A Europa diante de Trump

A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2024 trouxe consigo grandes preocupações na Europa. Os líderes do continente discutem uma frente unida para enfrentar os problemas que lhes esperam a partir de 20 de janeiro, dia marcado para a posse do presidente americano.
As perspectivas da Europa diante do novo governo Trump vêm marcadas de incertezas e turbulências. Entre as principais preocupações encontra-se o impacto nas relações comerciais. Trump prometeu impor tarifas de 10% a 20% sobre todas as importações, incluindo produtos europeus. Um quadro sombrio para o continente, pois poderia desencadear uma guerra comercial envolvendo setores cruciais para a economia europeia, como o automobilístico, o farmacêutico e o de máquinas, o que conduziria a economia da zona do euro a uma forte recessão.
A Europa encontra-se, portanto, num momento em que busca equilibrar a manutenção de laços com os EUA e a necessidade de proteger seus próprios interesses. A unidade e a capacidade de resposta coordenada serão armas para enfrentar as ameaças do novo governo Trump. Os próximos anos vão exigir diplomacia habilidosa, resiliência econômica e visão estratégica para um novo contexto internacional.
Ucrânia
A possibilidade de redução da ajuda americana à Ucrânia é uma preocupação, pois uma mudança na política dos EUA em relação ao conflito poderia ter implicações geopolíticas para o continente europeu. Os líderes europeus já se pronunciaram enfatizando a necessidade de maior autonomia estratégica para fortalecer a capacidade de defesa europeia e reduzir a dependência dos EUA.
Economistas preveem que as políticas de Trump poderão ter um forte impacto na já frágil economia da zona do euro. A Alemanha, em particular, pode enfrentar consideráveis perdas no PIB diante das anunciadas tarifas americanas e levar o Banco Central Europeu a acelerar o corte de taxas de juros.
As estratégias
Para manter a estabilidade econômica diante das políticas protecionistas anunciadas por Trump, a União Europeia pretende diversificar suas parcerias comerciais para reduzir a dependência do mercado americano. Fortalecer laços comerciais com outras economias importantes, como as da China, Índia e países do Sudeste Asiático, e acelerar negociações de acordos comerciais com outros blocos econômicos.
Para manter competitividade, a Europa precisaria aumentar o investimento em pesquisa e desenvolvimento e fomentar a criação de empresas de tecnologia de ponta capazes de atuar globalmente e com eficiência. Na agenda está o foco no desenvolvimento e consolidação do mercado interno europeu e assim reduzir a exposição a choques externos. Isso significa estimular o consumo doméstico e promover políticas de crescimento de empresas europeias. O Banco Central Europeu (BCE) precisará ajustar sua política monetária para amortecer os impactos das medidas protecionistas, fazendo cortes nas taxas de juros para estimular a economia e adotar medidas de estímulo econômico.
Defesa
Para atender às demandas de Trump, os países da Europa serão levados a atingir a meta de 2% do PIB em gastos com defesa para fortalecer a OTAN e desenvolver capacidades de defesa autônomas. Ao mesmo tempo, a UE deve se preparar para conduzir negociações comerciais duras com os EUA e prever também estratégias de retaliação comercial.
Uma guerra tarifária com os EUA afetaria principalmente a indústria de automóveis, vulnerável especialmente na Alemanha, que é a maior exportadora da UE para os EUA, com mercadorias avaliadas em US$ 171,8 bilhões em 2023. As exportações de veículos da UE para os EUA sofrerão quedas junto com o setor de maquinaria e equipamentos, além de produtos químicos, farmacêuticos e agrícolas.
Tarifas de 10% aplicadas por Trump nos Estados Unidos reduziriam em 0,3% o PIB da França, em 0,4% o da Itália e em 0,2% o da Espanha. Segundo os economistas, a dependência dos EUA de importações da China seria responsável pelo aumento da inflação no país. O fortalecimento do dólar prejudicaria os mercados emergentes como o Brasil, e a retaliação dos países prejudicados pelo protecionismo americano reduziria ainda mais o crescimento econômico global.
Afastamento
Na área da política e da diplomacia, os observadores preveem o afastamento ideológico entre os Estados Unidos e a União Europeia diante das críticas de Trump ao multilateralismo europeu. Espera-se o possível apoio do governo americano aos movimentos eurocéticos e nacionalistas que ameaçam o projeto da UE, além de tensões diplomáticas diante da postura de “America First”.
Cresce ainda a preocupação de uma nova retirada dos EUA do Acordo de Paris e o aumento da exploração de combustíveis fósseis, afetando políticas climáticas globais.
O governo Trump representaria, enfim, um desafio para a UE, exigindo uma possível reformulação das relações transatlânticas e maior autonomia europeia em questões de comércio, defesa e política externa. De seu lado, Trump critica a União Europeia por sua dependência dos EUA na segurança e defesa, de aproveitar-se dos EUA em acordos comerciais e de fracas políticas de imigração. Trump vê a UE como excessivamente burocrática e reguladora, acusando-a de falta de contribuição adequada para a OTAN, e exigindo o aumento de gastos com defesa para atingir a meta de 2% do PIB de todos os países europeus.
*Imagem em destaque: Reprodução/FMT

Poeta, articulista, jornalista e publicitário. Traballhou no Diário de Minas como repórter, na Última Hora como chefe de reportagem e no Correio de Minas como Chefe de Redação antes de se transferir para a publicidade, área em que se dedicou ao planejamento e criação de campanhas publicitárias. Colaborou com artigos em Carta Maior e atualmente em Fórum 21. Mora hoje no Porto, Portugal.
É autor de Poente (Editora Glaciar, Lisboa, 2022), Dezessete Poemas Noturnos (Alhambra, 1992), O Último Número (Alhambra, 1986), O Itinerário dos Emigrantes (Massao Ohno, 1980), A Região dos Mitos (Folhetim, 1975), A Legião dos Suicidas (Artenova, 1972), Processo Penal (Artenova, 1969) e Texto e a Palha (Edições MP, 1965).