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (Acnudh) advertiu que “qualquer ataque a Goma pode ter consequências catastróficas para centenas de milhares de civis, aumentando sua exposição a violações e abusos de direitos humanos”.

A violência sexual é apontada como um aspecto central e devastador do conflito. Grupos armados sequestram mulheres e meninas, submetendo-as à escravidão sexual, e muitas são assassinadas após serem violentadas, destacou a porta-voz Ravina Shamdasani.

O alto comissário, Volker Türk, pediu que todas as partes do conflito evitem intensificar as tensões e garantam o respeito aos direitos humanos e ao direito internacional humanitário, sobretudo permitindo o acesso à ajuda humanitária.

Türk também exortou os Estados com influência sobre as partes em conflito a insistirem em um cessar-fogo imediato. “Qualquer apoio de Ruanda ao M23 – e de outros países a grupos armados ativos na RDC – deve cessar”, acrescentou.

*Imagem em destaque: Pessoas deslocadas pela violência no leste da República Democrática do Congo caminham em direção à cidade de Goma em busca de abrigo. Foto: Francis Mweze / Ocha

**Publicado originalmente em IPS – Inter Press Service | Tradução e revisão: Marcos Diniz

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